Por Robson T. Fernandes
Resumo
O presente artigo
versa sobre a origem e características dos grupos judaicos do 1º século, e suas
influências na sociedade da época. O autor demonstra que a origem de tais
grupos se dá em um contexto de reação contra o misticismo e ameaça da
existência do judaísmo e que ora tem motivações políticas, ora religiosas, ora
filosóficas. Ainda, se por um lado a sinagoga é criada como instrumento de
preservação do judaísmo, por outro é uma das responsáveis pela facilitação do
surgimento dos diversos grupos judaicos. Dessa forma, as sinagogas eram
utilizadas como plataforma nas quais os grupos propagavam suas opiniões ao
discordarem dos dirigentes do Templo. Por último, o autor demonstra que os
grupos judaicos do 1º século mudaram a essência da fé judaica, e por isso, se
por um lado surgiram com o intuito de preservar a fé judaica, por outro lado
foram exatamente os responsáveis por fazer com que a fé judaica original se
tornasse diferente desse judaísmo. Por isso, modificaram aquilo que tanto desejavam
preservar.
Introdução
As hostilidades
contra o cristianismo primitivo eram comuns, especialmente por parte da
comunidade judaica do primeiro século. Inicialmente por parte dos fariseus, que
eram um partido religioso, e dos saduceus, que eram um partido político-religioso.
Dessa forma, fica claro a existência de grupos judaicos distintos, entre os
quais se vê a representação tanto da opinião e posicionamento escriturístico de
seus integrantes bem como de suas ideologias filosófico-políticas.
Todavia, para
prosseguirmos é necessário fazermos uso de algumas fontes primárias, a exemplo
de Flávio Josefo [1]. A importância deste historiador é de tal importância que
o Dr. Augustus Nicodemus declara que “como historiador judeu, as obras de
Josefo são inestimáveis para o nosso conhecimento da história dos judeus
debaixo do domínio romano” [2].
Dessa forma, são
três os grupos judaicos citados por Flávio Josefo, no aspecto filosófico: Existem, com
efeito, entre os judeus, três escolas filosóficas: os adeptos da primeira são os
fariseus; os da segunda, os saduceus; os da terceira, que apreciam justamente
praticar uma vida venerável, são denominados essênios: são judeus pela raça,
mas, além disso, estão unidos entre si por uma afeição mútua maior que a dos
outros. [3] Quando observamos o aspecto filosófico do judaísmo, encontramos três
grupos, como fez Josefo – Fariseus, Saduceus e Essênios. Porém, quando
observamos o aspecto étnico encontramos os samaritanos que são uma miscigenação
de judeus e gentios, e os herodianos que possuíam um laço consanguíneo com
Herodes, o Grande. Ainda, haviam os zelotes que eram um grupo político do
século I que buscava promover uma rebelião contra o Império Romano, com o
intuito de libertar Israel pela força e que termina por promover a Primeira Guerra
Judaico-Romana (66-70).
Ainda, outros
grupos são encontrados entre os judeus, a exemplo dos sicários e dos
publicanos.
Os Sicários eram
um subgrupo oriundo dos zelotes, porém, mais radicais. O termo é originário do
latim ‘sicarius’ e significa ‘homem da adaga’. Essa expressão só surge algumas
décadas após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., de acordo com
Kippenberg, que afirma, ainda, que o termo “foi a denominação dada ao movimento
revolucionário rural da Judéia” [4] e já o termo zelotes se referia a “um
movimento sacerdotal” [5], isto é, de cunho mais religioso. Por essa razão, o
grupo dos Sicários não será tratado em particular neste artigo, pois são uma
subdivisão dos zelotes.
Os Publicanos eram
os coletores de impostos nas províncias do Império Romano. De acordo com
Buckland [6], haviam dois tipos de Publicanos: os Publicanos Gerais e os
Publicanos Delegados. Os Publicanos Gerais respondiam ao imperador romano e
eram responsáveis pelos impostos. Os Publicanos Delegados eram aqueles que eram
comissionados pelos Gerais para coletar os impostos nas províncias. Estes eram
considerados como “ladrões e gatunos”. Muito embora fossem odiados pelos seus
compatriotas, os judeus, Buckland afirma que diferentemente dos fariseus, os
Publicanos não eram hipócritas.
Como os Publicanos
são mais uma “profissão” do que um grupo filosófico-político-religioso ele não
será tratado em particular neste artigo.
Diante do quadro
apresentado é importante se estudar cada um desses grupos de forma separada,
para depois se montar o quadro político-religioso geral da nação. Por último,
buscar aprender com a história para que não se cometam os mesmos erros outra
vez.
1. Os Fariseus
Em geral,
atribui-se o surgimento do farisaísmo ao período correspondente ao cativeiro
babilônico (587-536 a.C.). E, basicamente, toda a informação acerca desse grupo
é oriunda das obras do historiador Flávio Josefo [7], dos diversos escritos dos
rabinos, por volta do séc. II, e das informações contidas no Novo Testamento.
Muito embora se
atribua ao termo ‘fariseu’ o sentido de ‘separado’ este significado não é uma
certeza. Porém, sabe-se que era o grupo mais seguro da religião judaica (At
26:5), e que surgiu por volta da guerra dos macabeus, com a finalidade de
oferecer resistência ao espírito helênico trazido por Roma e que possuía, em
seu interior, a intenção de preservar o judaísmo e suas crenças ortodoxas.
Muito embora, Enéas Tognini declare que “há dois grupos terrivelmente
antagônicos desses “fariseus”: separatistas e liberais. O primeiro se opunha
terminantemente às influências helenísticas na Palestina [8], enquanto o
segundo era favorável” [9].
Um dos fatores que
mais colaborou para a organização deste partido foi a perseguição promovida por
Antíoco Epifânio. Porém, Flávio Josefo declara que foi sob a influência de João
Hircano [10] que os fariseus passaram a desfrutar do apoio do povo em geral
[11].
Ainda, segundo
citação de Tognini [12] sobre Josefo, os fariseus criam no livre-arbítrio do
homem, na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo, na existência de
anjos, na direção divina de todas as coisas, nas recompensas e castigos na vida
futura, na preservação da alma humana após a morte e na existência de espíritos
bons e maus. Contudo, Jesus denunciou severamente este grupo por causa de sua
hipocrisia e orgulho. Em linhas gerais, podemos afirmar que este grupo surgiu por uma boa
razão, mas seus objetivos foram desvirtuados no decorrer do tempo,
especialmente porque não se deve apenas adquirir o conhecimento ou defendê-lo,
mas colocá-lo em prática.
Por essa razão, o
termo fariseu tornou-se sinônimo de hipócrita. Tanto que o próprio Jesus
afirma: “… tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais
conforme as suas obras; porque dizem e não praticam” (Mt 23:3). Ao extrairmos os
ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos iniciar uma maratona de
cautela e vigilância, porque a defesa da fé deve ser feita alicerçada no amor
bíblico e não em bases religiosas fanáticas e desprovidas do biblicismo
necessário. Por outro lado, a prática da Lectio Divina [13] precisa ser
reensinada na Igreja, para que assim o sistema educacional eclesiástico na
hipermodernidade [14] volte a ensinar para o povo a Teologia Bíblica aliada à
vida devocional, o que nos auxiliará a não cair em um neo-farisaísmo.
2. Os Saduceus
Era o grupo que
fazia oposição aos fariseus.
O surgimento desse
grupo traz alguma controvérsia, pois as suas origens são desconhecidas. Alguns
acreditam que deve ter surgido com Zadoque, um sacerdote do período do rei
Davi. Este grupo era mais sacerdotal e aristocrático e, sendo mais fechado,
não fazia questão de popularização. Ainda, Schubert [15] afirma que de 539 a.C.
(período do domínio persa), até o período de Alexandre, o Grande, as famílias
dos sumo sacerdotes se mostravam complacentes com os vizinhos pagãos, vivendo
em harmonia com os povos helênicos. Era um grupo composto por homens educados, ricos e de boa posição
social. Em geral, tinham crenças opostas a dos fariseus. De acordo com
Schubert, ao citar Josefo, os saduceus negavam a ressurreição e juízo futuro,
criam que a alma morria com o corpo, negavam a imortalidade, negavam a
existência dos anjos e dos espíritos, criam que Deus não intervinha nas vidas
dos homens, não tinham as mesmas crenças que os patriarcas, negavam a
existência do Sheol (inferno) e só depositavam a crença naquilo que a razão
pura pudesse provar. De forma geral, o Novo Testamento apresenta de forma
negativa um resumo da crença dos saduceus: “os saduceus dizem que não há
ressurreição, nem anjo nem espírito” (At 23:8).
Com isso, percebemos
que este era um grupo que interpretava as Escrituras utilizando como base os
mesmos pressupostos que futuramente passaram e ser denominados de ‘humanistas’
[16], desconsiderando o caráter divino, espiritual e sobrenatural.
Franklin Ferreira
faz a seguinte declaração acerca da crença dos saduceus: Os saduceus, com o
seu repúdio à doutrina da ressurreição e descrença na existência de seres
angelicais, podem ser considerados como precursores dessa corrente de
interpretação das Escrituras. Pouco se sabe sobre a origem desse partido
judaico, mas parece haver adotado uma posição secular-pragmática de
interpretação das Escrituras. Ao negarem verdades básicas das Escrituras, os
saduceus podem ser considerados, guardadas as devidas proporções, como os modernistas
ou liberais da época. [17]
Por isso,
conclui-se que enquanto os fariseus eram os conhecedores da Escritura, mas
hipócritas, os saduceus eram os líderes, mas mercenários e humanistas, no uso
geral do termo. Por causa de suas atitudes venais e suas más práticas começaram
a se tornar impopulares. A influência dos saduceus era grande, mas sua
fidelidade a Deus mínima. A riqueza dos saduceus era grande, mas sua
integridade mínima. A influência política e religiosa dos saduceus era grande,
mas seu caráter era mínimo. Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos
concluir que há uma profunda semelhança na sociedade hipermoderna com os
saduceus, já que presenciamos uma diversidade de líderes religiosos que têm se
prostituído por causa de benefícios financeiros, status e vantagens pessoais.
3. Os Samaritanos
Atribui-se a
origem dos samaritanos a ocasião quando Sargom tomou Samaria para o cativeiro e
tentou desnacionalizá-los misturando-os com os babilônios (IIRs 17:24). Talvez
esse tenha sido um dos motivos pelos quais os outros judeus abominavam os
samaritanos, considerando-os a escória da sociedade. Além disso, os samaritanos
eram acusados pelos judeus de serem oportunistas, procurando ficar do lado dos
judeus apenas quando estes estavam em ascensão.
Este grupo era frequentemente ridicularizado e
desprezado pelo restante dos judeus. Joachim Jeremias [18], ao citar a obra de
Levi VII 2, afirma que “a partir de hoje Siquém será chamada a cidade dos
idiotas, porque nós zombamos deles como se zomba de um louco”. Costumeiramente,
os samaritanos adoravam no templo, porém, ao voltar do cativeiro os judeus os
proibiram de participar da reconstrução de Jerusalém, e o genro de Sambalate,
que era sacerdote, foi expulso dali por Neemias. Por não terem ‘sangue puro’,
não possuir religião judaica, por serem acusados de oportunismo, porque o
sacerdote (genro de Sambalate) foi expulso do convívio social e por serem
proibidos de participar da reconstrução, começaram a se empenhar contra a obra
que Neemias estava fazendo. Então,
Sambalate construiu um templo rival ao de Jerusalém, no monte Gerizim.
Ainda, para piorar
a situação, desde a construção deste segundo templo, a situação entre judeus e
samaritanos se agravou, e o clima de ódio e desprezo se torna cada vez maior,
como nos apresenta o livro apócrifo de Eclesiástico ao afirmar que “há dois
povos que minha alma abomina, e o terceiro, que aborreço, nem sequer é um povo:
aqueles que vivem no monte Seir, os filisteus, e o povo insensato que habita em
Siquém” [19]. Sabendo que este denominado “povo insensato que habita em Siquém”
são os samaritanos. Ainda, os samaritanos mantinham crenças semelhantes à dos saduceus. Apesar de todas as
acusações do judaísmo contra os samaritanos, encontramos diversas passagens
bíblicas, neotestamentárias, nos mostrando a pregação do Evangelho para os
samaritanos (Lc 17:16; Jo 4; At 1:8; At 8:5,14; At 9:31) e até uma conduta
destes que é contraposta à conduta do farisaísmo (Lc 10:25-37). Ao extrairmos os
ensinos que a história deste grupo nos traz, podemos concluir que o verdadeiro
evangelho não faz acepção de pessoas, e trata a todos de igual para igual,
independente dos erros passados.
4. Os Essênios
Enquanto os
fariseus se tornaram sinônimos de hipócritas e os saduceus de mundanismo, o
essênismo se torna sinônimo de isolacionismo, isto é, vida separada e afastada
de todos. Os essênios surgiram na tentativa de manter a instrução Escriturística
viva, assim como os fariseus, mas sem a hipocrisia característica desse grupo,
e a busca por uma vida de fidelidade e compromisso, diferentemente dos
saduceus. Por isso, Charles C. Ryrie afirma que o “essenismo foi uma reação
ascética ao externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos saduceus” [20]. O
problema é que eles pensavam que para se cultivar uma vida de santidade teriam
que viver isolados do mundo, em um sistema de ascetismo. Basicamente, os
essênios se dedicavam ao estudo das Escrituras, a oração e as lavagens
cerimoniais, conhecidas como banhos Mikvah. Dividiam seus bens com a comunidade
e eram conhecidos por seu trabalho e vida piedosa. Existe, ainda, a
teoria da existência de dois grupos distintos de essênios, que é apresentada na
Enciclopedia de la Biblia, que apresenta o grupo essênio de Qumran e outro,
talvez, no Egito [21]. Nos achados do Mar Morto, os manuscritos de Qumran, encontram-se
evidências de que os essênios se isolaram por desejarem abandonar as
influências corruptas das cidades judaicas. Eles se dedicaram a preparar o “caminho do
Senhor”, crendo que o Messias viria, e consideravam-se o verdadeiro Israel.
Segundo Josefo, os essênios, além de enviar suas oferendas ao templo,
realizavam seus sacrifícios de forma diferente do restante dos judeus e
acentuavam a importância da purificação [22].
Por causa dessa
diferenciação ritualística, os judeus os proibiram de sacrificar no templo, que
os mesmos essênios afirmavam estar contaminado pela impureza da religiosidade
social e judaica.
O historiador
Plínio [23], o velho, apresenta algumas características desse grupo: Na parte ocidental
do mar Morto os essênios se afastam das margens por toda a extensão em que
estas são perigosas. Trata-se de um povo único em seu gênero e admirável no
mundo inteiro, mais que qualquer outro: sem nenhuma mulher e tendo renunciado
inteiramente ao amor; sem dinheiro e tendo por única companhia as palmeiras.
Dia após dia esse povo renasce em igual número, graças à grande quantidade dos
que chegam; com efeito, afluem aqui em grande número aqueles que a vida leva,
cansados das oscilações da sorte, a adotar seus costumes (…) Abaixo desses
ficava a cidade de Engaddi, cuja importância só era inferior à de Jericó por
sua fertilidade e seus palmeirais, mas que se tornou hoje um montão de ruínas.
Depois vem a fortaleza de Massada, situada num rochedo, não muito distante do
mar Morto. [24] Ao extrairmos os ensinos que a história deste grupo nos traz, aprendemos
que para haver uma vida de santidade e dedicação não é necessário o isolamento.
A luz deve brilhar em meio as trevas e o sal deve temperar onde não há tempero.
5. Os Herodianos
Era um grupo de
judeus que acreditava na cooperação com Herodes, para haver o favorecimento dos
judeus, muito embora Herodes considerasse a si mesmo um deus vivo, tentando
helenizar Israel, exercendo forte pressão política sobre a nação judaica e
buscando corromper os costumes judaicos. Historiadores como Jerônimo,
Tertuliano, Epifânio, Crisóstomo e Teófilo revelam que os herodianos criam ser
Herodes o Messias, surgindo em defesa de Herodes para adquirir algum tipo de
benefício. Tognini [25] declara que “os herodianos eram um partido mais
político que religioso. Eram um com os saduceus em religião, divergindo apenas
em um ou outro ponto político”. E Hale [26] apresenta os herodianos como um
grupo independente e oriundo de uma ala esquerdista dos saduceus.
As informações
acerca dos herodianos são poucas, porém, Saulnier e Rolland afirmam que os
herodianos possuíam privilégios e regalias concedidas pelo governo de Herodes
[27]. Porém, parece que a finalidade política dos herodianos era se fortalecer
o suficiente para depois se desligar do poder e dependência romana, pois havia
ainda um sentimento de nacionalismo que se opunha a um poder estrangeiro, como
afirma Douglas [28].
Esse grupo se
colocava à disposição do governo romano, trabalhando como espiões que observavam
continuamente possíveis situações que poderiam trazer problemas ao governo,
como rebeliões políticas, insurreições ou movimentos messiânicos, a exemplo de
Jesus e seus discípulos, como declaram Saulnier e Rolland [29]. Ao passo que os
zelotes eram fervorosos defensores de uma rebelião, os herodianos se tornam
então seus opositores.
Ao extrairmos os
ensinos que a história deste grupo nos traz, perceberemos que existem, em todos
os períodos de tempo, aqueles que sempre estarão dispostos a sacrificar as
convicções em troca do recebimento de benefícios pessoais. Por isso, esse grupo
é caracterizado por aqueles que buscam seus próprios interesses em detrimento
do próximo, e o completo desapego das verdadeiras convicções e princípios, a
começar pelos princípios éticos e Escriturísticos. Para estes, o que mais
importa é estar ao lado daquele que lhes proporciona benefícios, pois assim
poderão experimentar os resultados trazidos pela influência e status do poder.
6. Os Zelotes
Os zelotes são um
grupo que se destaca como sendo o mais radical dentro do judaísmo. Foram os
principais responsáveis por produzirem os levantes contra Roma, provocando a
Guerra judia (66-70 d.C.), culminando na destruição de Jerusalém e do Templo.
Os zelotes tornaram-se sinônimos de ‘fervorosos’, e foram os que uniram o
fervor religioso com o compromisso social, assim como os sicários [30]. Este grupo rebelde
idealizava a vinda do Messias mediante uma ação revolucionária, que resultaria
em sua libertação das mãos opressoras de Roma e do helenismo. De acordo com
Horsley e Hanson o zelo por Deus e pela Lei de Deus não pode ser utilizado como
características para se denominar um grupo, pois de certa forma todos os grupos
judeus possuíam essa característica [31]. No entanto, o que caracteriza os
zelotes não é apenas esse zelo, tão somente, mas a manifestação desse zelo
através do desejo de revolução e luta como meio de libertação. Isso é o que o
faz diferente de outros grupos.
Conclusão
O Israel do 1º
século possuía uma gama de facções e grupos
étnico-filosófico-político-religiosos que promoviam uma nação fragmentada.
Muito embora alguns desses grupos visassem a libertação do domínio de Roma,
outros estavam imbuídos do desejo de reconhecer o governo de Roma e a Herodes
como o messias.
Se por um lado a
resistência judaica visava a preservação de sua religião e cultura contra a
tentativa de helenização e paganização de seu povo, por outro lado essa
resistência se formava em frentes que tinham interesses particulares e que se
uniam apenas em ocasiões muito especiais em prol de um objetivo comum, como no
caso da perseguição contra Jesus e Sua crucificação. Ainda, como no caso da
união e geração da Primeira Guerra Judaico-Romana, que termina quando as tropas
do general Tito sitiam e destroem a resistência judaica em Jerusalém,
resultando em um domínio romano mais acirrado.
Outros elementos foram de fundamental importância
para o judaísmo do primeiro século, e que tiveram o seu início desde o exílio
babilônico, como a sinagoga e o rabinado. Enquanto a sinagoga tinha a função de
acomodar judeus que se reuniam para orar, cantar e discutir a Torah
proporcionando assim o ensino teológico, garantindo a sobrevivência do judaísmo
(Ne 8), a figura do rabi tinha a responsabilidade de viabilizar para o povo
judeu essa transmissão realizada na sinagoga. Packer, Tenney e White Jr.
afirmam que “essas mudanças garantiram a sobrevivência do judaísmo, mas também
ajudaram a criar novas facções” [32]. O que vemos, então, é um quadro histórico pintado com grupos judeus
divididos por pensamentos e ideologias distintas, no exato momento em que surge
Jesus Cristo. Porém, para os fariseus é apresentada a mensagem de reprovação
quanto a sua hipocrisia. Para os saduceus é apresentada a mensagem de que o
amor ao mundo é inimizade contra Deus. Para os samaritanos é apresentada a
mensagem de que ninguém podia servir a dois senhores. Para os essênios é
apresentada a mensagem de que a luz deve brilhar em meio as trevas. Para os
herodianos é apresentada a mensagem de que aquele que amar a sua vida esse
perdê-la-á. Para os zelotes é apresentada a mensagem de que aquele que vive
pela espada morre por ela. Posteriormente surge outro grupo. Um grupo formado pela união de judeus
e gentios. Povos de todas as raças, tribos, línguas e nações. Povos que foram
redimidos pelo Messias e se tornaram seus seguidores em todas as partes do
globo, através dos séculos. Esse grupo perdura até os dias de hoje, e o seu
fundador, Jesus Cristo, disse: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e
as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).
NOTAS
[1] Flávio Josefo. Conhecido como Josefo, viveu por volta do ano 100 d.C. Apesar de judeu, tornou-se cidadão romano e foi um importante historiador do 1º século. Suas obras apresentam um importante quadro do judaísmo do século I.
[2] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[3] JOSEFO, Flávio. Bellum Iudaicum II, VIII, 119.
[4] KIPPENBERG, Hans. Religião e Formação de Classes na Antiga Judéia. São Paulo: Paulus, 1988, p.121.
[5] Idem. p.121
[6] BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 1981.
[7] Guerra dos Judeus (75 d.C.), Antiguidades Judaicas (94 d.C.), e Autobiografia (101 d.C.)
[8] É importante salientar que o termo ‘Palestina’ só foi cunhado por volta do ano 70 d.C. com a invasão do império romano que destruiu o templo e realizou um genocídio, na tentativa de apagar da história a memória da nação de Israel. Portanto, o termo correto aqui é Israel, e não Palestina, que se refere a uma nação que não existe, uma língua que não existe e uma cultura que não existe, mas que é fruto da tentativa do mundo árabe-islâmico de fundar o seu próprio Estado em detrimento da nação de Israel.
[9] TOGNINI, Enéas. O período Interbíblico. São Paulo: Hagnos, 2009, p.153
[10] João Hircano foi um sumo sacerdote que governou a Judéia entre 135 e 104 a.C.
[11] Josefo. Antiguidades XIII. 10.5-7.
[12] Idem, p.155
[13] A Lectio Divina consiste de: 1) Lectio – Leitura; 2) Meditatio – Meditação; 3) Oratio – Oração; 4) Contemplatio – Contemplação. Traduzindo ao pé da letra, Lectio Divina é: “Leitura Divina”. Mas também é conhecida como “Leitura Orante”. Era uma prática dos cristãos antigos, quando dedicavam um tempo exclusivo para meditar no texto da Escritura Sagrada, acompanhado de oração, meditação e oração, sempre contemplando de forma prática a mensagem do texto.
[14] Hipermodernidade é o termo criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky para delimitar o momento atual da sociedade humana.
[15] SCHUBERT, Kurt. Os Partidos Religiosos Hebraicos da época Neotestamentária. São Paulo: Paulinas, 1979, p.15,16
[16] O humanismo é uma filosofia moral que apresenta o ser humano como a medida de todas as coisas. Isto é, o homem é o centro de tudo. Portanto, a ideia é contrapor-se a qualquer ser ou coisa de cunho sobrenatural. Surgindo por volta do século XIX é uma das heranças do Iluminismo do século XVIII, e é um dos pressupostos do ateísmo.
[17] FERREIRA, Franklin. Apostila de Hermenêutica. Rio de Janeiro: STBSB, 1999, p.12,13.
[18] Joachim Jeremias foi um teólogo Luterano alemão e professor de Novo Testamento e faleceu em 1979.
[19] Eclesiástico 50:27,28
[20] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994, p.1659.
[21] Enciclopedia de la Biblia, v.3, p.143-150.
[22] Antiguidades Judaicas. XVIII, 19.
[23] Gaius Plinius Secundus foi um historiador romano que escreveu Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas composto por 37 volumes e dedicado a Tito Flávio, que viria a ser imperador de Roma.
[24] PLÍNIO, O Velho. Naturalis Historia. v. 73.
[25] Idem, p.167.
[26] HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001, p.20.
[27] SAULNIER, Christiane & ROLLAND, Bernard. A Palestina nos tempos de Jesus. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 1983, p.83.
[28] DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.712.
[29] Idem, p. 83.
[30] Uma explicação sobre os sicários é realizada na Introdução deste artigo.
[31] HORSLEY, Richard A. & HANSON, John S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995, p.166.
[32] PACKER, J. I.; TENNEY, Merril C.; WHITE, William. O Mundo do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 1991, p.82.
[2] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[3] JOSEFO, Flávio. Bellum Iudaicum II, VIII, 119.
[4] KIPPENBERG, Hans. Religião e Formação de Classes na Antiga Judéia. São Paulo: Paulus, 1988, p.121.
[5] Idem. p.121
[6] BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 1981.
[7] Guerra dos Judeus (75 d.C.), Antiguidades Judaicas (94 d.C.), e Autobiografia (101 d.C.)
[8] É importante salientar que o termo ‘Palestina’ só foi cunhado por volta do ano 70 d.C. com a invasão do império romano que destruiu o templo e realizou um genocídio, na tentativa de apagar da história a memória da nação de Israel. Portanto, o termo correto aqui é Israel, e não Palestina, que se refere a uma nação que não existe, uma língua que não existe e uma cultura que não existe, mas que é fruto da tentativa do mundo árabe-islâmico de fundar o seu próprio Estado em detrimento da nação de Israel.
[9] TOGNINI, Enéas. O período Interbíblico. São Paulo: Hagnos, 2009, p.153
[10] João Hircano foi um sumo sacerdote que governou a Judéia entre 135 e 104 a.C.
[11] Josefo. Antiguidades XIII. 10.5-7.
[12] Idem, p.155
[13] A Lectio Divina consiste de: 1) Lectio – Leitura; 2) Meditatio – Meditação; 3) Oratio – Oração; 4) Contemplatio – Contemplação. Traduzindo ao pé da letra, Lectio Divina é: “Leitura Divina”. Mas também é conhecida como “Leitura Orante”. Era uma prática dos cristãos antigos, quando dedicavam um tempo exclusivo para meditar no texto da Escritura Sagrada, acompanhado de oração, meditação e oração, sempre contemplando de forma prática a mensagem do texto.
[14] Hipermodernidade é o termo criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky para delimitar o momento atual da sociedade humana.
[15] SCHUBERT, Kurt. Os Partidos Religiosos Hebraicos da época Neotestamentária. São Paulo: Paulinas, 1979, p.15,16
[16] O humanismo é uma filosofia moral que apresenta o ser humano como a medida de todas as coisas. Isto é, o homem é o centro de tudo. Portanto, a ideia é contrapor-se a qualquer ser ou coisa de cunho sobrenatural. Surgindo por volta do século XIX é uma das heranças do Iluminismo do século XVIII, e é um dos pressupostos do ateísmo.
[17] FERREIRA, Franklin. Apostila de Hermenêutica. Rio de Janeiro: STBSB, 1999, p.12,13.
[18] Joachim Jeremias foi um teólogo Luterano alemão e professor de Novo Testamento e faleceu em 1979.
[19] Eclesiástico 50:27,28
[20] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994, p.1659.
[21] Enciclopedia de la Biblia, v.3, p.143-150.
[22] Antiguidades Judaicas. XVIII, 19.
[23] Gaius Plinius Secundus foi um historiador romano que escreveu Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas composto por 37 volumes e dedicado a Tito Flávio, que viria a ser imperador de Roma.
[24] PLÍNIO, O Velho. Naturalis Historia. v. 73.
[25] Idem, p.167.
[26] HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001, p.20.
[27] SAULNIER, Christiane & ROLLAND, Bernard. A Palestina nos tempos de Jesus. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 1983, p.83.
[28] DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.712.
[29] Idem, p. 83.
[30] Uma explicação sobre os sicários é realizada na Introdução deste artigo.
[31] HORSLEY, Richard A. & HANSON, John S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995, p.166.
[32] PACKER, J. I.; TENNEY, Merril C.; WHITE, William. O Mundo do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 1991, p.82.
FONTE:http://www.napec.org/religioes/os-grupos-judaicos-na-epoca-de-cristo/
VIA: https://www.facebook.com/portalteologia/?fref=nf
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