O fato de Deus não conceder o dom da perseverança a alguns de seus filhos, não deve ser algo que nos impressione, porém devemos ter em mente que este fato não acontece quando se trata daqueles que são predestinados e chamados segundo seus desígnios, os quais são os filhos da promessa.
Aqueles outros - os que são chamados sem ser segundo seus desígnios - enquanto vivem cristãmente são denominados filhos de Deus, mas como hão de viver na impiedade e na impiedade morrer, não os podemos chamar de filhos de Deus pela presciência divina. Pois, há filhos de Deus que ainda não o são para nós, mas o são para Deus.
A respeito deles diz o evangelista João: (Caifás) profetizou que Jesus iria morrer pela nação, e não só pela nação, mas também para congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos.
A respeito deles diz o evangelista João: (Caifás) profetizou que Jesus iria morrer pela nação, e não só pela nação, mas também para congregar na unidade todos os filhos de Deus dispersos.
A morte de Cristo reuniria os que haveriam de crer pela pregação do evangelho. No entanto todos estes,antes que acontecesse a pregação, ou que existisse a reunião, já eram filhos de Deus registrados nos pensamentos de Deus, com garantia indiscutível.
Há outros que denominamos filhos de Deus por terem recebido uma graça, embora temporalmente, mas não o são para Deus. A eles o apóstolo João se refere com as seguintes palavras: "eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, pois se tivessem sido nossos teriam permanecido conosco". Veja bem, João não diz: "eles saíram dentre nós, mas porque não permaneceram conosco, já não são dos nossos. Ele afirma que saíram de entre nós, mas não eram dos nossos!
Em realidade, João quis dizer: "embora parecesse serem dos nossos, não eram dos nossos."
E se alguém lhe perguntar: COMO PROVAS?.
Responda: "se tivessem sido nossos teriam permanecido conosco". Esta é a voz do Filho de Deus, assim fala João, que ocupa um lugar de destaque entre os filhos de Deus.
Responda: "se tivessem sido nossos teriam permanecido conosco". Esta é a voz do Filho de Deus, assim fala João, que ocupa um lugar de destaque entre os filhos de Deus.
Portanto,quando os filhos de Deus dizem a respeito dos que não perseveraram: Eles saíram de entre nós, mas não eram dos nossos, e acrescentam: Se tivessem sido nossos, teriam permanecido conosco, acaso não afirmam que não eram filhos, embora declarassem sê-lo e tivessem este nome, não, porém por hipocrisia, mas porque não perseveraram?
O apóstolo João não diz: "Se tivessem sido dos nossos teriam praticado conosco a verdadeira e não a fingida justiça", mas, diz:"Se tivessem sido dos nossos teriam permanecido conosco". Desejava, sem dúvida, que perseverassem no bem, pois certamente praticavam o bem, mas porque nele não perseveraram até o fim, "não eram dos nossos".
Em outras palavras: "quando estavam conosco, não pertenciam ao número dos filhos, mesmo professando a fé dos filhos".
Os que de fato são filhos, Deus os conheceu predestinou a serem conforme à imagem de seu Filho, e foram chamados segundo seus desígnios, para serem escolhidos. Pois, o que perece não é o filho da promessa, mas o filho da perdição.
Estes cristãos fizeram parte do inumerável grupo dos chamados, mas não pertenceram ao pequeno número dos escolhidos.
Deus não concedeu a perseverança a seus filhos não predestinados. Eles só a teriam se fossem enumerados entre os filhos. E o que possuiriam que não tivessem recebido (1Cor 4,7), de conformidade com a verdadeira e apostólica sentença? E assim, tais filhos teriam sido dados ao Cristo filho, de acordo com o que Ele disse ao Pai: "Que eu não perca nenhum dos que me deste, mas tenha a vida eterna.
São considerados como dados a Cristo os que foram destinados à vida eterna. Estes são os predestinados e chamados segundo seu desígnio. Nenhum deles perecerá e consequentemente nenhum deles se desviará do bem para o mal, antes de terminar esta vida, porque estão de tal modo destinados e dados a Cristo, que não hão de perecer, mas terão a vida eterna, Da mesma forma, aqueles que dizemos serem seus inimigos ou filhos de seus inimigos, todos eles os há de regenerar e assim terminarão esta vida na fé que opera pela caridade. Antes que isto aconteça, são filhos de Deus pela predestinação e são dados a Cristo para que não pereçam, mas alcancem a vida eterna.
Finalmente, o próprio Salvador diz: " Se permanecerdes na minha palavra, sereis em verdade, meus discípulos".
Acaso entre os que alcançam a vida eterna haveria de ser incluído Judas, que não permaneceu em sua palavra? Ou aqueles discípulos citados por João em seu evangelho depois que Jesus recomendou que se comesse de sua carne e se bebesse do seu sangue?
<<< Muitos de seus discípulos ouvindo-o disseram: "Esta palavra é dura. Quem pode escutá-la?" Compreendendo que seus discípulos murmuravam por causa disso, lhes disse Jesus: "Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subir aonde estava antes? O espírito é que vivifica, a carne para nada serve. As palavras que vos disse são espírito e vida. Alguns de vós, porém, não creem". Jesus sabia, com efeito, desde o princípio, quais eram os que não acreditavam e quem era aquele que o entregaria. Então dizia: "Por isto vos afirmei que NINGUÉM PODE VIR A MIM, SE ISTO NÃO LHE FOR CONCEDIDO PELO PAI". A partir deste momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com Ele.>>>
Atentem para o evangelho: "conforme seu dizer, não foram estas pessoas chamados de discípulos?"
Mas em verdade não eram discípulos, pois não permaneceram na palavra conforme o que é dito pela sentença: "se permanecerdes na minha palavra, sereis, em verdade, meus discípulos".
Faltando-lhes a perseverança, não eram verdadeiros discípulos de Cristo, nem foram de fato filhos de Deus, embora parecessem e assim tivessem sido denominados.
Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo, após dizer: "E nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem daqueles que o amam", acrescentou: "daqueles que são chamados segundo o seu desígnio", sabendo que alguns amam a Deus, mas não permanecem no bem até o fim.
Os chamados segundo seu desígnio perseveram no amor a Deus até o fim, e os que temporalmente dele se desviaram retornam para levar a termo a obra que começaram.
A título de explicação do que seja; SER CHAMADOS SEGUNDO SEU DESÍGNIO, o apóstolo Paulo continuou: "Porque os que de antemão ele conheceu, esses também predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de ser ele o primogênito entre muitos irmãos. E os que predestinou, também os chamou, -- ou segundo o seu desígnio -- e os que chamou também os justificou, e os que justificou, também os glorificou.
Tudo isto já aconteceu: conheceu de antemão, predestinou, chamou, justificou, porque todos já foram conhecidos e predestinados, e muitos já foram chamados e predestinados. Quanto à afirmação feita no final: também os glorificou, ainda não se verificou, pois se trata daquela glória, da qual o mesmo apóstolo fala em sua carta aos colossenses: "Quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória".
Embora as duas coisas: chamou e justificou, não se tenham verificado em todos os mencionados, pois muitos deverão ser chamados e justificados até o fim dos séculos, expressou-se mediante verbos no tempo passado significando o futuro, como se Deus já houvesse realizado o que já dispôs desde toda a eternidade. A este propósito diz o profeta Isaías: "Aquele que fez as coisas que existirão".
Por conseguinte, todos os que, na disposição providente de Deus, são conhecidos de antemão, foram chamados, justificados, glorificados, não digo antes de renascerem pelo batismo, mas mesmo ainda não nascidos, já são filhos de Deus e de forma alguma podem perecer.
Estes, em verdade vêm a Cristo e do modo como Ele disse: "Todo aquele que o Pai me der, virá a mim, eu não o rejeitarei. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu".
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Será dado a perseverança no bem até o fim, a qual dará aos que não perecerão, pois hão de perecer os que não perseverarem.
Livro "A Correção da Graça", capítulo IX. Volume 2 de A GRAÇA.
Coleção Patrística - Editora Paulus.
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