“A
ORDEM
DA CRIAÇÃO EM SEIS DIAS NÃO APRESENTA INTERVALOS DE TEMPOS, MAS CONEXÃO DE
CAUSAS.”
A CRIATURA CERTAMENTE NÃO PODERIA
MOVER-SE, SE O TEMPO NÃO EXISTISSE. Portanto, melhor se dirá que o tempo começa
pela criatura antes que a criatura pelo tempo; mas ambos procedem de Deus. [Porque
tudo é dele, por ele e nele] – conforme está escrito na carta aos romanos –
Mas não se interprete o que foi dito: O
TEMPO COMEÇA PELA CRIATURA, como se o tempo não fosse criatura, pois o tempo é
o movimento da criatura de um lugar para outro com a sucessão das coisas
conforme a ordenação de Deus que administra tudo o que criou. Por isso, quando
pensamos na primeira criação das criaturas, de cujas obras Deus descansou no
sétimo dia, não devemos imaginar aqueles dias como estes dias solares, e nem a
ação do mesmo modo como Deus efetua alguma coisa no tempo. Como realizou todas
as coisas ao mesmo tempo, proporcionando-lhes a ordem não por intervalos de
tempos, mas pela conexão das causas, de modo que as coisas criadas ao mesmo
tempo recebessem seu acabamento no número daquele dia decorrido seis vezes.
Certamente a matéria informe e capaz de
se formar, tanto a espiritual como a corporal, da qual se faria o que haveria
de ser feito, foi criada antes, não pela ordem temporal, mas pela causal, visto
que, antes de ser instituída, não teria existido. Sem dúvida, não foi
instituída a não ser pelo supremo e verdadeiro Deus, pelo qual tudo existe, quer
seja significada pelos nomes de céu e de terra, ela que foi feita no princípio
anterior daquele único dia que Deus criou, e por isso foi chamada assim porque daí
foi feito o céu e a terra, quer pelo nome de terra invisível e vazia e de
abismo tenebroso, como já falei no primeiro Livro.
Entre as coisas que foram formadas da
informidade e são denominadas com mais clareza criadas ou feitas ou efetuadas, o
dia foi feito em primeiro lugar. Com efeito, era preciso que obtivesse
a primazia da criação aquela natureza que fosse capaz de reconhecer a
criatura por meio do Criador, não o Criador por meio da criatura. No segundo
dia criou o firmamento, do qual começou o mundo corpóreo. No terceiro, as
espécies do mar e da terra e, na terra, em potência, por assim dizer, a
natureza das ervas e das árvores. Assim, a terra as produziu pela palavra de
Deus antes de serem nascidas, recebendo todas elas suas medidas, as quais a
terra desenvolveria no decorrer dos tempos segundo sua espécie.
Em seguida, depois de ter sido criada esta,
como que morada das coisas, no quarto dia foram criados os luzeiros e os astros,
a fim de que a parte superior do mundo fosse a primeira a ser adornada com as
coisas visíveis que se movem dentro do universo. No quinto dia, a natureza das
águas unida ao céu e à atmosfera produziu, mediante a palavra de Deus, seus
habitantes, ou seja, todos os que nadam e voam, e estes, potencialmente com
suas medidas, desenvolver-se-iam mediante os movimentos adequados dos tempos.
No sexto dia, de modo semelhante, criou os animais terrestres, como os últimos
procedentes do último elemento do mundo, também potencialmente, e cujas medidas
o tempo desenvolveria posteriormente de forma visível.
Aquele dia tomou conhecimento de toda
esta ordem da criação ordenada e, mediante este conhecimento, apresentado como
que SEIS VEZES, perfez como que SEIS DIAS, embora fosse um ÚNICO DIA,
conhecendo as coisas criadas primeiramente no Criador e, em seguida, nas mesmas
coisas. Não se fixando nelas, mas referindo o conhecimento das obras à glória
de Deus, mostrou a tarde, a manhã e o meio-dia em todas elas, não em intervalos
de tempos, mas na ordem das coisas criadas. Finalmente, fazendo presente o
conhecimento do descanso de seu Criador, pelo qual descansou em si mesmo de
todas as suas obras e no qual não existe tarde, mereceu por isso ser abençoado
e santificado. Por isso, a Escritura recomenda e, a Igreja reconhece o referido
número sete como que dedicado ao Espírito Santo.
Este é o livro da criação do céu e da
terra, porque no princípio Deus fez o céu
e a terra conforme certa, por assim dizer, “formabilidade” da matéria que
depois, por sua palavra, deveria ser formada. Esta “formabilidade” precede sua
formação não pelo tempo, mas pela origem.
Certamente, ao ser formada,
primeiramente foi feito o dia e, quando foi feito o dia, Deus fez o céu e a
terra e toda a verdura do campo, antes de existirem sobre a terra, e todas as
ervas do campo, antes de nascerem, como falamos antes; a não ser que algo pôde
ou possa ser percebido e dito com mais clareza e propriedade.
Uau,muito bom e esclarecedor o texto.
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