domingo, 14 de setembro de 2014

OS SEIS DIAS DA CRIAÇÃO!





A ORDEM DA CRIAÇÃO EM SEIS DIAS NÃO APRESENTA INTERVALOS DE TEMPOS, MAS CONEXÃO DE CAUSAS.”

      Os tempos começaram a decorrer com os movimentos da criatura criada. Por isso, em vão se procuram os tempos antes da criação, como se fosse possível encontrar TEMPOS antes dos TEMPOS. Com efeito, se não houvesse movimento da criatura espiritual ou corporal, pelo qual o futuro sucederia ao passado passando pelo presente, não haveria o tempo absolutamente.
A CRIATURA CERTAMENTE NÃO PODERIA MOVER-SE, SE O TEMPO NÃO EXISTISSE. Portanto, melhor se dirá que o tempo começa pela criatura antes que a criatura pelo tempo; mas ambos procedem de Deus. [Porque tudo é dele, por ele e nele] – conforme está escrito na carta aos romanos –
     Mas não se interprete o que foi dito: O TEMPO COMEÇA PELA CRIATURA, como se o tempo não fosse criatura, pois o tempo é o movimento da criatura de um lugar para outro com a sucessão das coisas conforme a ordenação de Deus que administra tudo o que criou. Por isso, quando pensamos na primeira criação das criaturas, de cujas obras Deus descansou no sétimo dia, não devemos imaginar aqueles dias como estes dias solares, e nem a ação do mesmo modo como Deus efetua alguma coisa no tempo. Como realizou todas as coisas ao mesmo tempo, proporcionando-lhes a ordem não por intervalos de tempos, mas pela conexão das causas, de modo que as coisas criadas ao mesmo tempo recebessem seu acabamento no número daquele dia decorrido seis vezes.
Certamente a matéria informe e capaz de se formar, tanto a espiritual como a corporal, da qual se faria o que haveria de ser feito, foi criada antes, não pela ordem temporal, mas pela causal, visto que, antes de ser instituída, não teria existido. Sem dúvida, não foi instituída a não ser pelo supremo e verdadeiro Deus, pelo qual tudo existe, quer seja significada pelos nomes de céu e de terra, ela que foi feita no princípio anterior daquele único dia que Deus criou, e por isso foi chamada assim porque daí foi feito o céu e a terra, quer pelo nome de terra invisível e vazia e de abismo tenebroso, como já falei no primeiro Livro.
        Entre as coisas que foram formadas da informidade e são denominadas com mais clareza criadas ou feitas ou efetuadas, o dia foi feito em primeiro lugar. Com efeito, era preciso que  obtivesse  a primazia da criação aquela natureza que fosse capaz de reconhecer a criatura por meio do Criador, não o Criador por meio da criatura. No segundo dia criou o firmamento, do qual começou o mundo corpóreo. No terceiro, as espécies do mar e da terra e, na terra, em potência, por assim dizer, a natureza das ervas e das árvores. Assim, a terra as produziu pela palavra de Deus antes de serem nascidas, recebendo todas elas suas medidas, as quais a terra desenvolveria no decorrer dos tempos segundo sua espécie.
 Em seguida, depois de ter sido criada esta, como que morada das coisas, no quarto dia foram criados os luzeiros e os astros, a fim de que a parte superior do mundo fosse a primeira a ser adornada com as coisas visíveis que se movem dentro do universo. No quinto dia, a natureza das águas unida ao céu e à atmosfera produziu, mediante a palavra de Deus, seus habitantes, ou seja, todos os que nadam e voam, e estes, potencialmente com suas medidas, desenvolver-se-iam mediante os movimentos adequados dos tempos. No sexto dia, de modo semelhante, criou os animais terrestres, como os últimos procedentes do último elemento do mundo, também potencialmente, e cujas medidas o tempo desenvolveria posteriormente de forma visível.
Aquele dia tomou conhecimento de toda esta ordem da criação ordenada e, mediante este conhecimento, apresentado como que SEIS VEZES, perfez como que SEIS DIAS, embora fosse um ÚNICO DIA, conhecendo as coisas criadas primeiramente no Criador e, em seguida, nas mesmas coisas. Não se fixando nelas, mas referindo o conhecimento das obras à glória de Deus, mostrou a tarde, a manhã e o meio-dia em todas elas, não em intervalos de tempos, mas na ordem das coisas criadas. Finalmente, fazendo presente o conhecimento do descanso de seu Criador, pelo qual descansou em si mesmo de todas as suas obras e no qual não existe tarde, mereceu por isso ser abençoado e santificado. Por isso, a Escritura recomenda e, a Igreja reconhece o referido número sete como que dedicado ao Espírito Santo.
Este é o livro da criação do céu e da terra, porque no princípio Deus fez o céu e a terra conforme certa, por assim dizer, “formabilidade” da matéria que depois, por sua palavra, deveria ser formada. Esta “formabilidade” precede sua formação não pelo tempo, mas pela origem.
Certamente, ao ser formada, primeiramente foi feito o dia e, quando foi feito o dia, Deus fez o céu e a terra e toda a verdura do campo, antes de existirem sobre a terra, e todas as ervas do campo, antes de nascerem, como falamos antes; a não ser que algo pôde ou possa ser percebido e dito com mais clareza e propriedade. 
<<<<< Capítulo V do Livro V, obra: “COMENTÁRIO AO GÊNESIS” volume 21 da Coleção Patrística da Editora Paulus, 1ª edição, 2005   1ª reimpressão, 2012 >>>>>>.


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