DESCONHECIDA POR MUITOS, PRATICADA POR POUCOS!
"HERMENÊUTICA - O QUE É E COMO USAR."
A revista Compromisso é uma publicação trimestral
da Juerp, e é adotada por grande parte das igrejas batistas no ensino
ministrado na EBD.
Na edição do 2º trimestre de 1997, foi publicado na
referida revista um pequeno estudo sobre Hermenêutica Bíblica de autoria de
Jonas Celestino Ribeiro que na época era o diretor do mestrado do STBSB no Rio
de Janeiro. Um estudo simples, porém muito objetivo, e que pode
ser classificado entre os melhores sobre o tema: HERMENÊUTICA.
PRIMEIRA PARTE : INTRODUÇÃO
Entender a Bíblia é um grande desafio! Requer
tempo, dedicação e domínio de certos princípios que são esquecidos por muitos
leitores da Bíblia: "os de interpretação definidos pela
hermenêutica". É importante o conhecimento e a aplicação desses princípios
para evitar que a Bíblia seja interpretada erroneamente e as consequentes
interpretações sirvam para propósitos obscuros.
O QUE É HERMENÊUTICA?
A palavra hermenêutica vem do verbo grego
"hermeneo", que significa "interpretar". A hermenêutica é a
teoria da interpretação. Assim ela pode ser definida como a ciência que ensina
os princípios, regras, leis e métodos que regem a tarefa da interpretação. Ela
é uma ciência que, aplicada à interpretação da Bíblia, chama-se Hermenêutica
bíblica, a qual procura ensinar os princípios e métodos de interpretação das
Sagradas Escrituras.
Há necessidade de hermenêutica para a compreensão
da Bíblia? O Espírito Santo não nos faz compreender sem a tarefa da mente
humana?
O Espírito conduz o homem à compreensão, mas o faz
mediante a tarefa que o próprio homem empreende em compreender. A experiência
tem mostrado que os que querem conhecer a mensagem da Bíblia, sem passar pela
tarefa da interpretação, têm caído em exageros e muitos grupos religiosos têm
nascido desses exageros.
Não devemos esquecer que há uma distância muito
grande entre nós e os primeiros receptores da Palavra de Deus.
SEGUNDA PARTE: OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA HERMENÊUTICA BÍBLICA.
1- "É preciso ter uma correta concepção do que seja a Bíblia, porque ela é
o objeto da interpretação"
[Quem
abre a Bíblia e não crê que ela é a Palavra de Deus, não tem muito que tirar
dela, senão uma descrição de uma religião antiga chamada "judaísmo"
(AT), e outra mais nova chamada 'cristianismo' (NT). A Bíblia, vista desta
maneira, será penas um livro de curiosidades religiosas, e para nada mais
servirá. A Bíblia sendo concebida como Palavra inspirada de Deus será abordada
pelo intérprete com muito mais cuidado e respeito. Ela é a Palavra de Deus!
Outra concepção importante, além da inspiração, é encarar a Bíblia não como uma
biblioteca formada de livros que não têm qualquer relacionamento entre si, mas
como uma unidade na diversidade. Os livros da Bíblia formam uma unidade a
partir de um fio condutor de seu pensamento, inspirado pelo Espírito santo e
interligado pelo fato da revelação de Deus ser progressiva.
Outro
fator importante é a participação humana no processo. Deus usou a linguagem, as
formas de pensamento, a cultura, etc., para moldar a sua revelação. É por isto
que precisamos estudar bem esses elementos para, então, poder entender o que
está escrito. Não se pode entender adequadamente a Bíblia sem um estudo dos
fatores que estão por trás do homem e sua cultura. A língua do AT é o hebraico,
e do NT é o grego. Ambas foram línguas do povo comum, e não apenas de homem de
literatura. Deus falou de forma ser compreendido.
Algo que é importante também a ser destacado é a diversidade de estilos
literários na Bíblia. Temos poesia, profecia, escatologia, história, ensino
didático, etc. Cada gênero tem seu próprio método de interpretação. Quem estuda
seriamente a Bíblia precisa entender desses gêneros e plicar os princípios
adequadamente.]
2. "É preciso aplicar o princípio gramatical para
o entendimento das palavras, frases, sentenças, etc."
[As palavras têm significado isoladas, como em um
determinado contexto. É muito importante que as palavras sejam bem estudadas,
pois, há muitas palavras em nossas traduções que são difíceis de compreensão.
Um exemplo que podemos dar é a palavra CARNE no NT. Ela pode significar
"natureza humana", envolvendo o homem total, carne e osso inclusive,
como é o caso do uso em 1ªJoão. Pode significar "natureza pecaminosa"
ou vida sem espiritualidade, como é um dos usos de Paulo. Isoladamente, a
palavra CARNE não permite entender o seu significado pleno. Por isto é que,
quando estudamos as palavras, o fazemos isoladamente, mas, muito mais
importante é a necessidade que se faz de estudá-las no contexto onde são
usadas.
A mesma coisa se diz de frases, sentenças, orações: "Quando é, que autor
está expressando certeza, dúvida, condição, etc.? Quem está falando ou agindo?
A quem se refere o verbo? O adjetivo se refere a Que ou a Quem? O advérbio
expressa maneira, modo, meio, causa?
Todos estes elementos precisam ser perguntados em um texto.]
3. "O texto
precisa ser interpretado historicamente porque foi escrito num determinado
tempo, por uma determinada pessoa e destinada a um grupo específico no tempo e
no espaço"!
O princípio
histórico de interpretação não pode ser esquecido, pois ele permite uma
investigação das condições que estão por detrás de uma produção literária. É
por isto que perguntamos sobre o autor, os destinatários, a época da produção,
os fatores históricos que motivaram a produção, etc.
4. " O texto
precisa ser interpretado teologicamente"!
Por teologicamente
entendemos a expressão doutrinária do próprio texto e não aquilo que pensamos e
fazemos que ele diga. Há pessoas que citam muito a Bíblia depois de expressarem
uma ideia doutrinária para dar a impressão que é bíblica. As muitas citações da
Bíblia não garantem que a ideia seja bíblica. Podemos citar muito a Bíblia, mas
fazê-lo respeitando o contexto e a teologia que o escritor (autor) tinha em
mente. A Bíblia não é obrigada a dizer aquilo que queremos, mas nós temos que
professar aquilo que ela diz.
5. "A Bíblia
tem que ser aplicada à vida diária"!
Chama-se isto de
"princípio prático", porque a Palavra de Deus teve o que dizer a cada
geração do passado e muito mais à nossa própria. Exatamente por isto é que ela
é Palavra de Deus. A cada dia as pessoas têm suas vidas mudadas e transformadas
pela leitura da Bíblia.
Quem se aproxima da Bíblia apenas para tirar lições para os outros e munição
para a pregação não a está usando adequadamente. A aplicação não deve ser
leviana e tão pouco prescindir da aplicação dos outros princípios.
6. "A Bíblia deve ser interpretada à luz de si
mesma"!
A Bíblia é sua própria intérprete! Nenhuma passagem
em particular pode ter um significado que contrarie o ensino total da Bíblia.
Se determinada interpretação encontra obstáculo em outra passagem da Bíblia,
então precisa ser revista. É muito importante usar adequadamente uma
concordância, um sistema de referência cruzada, uma Bíblia com recursos de
estudos temáticos ou outro instrumento, inclusive outras traduções bíblicas,
para poder extrair o máximo de uma passagem.
TERCEIRA PARTE – COMO USAR OS PRINCÍPIOS?
Antes de iniciar a tarefa de interpretação é
preciso tornar nota de alguns instrumentos de trabalho.
O QUE É PRECISO?
R: Um dicionário bíblico, uma
concordância, uma introdução ao Antigo Testamento ou ao Novo Testamento. Um
comentário só deve ser usado depois de você mesmo fazer uma pesquisa nos
instrumentos acima.
QUE TAL EXERCITAR?
Abra sua Bíblia em 1Pedro 1.1
a 3. Leia atentamente a passagem várias vezes. Depois disto anote as palavras
que você teve dificuldade para entender. A minha lista foi: "peregrinos,
dispersão e presciência". Como exemplo, vamos ficar apenas com a palavra
DISPERSÃO. De posse de um bom dicionário bíblico pesquisei a palavra e descobri
que tem dois significados básicos. Um se refere aos judeus fora da Palestina
desde os tempos do exílio babilônico e é, então, um termo técnico para se
referir apenas aos judeus. Outro significado que descobri é o teológico e se
refere a todo cristão que está fora de sua pátria verdadeira, a celestial
(1Pedro 1.1 e Tiago 1.1). Confirmando em uma concordância vi que a palavra
aparece, no NT três vezes -- João 7.35; 1Pedro 1.1; Tiago 1.1 -- No AT aparece
doze vezes na Septuaginta como tradução da palavra hebraica para ESPALHADO.
Historicamente, vemos cristãos na Ásia menor, os quais são considerados peregrinos
e "dispersos", porque não são de fato da Ásia, mas do Senhor Jesus
Cristo. Deveriam viver como "dispersos", mas não como irresponsáveis.
Toda a Primeira Epístola de Pedro é um chamamento à responsabilidade do
testemunho. Não é por pertencer à pátria celestial que nada faremos pela nossa
pátria terrena. Embora caminhemos com os olhos para o alto, temos os pés no
chão e precisamos andar com sabedoria e discernimento, cuidando bem da vida
espiritual, pois afinal somos eleitos para a vida de santificação.
Que tipo de vida devemos ter em nossos dias à luz
de 1Pe 1.1 e 2? Qual o nosso compromisso com deus neste mundo? Deus nos elegeu
em Cristo para que tipo de vida?
CONCLUSÃO
Quem não está acostumado com a tarefa de
interpretar fica meio confuso no início, mas com persistência nos estudos e
muita dependência do Espírito Santo, o cristão pode crescer muito no
conhecimento das Escrituras e tornar-se amadurecido e preparado para a tarefa
do testemunho e do ensino da Palavra de Deus. Normalmente aquele permanece firme
no Senhor, se dedica ao estudo da Palavra. Fraqueza no conhecimento da Bíblia é
também fraqueza doutrinária e consequente entrega a qualquer vento doutrinário
que soprar.
Você está disposto a gastar tempo em compreender a
Bíblia? Procure os irmãos que lhe possa orientar a adquirir livros de
referência para que você tenha condições de fazer um bom estudo bíblico. Ore e
peça sempre a Deus que o habilite, pelo seu Espírito, na compreensão da Palavra
da Verdade.
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