domingo, 14 de junho de 2020

Um Simples Exercício Hermenêutico/Exegético Em Mateus 3.11



Um Simples Exercício Hermenêutico/Exegético Em Mateus 3.11
          A primeira observação é lembrar de que os livros da Bíblia não foram escritos com a separação em capítulos e versículos, e, portanto há um enorme perigo quando não lemos o texto contextualmente, quando não o lemos respeitando os sinais gramaticais e o sentido das frases e orações.  
A segunda observação é que antes de isolarmos alguma parte do texto, se faça uma análise apurada. No caso do capitulo 3 do evangelho de Mateus, o conteúdo do verso 5 ao 12 é um assunto único. Inclusive as traduções atuais, corrigidas e atualizadas [Bíblia de Jerusalém, Ave Maria, King James, NVI] trazem as palavras de João Batista – do verso 7 ao 12 – entre aspas: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Dai, pois, frutos de verdadeiro arrependimento. Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu vos digo: O Senhor é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão. O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará como Espírito Santo e com fogo. A pá está na sua mão; limpará sua eira e recolherá seu trigo no celeiro, mas, quanto á palha, a queimará em fogo inextinguível”.
         Portanto, é preciso que a análise exegética e hermenêutica seja feita considerando todo o texto como uma peça única. Ao isolarmos qualquer parte do texto, estaremos desqualificando o valor e o sentido da conversa.
O primeiro ponto a ser visto, ao analisarmos exegeticamente e hermeneuticamente o texto, é que João Batista falou aos fariseus e saduceus, de algo que eles conseguiriam entender.  Quando disse da “ira vindoura”, ele estava falando da ira preconizada pelos profetas, a ira que iniciaria a era messiânica, a ira divina como punição infligida para a injustiça grave. Uma reação que não refletia a natureza divina irascível, mas uma incompatibilidade total entre Deus e a injustiça, que só pode terminar pela destruição do mal. Assim como com o machado se corta a árvore que não dá bom fruto a colocando no fogo, Aquele que viria depois dele batizaria com o Espírito Santo e com fogo, ou seja, o Espírito Santo teria o poder de purificar a consciência das pessoas, e isso seria feito da mesma forma que se purificava o ouro e a prata, algo bem conhecido dos seus ouvintes. Afinal, no livro de Isaías estava dito a respeito de Jerusalém: “voltarei minha mão contra ti, purificarei tuas escórias com potassa, removerei todas as tuas impurezas.”  O profeta Zacarias na proclamação do oráculo messiânico transmitiu a palavra do Senhor: “...e acontecerá em toda a terra que dois terços serão exterminados, e que o outro terço será deixado mim e Eu farei este terço entrar no fogo, e o purificarei como se purifica a prata, irei prova-lo como se prova o ouro. Então os purificados irão invocar o meu Nome, e Eu irei responder dizendo: É meu povo e o povo dirá o Senhor Iahweh é o meu Deus.” 
Também todos certamente já haviam lido em Malaquias: Eis que enviarei o meu mensageiro para que prepare um caminho diante de mim. Então, de repente, entrará o em seu Templo o Senhor que vós procurais, o  Anjo da Aliança que vós desejais, eis que ele vem, disse o Senhor dos Exércitos. Quem poderá suportar o dia de sua chegada? Quem poderá ficar de pé, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo fundidor e como a lixívia lavandeiros. Ele virá para fundir e purificar a prata.” Certamente os ouvintes de João Batista já haviam lido o que Jesus Ben Sirá havia escrito sobre o temor de Iahweh nas provações: “tudo o que te acontecer, aceita-o, e nas vicissitudes que te humilharem sê paciente pois o ouro se prova no fogo, e os eleitos, no cadinho da humilhação.”
Para complementar, João lembra-lhes que tudo quanto não se pode purificar, será para sempre jogado no fogo inextinguível, e assim será com toda a consciência que não for purificada, pois o Senhor as punirá no dia do Juízo. Ele porá fogo e vermes em todas as carnes não aproveitadas, e elas chorarão de dor eternamente.  
Fabio S. Faria



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domingo, 7 de junho de 2020

Hermenêutica: Uma Ilustre Abandonada




DESCONHECIDA POR MUITOS, PRATICADA POR POUCOS! 

"HERMENÊUTICA - O QUE É E COMO USAR."
A revista Compromisso é uma publicação trimestral da Juerp, e é adotada por grande parte das igrejas batistas no ensino ministrado na EBD.
Na edição do 2º trimestre de 1997, foi publicado na referida revista um pequeno estudo sobre Hermenêutica Bíblica de autoria de Jonas Celestino Ribeiro que na época era o diretor do mestrado do STBSB no Rio de Janeiro. Um estudo simples, porém muito objetivo, e que pode ser classificado entre os melhores sobre o tema: HERMENÊUTICA.
PRIMEIRA PARTE : INTRODUÇÃO
Entender a Bíblia é um grande desafio! Requer tempo, dedicação e domínio de certos princípios que são esquecidos por muitos leitores da Bíblia: "os de interpretação definidos pela hermenêutica". É importante o conhecimento e a aplicação desses princípios para evitar que a Bíblia seja interpretada erroneamente e as consequentes interpretações sirvam para propósitos obscuros.
O QUE É HERMENÊUTICA?
A palavra hermenêutica vem do verbo grego "hermeneo", que significa "interpretar". A hermenêutica é a teoria da interpretação. Assim ela pode ser definida como a ciência que ensina os princípios, regras, leis e métodos que regem a tarefa da interpretação. Ela é uma ciência que, aplicada à interpretação da Bíblia, chama-se Hermenêutica bíblica, a qual procura ensinar os princípios e métodos de interpretação das Sagradas Escrituras.
Há necessidade de hermenêutica para a compreensão da Bíblia? O Espírito Santo não nos faz compreender sem a tarefa da mente humana?
O Espírito conduz o homem à compreensão, mas o faz mediante a tarefa que o próprio homem empreende em compreender. A experiência tem mostrado que os que querem conhecer a mensagem da Bíblia, sem passar pela tarefa da interpretação, têm caído em exageros e muitos grupos religiosos têm nascido desses exageros.
Não devemos esquecer que há uma distância muito grande entre nós e os primeiros receptores da Palavra de Deus.
SEGUNDA PARTE: OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA HERMENÊUTICA BÍBLICA.

1-
"É preciso ter uma correta concepção do que seja a Bíblia, porque ela é o objeto da interpretação"
[Quem abre a Bíblia e não crê que ela é a Palavra de Deus, não tem muito que tirar dela, senão uma descrição de uma religião antiga chamada "judaísmo" (AT), e outra mais nova chamada 'cristianismo' (NT). A Bíblia, vista desta maneira, será penas um livro de curiosidades religiosas, e para nada mais servirá. A Bíblia sendo concebida como Palavra inspirada de Deus será abordada pelo intérprete com muito mais cuidado e respeito. Ela é a Palavra de Deus!
Outra concepção importante, além da inspiração, é encarar a Bíblia não como uma biblioteca formada de livros que não têm qualquer relacionamento entre si, mas como uma unidade na diversidade. Os livros da Bíblia formam uma unidade a partir de um fio condutor de seu pensamento, inspirado pelo Espírito santo e interligado pelo fato da revelação de Deus ser progressiva.
Outro fator importante é a participação humana no processo. Deus usou a linguagem, as formas de pensamento, a cultura, etc., para moldar a sua revelação. É por isto que precisamos estudar bem esses elementos para, então, poder entender o que está escrito. Não se pode entender adequadamente a Bíblia sem um estudo dos fatores que estão por trás do homem e sua cultura. A língua do AT é o hebraico, e do NT é o grego. Ambas foram línguas do povo comum, e não apenas de homem de literatura. Deus falou de forma ser compreendido.
Algo que é importante também a ser destacado é a diversidade de estilos literários na Bíblia. Temos poesia, profecia, escatologia, história, ensino didático, etc. Cada gênero tem seu próprio método de interpretação. Quem estuda seriamente a Bíblia precisa entender desses gêneros e plicar os princípios adequadamente.]
2. "É preciso aplicar o princípio gramatical para o entendimento das palavras, frases, sentenças, etc."
[As palavras têm significado isoladas, como em um determinado contexto. É muito importante que as palavras sejam bem estudadas, pois, há muitas palavras em nossas traduções que são difíceis de compreensão.
Um exemplo que podemos dar é a palavra CARNE no NT. Ela pode significar "natureza humana", envolvendo o homem total, carne e osso inclusive, como é o caso do uso em 1ªJoão. Pode significar "natureza pecaminosa" ou vida sem espiritualidade, como é um dos usos de Paulo. Isoladamente, a palavra CARNE não permite entender o seu significado pleno. Por isto é que, quando estudamos as palavras, o fazemos isoladamente, mas, muito mais importante é a necessidade que se faz de estudá-las no contexto onde são usadas.
A mesma coisa se diz de frases, sentenças, orações: "Quando é, que autor está expressando certeza, dúvida, condição, etc.? Quem está falando ou agindo? A quem se refere o verbo? O adjetivo se refere a Que ou a Quem? O advérbio expressa maneira, modo, meio, causa?
Todos estes elementos precisam ser perguntados em um texto.]
3. "O texto precisa ser interpretado historicamente porque foi escrito num determinado tempo, por uma determinada pessoa e destinada a um grupo específico no tempo e no espaço"!
O princípio histórico de interpretação não pode ser esquecido, pois ele permite uma investigação das condições que estão por detrás de uma produção literária. É por isto que perguntamos sobre o autor, os destinatários, a época da produção, os fatores históricos que motivaram a produção, etc.
4. " O texto precisa ser interpretado teologicamente"!
Por teologicamente entendemos a expressão doutrinária do próprio texto e não aquilo que pensamos e fazemos que ele diga. Há pessoas que citam muito a Bíblia depois de expressarem uma ideia doutrinária para dar a impressão que é bíblica. As muitas citações da Bíblia não garantem que a ideia seja bíblica. Podemos citar muito a Bíblia, mas fazê-lo respeitando o contexto e a teologia que o escritor (autor) tinha em mente. A Bíblia não é obrigada a dizer aquilo que queremos, mas nós temos que professar aquilo que ela diz.
5. "A Bíblia tem que ser aplicada à vida diária"!
Chama-se isto de "princípio prático", porque a Palavra de Deus teve o que dizer a cada geração do passado e muito mais à nossa própria. Exatamente por isto é que ela é Palavra de Deus. A cada dia as pessoas têm suas vidas mudadas e transformadas pela leitura da Bíblia.
Quem se aproxima da Bíblia apenas para tirar lições para os outros e munição para a pregação não a está usando adequadamente. A aplicação não deve ser leviana e tão pouco prescindir da aplicação dos outros princípios.
6. "A Bíblia deve ser interpretada à luz de si mesma"!
A Bíblia é sua própria intérprete! Nenhuma passagem em particular pode ter um significado que contrarie o ensino total da Bíblia. Se determinada interpretação encontra obstáculo em outra passagem da Bíblia, então precisa ser revista. É muito importante usar adequadamente uma concordância, um sistema de referência cruzada, uma Bíblia com recursos de estudos temáticos ou outro instrumento, inclusive outras traduções bíblicas, para poder extrair o máximo de uma passagem.
TERCEIRA PARTE –  COMO USAR OS PRINCÍPIOS? 
Antes de iniciar a tarefa de interpretação é preciso tornar nota de alguns instrumentos de trabalho.
O QUE É PRECISO?
R: Um dicionário bíblico, uma concordância, uma introdução ao Antigo Testamento ou ao Novo Testamento. Um comentário só deve ser usado depois de você mesmo fazer uma pesquisa nos instrumentos acima.
QUE TAL EXERCITAR?
Abra sua Bíblia em 1Pedro 1.1 a 3. Leia atentamente a passagem várias vezes. Depois disto anote as palavras que você teve dificuldade para entender. A minha lista foi: "peregrinos, dispersão e presciência". Como exemplo, vamos ficar apenas com a palavra DISPERSÃO. De posse de um bom dicionário bíblico pesquisei a palavra e descobri que tem dois significados básicos. Um se refere aos judeus fora da Palestina desde os tempos do exílio babilônico e é, então, um termo técnico para se referir apenas aos judeus. Outro significado que descobri é o teológico e se refere a todo cristão que está fora de sua pátria verdadeira, a celestial (1Pedro 1.1 e Tiago 1.1). Confirmando em uma concordância vi que a palavra aparece, no NT três vezes -- João 7.35; 1Pedro 1.1; Tiago 1.1 -- No AT aparece doze vezes na Septuaginta como tradução da palavra hebraica para ESPALHADO. Historicamente, vemos cristãos na Ásia menor, os quais são considerados peregrinos e "dispersos", porque não são de fato da Ásia, mas do Senhor Jesus Cristo. Deveriam viver como "dispersos", mas não como irresponsáveis. Toda a Primeira Epístola de Pedro é um chamamento à responsabilidade do testemunho. Não é por pertencer à pátria celestial que nada faremos pela nossa pátria terrena. Embora caminhemos com os olhos para o alto, temos os pés no chão e precisamos andar com sabedoria e discernimento, cuidando bem da vida espiritual, pois afinal somos eleitos para a vida de santificação.
Que tipo de vida devemos ter em nossos dias à luz de 1Pe 1.1 e 2? Qual o nosso compromisso com deus neste mundo? Deus nos elegeu em Cristo para que tipo de vida?
CONCLUSÃO
Quem não está acostumado com a tarefa de interpretar fica meio confuso no início, mas com persistência nos estudos e muita dependência do Espírito Santo, o cristão pode crescer muito no conhecimento das Escrituras e tornar-se amadurecido e preparado para a tarefa do testemunho e do ensino da Palavra de Deus. Normalmente aquele permanece firme no Senhor, se dedica ao estudo da Palavra. Fraqueza no conhecimento da Bíblia é também fraqueza doutrinária e consequente entrega a qualquer vento doutrinário que soprar.
Você está disposto a gastar tempo em compreender a Bíblia? Procure os irmãos que lhe possa orientar a adquirir livros de referência para que você tenha condições de fazer um bom estudo bíblico. Ore e peça sempre a Deus que o habilite, pelo seu Espírito, na compreensão da Palavra da Verdade.
JONAS CELESTINO RIBEIRO.




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