terça-feira, 30 de julho de 2013

AGOSTINHO É QUEM NOS DEU A REFORMA!



      AGOSTINHO É O MENTOR



“Agostinho é quem nos deu a Reforma”.
Assim escreveu B. B. Warfield em sua avaliação da influência de Agostinho na história da igreja. Não foi somente porque Lutero era um monge agostiniano, ou porque Calvino citou Agostinho mais do que qualquer outro teólogo, que tenha provocado a observação de Warfield. Mais ou menos era porque a Reforma testemunhou o triunfo final da doutrina agostiniana da graça sobre o legado da visão pelagiana sobre o homem.
“Nunca, talvez, houve outra crise de igual importância na história da igreja em que os oponentes expressaram os princípios sobre o assunto de modo tão claro e abstrato. Apenas a disputa de Ário antes do Concílio de Nicéia pode ser a ela comparada”.
 (História de Agmer V/IV/3)

A “natureza, o livre-arbítrio, a virtude e a lei, estes definiram estritamente e o fizeram independentemente da noção de Deus – eram as palavras-chave do Pelagianismo: a virtude adquirida por si mesma é o bem supremo que é seguido pela recompensa. A religião e a moralidade encontram-se na esfera do espírito livre; realizam-se em todo o momento pelo esforço próprio do homem”.
A controvérsia começou quando o monge britânico Pelágio se opôs à famosa oração da agostiniana Roma: “Concedeste porque tu ordenaste, e ordenaste o que desejaste”. Pelágio ficou horrorizado com a idéia de que um presente divino (graça) é necessário para executar o que Deus ordena. Para Pelágio e seus seguidores a responsabilidade implica sempre em capacidade. Se o homem tiver a responsabilidade moral de obedecer à lei de Deus, deve também ter a capacidade moral de fazê-la.
A diferença entre pelagianismo e semi-pelagianismo é mais uma diferença de grau do que de tipo. Para ter certeza, superficialmente parece que há uma diferença enorme entre os dois, particularmente com respeito ao pecado original e à dependência dos pecadores em relação à graça. Pelágio negou categoricamente a doutrina do pecado original, argumentando que o pecado de Adão afetou apenas Adão e que as crianças ao nascer estão no mesmo estado que Adão antes da queda. Pelágio argumentou também que embora a graça pudesse facilitar a realização do que é correto, não é necessária a essa finalidade. Também insistiu que a natureza constitutiva da humanidade não é conversível; é indestrutivelmente boa.
A visão de Agostinho da queda foi oposta tanto ao Pelagianismo como ao semi-pelagianismo. Ele disse que a humanidade é uma massa peccati, uma “corja de pecado”, incapaz de levantar-se da morte espiritual. Para Agostinho o homem não pode mais mover ou inclinar a si mesmo a Deus tanto quanto um copo vazio pode se encher. Para Agostinho o trabalho inicial da graça divina pelo qual a alma é liberta da escravidão do pecado é soberano e operativo. Está certo de que nós cooperamos com esta graça, mas somente após o trabalho divino inicial de redenção.
Agostinho não negou que o homem caído tenha ainda vontade e que essa vontade é capaz de fazer escolhas. Discutiu que o homem caído tem ainda um livre-arbítrio (liberium arbitrium), mas perdeu sua liberdade moral (libertas). O estado do pecado original nos deixa na vil condição de sermos incapazes de nos abster do pecado. Nós podemos ainda escolher o que desejamos, mas nossos desejos restam acorrentados por nossos maus impulsos. Argumentou que a liberdade que resta na vontade conduz sempre ao pecado. Assim na carne nós estamos livres somente para pecar: uma liberdade oca, na realidade. É liberdade sem liberdade, uma escravidão moral real. A liberdade verdadeira pode somente vir de nada nosso, mas do trabalho de Deus na alma. Conseqüentemente nós somos não somente em parte dependentes da graça para nossa conversão, mas totalmente dependentes da graça.
Entretanto, no semi-pelagianismo remanesce uma capacidade moral dentro do homem que não é afetada pela queda. Nós chamamos isso uma “ilha de justiça” pela qual o pecador caído tem ainda a habilidade inerente de se inclinar ou se mover para cooperar com a graça de Deus. A graça é necessária, mas não necessariamente eficaz. Seu efeito depende sempre da cooperação do pecador com ele pela virtude do exercício da vontade.
Harnack sintetiza o pensamento pelagiano:
Mais do que contra Pelágio, o semi-pelagianismo tem uma doutrina do pecado original na qual a humanidade é considerada caída. Conseqüentemente a graça facilita não somente a virtude, ela é necessária à virtude para seguir. A natureza do homem pode ser mudada e foi mudada pela queda.
Não foi acidentalmente que Martinho Lutero considerou “A Escravidão da Vontade” como seu livro mais importante. Viu em Erasmo um homem que, apesar de seus protestos pela tese contrária, fosse um pelagiano em roupagem católica. Lutero viu que o que há por trás da controvérsia entre mérito e da graça, e entre fé e obras era de que grau a vontade do ser humano é escravizada pelo pecado e em que grau nós somos dependentes da graça para nossa redenção. Lutero argumentou a partir da Bíblia que a carne não lucra nada, e que este “nada” não é um simples “algo”.
Nós necessitamos de um Agostinho ou de um Lutero nos fale novamente para que não ocorra de a luz da graça de Deus ser apenas obscurecida, mas também suprimida em nosso tempo.
O humanismo, em as suas formas sutis, recapitula o pelagianismo sem a camada de verniz contra o qual Agostinho combateu. Embora Pelágio fora condenado como um herege por Roma e – em sua forma modificada – o semi-pelagianismo foi condenado do mesmo modo pelo Concílio de Orange em 529 d.C., as suposições básicas desta visão persistiram durante toda a história da igreja para reaparecer no catolicismo medieval, no renascimento, no humanismo, no socinianismo, no arminianismo e no liberalismo moderno. O embrião do pensamento de Pelágio sobrevive hoje não como um traço ou uma influência pela tangente, mas é intrínseco na igreja moderna. Certamente, a igreja moderna por ela é mantida prisioneira.
Os evangélicos modernos passaram pela Reforma cujas raízes foram plantadas por Agostinho, mas hoje toda a visão reformada e agostiniana da graça é completamente oculta no cristianismo evangélico. Onde Lutero triunfou no século XVI, gerações subseqüentes deram assentimento a Erasmo.
Os evangélicos modernos repudiam o Pelagianismo sem a camada de verniz e freqüentemente também o semi-pelagianismo. Insiste-se que a graça é necessária para a salvação e que o homem está caído. A vontade é reconhecida por ser enfraquecida severamente mesmo a ponto de ser de “dependente noventa e nove por cento” da graça para sua redenção. Mas esse um por cento de capacidade moral não afetada ou do poder espiritual que se transforma a diferença decisiva entre a salvação e a perdição é o elo que preserva a corrente a Pelágio. Nós não ficamos livres do cativeiro pelagiano à igreja.
Qual era o assunto chave entre Agostinho e Pelágio? 
O coração do debate centrou-se na doutrina do pecado original, particularmente com respeito à pergunta sobre a extensão na qual a vontade do homem caído é “livre”. 

Adolph Harnack disse:

Que um por cento é o “pequeno algo” que Lutero procurou demolir porque remove o sola do sola gratia e finalmente o sola do sola fide. A ironia pode estar em que, embora o moderno cristianismo evangélico denuncie alta e repetidamente o humanismo como o inimigo mortal do cristianismo, ele entretém uma visão humanista do homem e da sua vontade em seu núcleo mais profundo.

Por R. C. Sproul

Traduzido por Cleber Olympio
Publicado em http://www.caminhocristao.com/2007/01/agostinho-e-pelagio/









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