sábado, 13 de dezembro de 2014

APOCALIPSE: SUGESTÕES INTERPRETATIVAS - PARTE 2!


                     <<<<NÃO HÁ NESTE ESTUDO QUALQUER PRETENSÃO DE SOLUCIONAR EM TODOS OS NÍVEIS AS DIFICULDADES EXISTENTES NA INTERPRETAÇÃO DESTE LIVRO.                        
O OBJETIVO É APENAS O DE APRESENTAR ALGUMAS SUGESTÕES HERMENÊUTICAS E EXEGÉTICAS CONSTANTES NO LIVRO ''ENTENDES O QUE LÊS?" PUBLICADO PELA EDITORA VIDA NOVA, DE AUTORIA DOS PROFESSORES GORDON D. FEE E DOUGLAS STUART. >>>>

SEGUNDA PARTE
                                      A NECESSIDADE DA EXEGESE:

                 Em muitos momentos torna-se maçante a insistência em dizer sobre a necessidade da "boa exegese" para o livro de Apocalipse, porém esta insistência é resultado da FALTA de princípios exegéticos sadios, o que faz ser rotina a ocorrência de tanta "interpretação má e especulativa" do Apocalipse. 
Portanto, este estudo, tendo em mente o Apocalipse, se propõe simplesmente a lembrar aos leitores alguns dos "princípios exegéticos básicos", tais como:

1- A primeira tarefa da exegese do Apocalipse é procurar a intenção original do autor, e portanto, do Espírito Santo. 
O mesmo padrão aplicado na exegese das "epístolas", também deve ser considerado em Apocalipse em relação ao significado primário, ou seja, aquilo que João pretendeu que fosse, com toda a certeza foi o significado entendido por seus leitores. 
"Além do mais, é preciso lembrar que os leitores do primeiro século tiveram uma grande vantagem sobre os dos séculos posteriores - inclusive sobre nós -que é a familiaridade com seu próprio "contexto histórico" (aquilo que levou o livro a ser escrito em primeiro lugar), somada a uma maior convivência com as formas e figuras apocalípticas."

2- Visto que o Apocalipse é deliberadamente "profético', não devemos fechar a porta à possibilidade de haver um sentido secundário, inspirado pelo Espírito Santo, mas não plenamente percebido pelo autor ou pelos seus leitores. Apesar disto, mesmo que haja este segundo sentido, é algo que está além da exegese na área mais ampla da hermenêutica. Portanto, a tarefa primordial  a se considerar aqui, é compreender o que João pretendia que seus leitores originais ouvissem e compreendessem.

3- É preciso tomar cuidados especiais para não haver qualquer tipo de abuso  do conceito da "analogia da Escritura" na exegese do Apocalipse. A analogia da Escritura significa que a Escritura deva ser interpretada à luz do restante da Escritura. Sustenta-se que isto é evidente em si mesmo, com base na posição de que a Escritura toda é a Palavra de Deus, e que tem Deus como sua derradeira origem. Mesmo assim, não deve ser orientado de tal maneira que as pessoas possam vir a fazer de outras partes das Escrituras as chaves hermenêuticas para destravar o Apocalipse. 
À vista disso, é coisa aceitável reconhecer o novo uso que João faz das figuras mostradas por Daniel e Ezequiel, ou ver as analogias nas figuras apocalípticas de outros textos. No entanto, não se pode considerar correto a afirmativa feita por algumas "escolas de interpretação" de que os leitores de João haviam lido o Evangelho de Mateus ou 1 e 2 Tessalonicenses, e então tendo por base estes textos tiveram o privilégio de obter certas "chaves" para a compreensão daquilo que João escrevera. Por este motivo não se pode esquecer que: quaisquer chaves para a interpretação do Apocalipse devem ser intrínsecas ao texto do próprio Apocalipse, ou seja, da forma disponível aos leitores originais, dentro do seu próprio contexto histórico". 

4- Por causa da natureza apocalítica/profética do livro, há algumas dificuldades adicionais no nível exegético, especificamente no que diz respeito à linguagem figurada. Neste caso algumas sugestões são necessárias ser feitas:

a- A pessoa deve ser sensível ao valioso pano de fundo de ideias que entrou na composição do Apocalipse. Estas ideias, assim como as figuras de linguagem tem como origem principal o Antigo Testamento, porém João também fez uso de quadros da apocalíptica, e até mesmo da mitologia antiga. É muito importante a observação que, embora esses quadros derivassem de uma variedade de fontes, não significavam necessariamente o que significavam nas suas fontes, "Foram despedaçados e transformados sob a inspiração e assim harmonizados nesta 'nova profecia'.

b- A linguagem figurada apocalíptica é expressada por vários tipos. Em alguns casos, as figuras, tais como o asno e o elefante nas charges americanas, são constantes. A "besta saindo do mar", por exemplo, parece ser uma figura padronizada para um império mundial, e não para um soberano individual. Por outro lado, as figuras são instáveis: O "leão" da tribo de Judá acaba sendo realmente um "cordeiro" (Ap 5.5-6) - o único leão que há no Apocalipse. A mulher no capítulo 12 é nitidamente uma figura positiva, já a mulher do capítulo 17 é má.
De modo semelhante, algumas figuras claramente se referem a coisas específicas. Os sete candeeiros em Ap 1.12-20 são reconhecidos como sendo as sete igrejas, e o dragão no capítulo 12 é Satanás. Já, pelo outro lado, muitas das figuras são provavelmente gerais. Os quatro cavaleiros do capítulo 6,são um bom exemplo, pois provavelmente não representam qualquer expressão específica de conquista, guerra, fome, e morte, mas, sim representam esta expressão caída da igreja (6.9-11) que, por sua vez, será uma causa do julgamento divino (6.12-17). 

A lembrança destes "princípios exegéticos básicos" foram uma forma de mostrar que as figuras são a parte mais difícil da tarefa exegética. Por esta causa, duas considerações [SUGESTÕES] adicionais são especialmente importantes:

c- Quando o próprio João interpreta as suas próprias figuras de linguagem, estas figuras interpretadas devem ser sustentadas com segurança, e devem servir de ponto de partida para compreender outras. 
Temos seis de tais figuras interpretadas: Aquele que era semelhante a filho de homem (1.17-18) é Cristo, o único que "estava morto, mas eis que  está vivo pelos séculos dos séculos". Os candeeiros de ouro (1.20) são as sete igrejas. As sete estrelas (1.20) são os sete anjos, ou mensageiros, das igrejas (infelizmente, isto não fica claro, por causa do uso do termo anjo, que pode em si mesmo ser ainda outra figura de linguagem). O grande dragão (12.9) é Satanás. As sete cabeças (17.9) são os sete montes nos quais a mulher está assentada (também pode ser sete reis, tornando-se assim, uma figura fluida). A meretriz (17.18) é a grande cidade, que claramente indica Roma.

d- Devemos entender as visões como "todos", e não forçar alegoricamente todos os pormenores.
Nesta questão, as visões são como as parábolas. A visão como um todo está procurando dizer alguma coisa; os pormenores são ou (1) para o efeito dramático (6.12-14) ou (2) para acrescentar ao quadro da totalidade de maneira tal, que os leitores não viessem a se enganar quanto aos pontos de referência (9.7-11).
Sendo assim, os detalhes de o sol tornar-se negro como saco de crina e as estrelas caindo como figos verdes não "significam" coisa alguma.  Simplesmente tornam a visão do terremoto mais impressionante. 
Em 9.7-11, no entanto, os gafanhotos com coroas de ouro, rostos de homens, e cabelos longos como de mulheres ajudam a preencher o quadro de tal maneira que os leitores originais dificilmente poderiam ter-se enganado quanto àquilo que estava em oco, ou seja, as hordas dos bárbaros nas orlas externas do Império Romano.

5- Um último lembrete: "Os apocalipses em geral, e o Apocalipse de João em especial, raras vezes pretendem oferecer uma narrativa detalhada e cronológica do futuro. A mensagem deles tende a transcender tal tipo de preocupação, e no caso de João, sua maior preocupação é que a despeito das aparências atuais, Deus está controlando a história e a igreja. Mesmo que o sofrimento venha a ser uma experiência desagradável e aflitiva, e a morte um tormento cruel, a igreja será triunfante em Cristo, que julgará seus inimigos e salvará seu povo. 
Portanto, todas as visões devem ser vistas nos termos desta preocupação maior.
                                 
                                                 Fim da segunda parte!

PARTE 1 - A NATUREZA DO APOCALIPSE 
 APOCALIPSE: SUGESTÕES INTERPRETATIVAS - PARTE 1!
PARTE 3 - O CONTEXTO HISTÓRICO!
PARTE 4 - O CONTEXTO LITERÁRIO
PARTE 5 - AS QUESTÕES HERMENÊUTICAS!

Fonte bibliográfica: Livro Entendes o que Lês?, publicação da editora 
"Vida Nova": Edição de 1997 reimprimido em 2008.
Autores: Gordon D. Fee & Douglas Stuart com apêndice por Ênio R. Mueller.
Adaptação de Fabio S. Faria das páginas 217 a 232.



0 comentários:

Blogger Template by Clairvo