sexta-feira, 26 de abril de 2013

LEVÍTICOS 18, 22; "A DETURPAÇÃO"!

LEVÍTICOS 18, 22; "A DETURPAÇÃO"!
Todos os cristãos sabem que a Bíblia foi escrita por  vários homens, em épocas e lugares diversos sob a inspiração divina, e que cada escritor se constituiu em um porta voz de Deus para que ELE falasse ao seu povo. Quase todos os cristãos sabem que a Bíblia não é um simples manual de regras ou uma enciclopédia de normas, porém todos sabem que ela é a Palavra de Deus.
O que muitos cristãos desconhecem, e os poucos que conhecem se esquecem, é que a Bíblia em sua forma original não era dividida em capítulos e versículos. Por exemplo: "os livros históricos são narrativas escritas em um único bloco; os livros dos profetas foram escritos em forma de oráculos; o novo Testamento é composto principalmente de cartas dos apóstolos enviadas às comunidades cristãs nascentes, etc.
O primeiro método de divisão da Bíblia foi usado pelos judeus quando voltaram do exílio na Babilônia. Ao estabelecerem as reuniões semanais nas sinagogas a fim de lerem a Escritura Sagrada, também estabeleceram que ao início de cada reunião fosse lido um texto da Torá e ao final um texto dos livros dos Profetas, e para que pudessem ler em um ano toda a Torá, a dividiram em 54 seções, que era o número médio de reuniões anuais.
Os primeiros cristãos, de maioria judia, mantiveram  o costume das reuniões semanais para a leitura das Escrituras. Ao VT, juntaram os Evangelhos e as cartas do NT, também os dividindo em seções. 
Com o passar dos séculos cresceu o interesse, tanto pela leitura quanto por um conhecimento mais exato da Palavra de Deus, e como as divisões litúrgicas mostraram ser insuficiente, a solução foi a divisão mais apurada de todos os livros da Bíblia, tarefa que foi entregue a Estevão Langton, professor da Sorbone em Paris. Em 1220 usando o novo texto em latim da Vulgata, ele apresentou a primeira Bíblia totalmente dividida em capítulos.
À medida que o estudo bíblico se tornava mais preciso e minucioso, os capítulos também se tornaram insuficientes impondo-se uma subdivisão dos mesmos. Em 1528, o dominicano Santos Pagnino publicou uma Bíblia completa na qual os capítulos estavam subdivididos em frases mais curtas, porém o mérito real da autoria do nosso atual sistema de subdivisão em versículos pertence ao editor protestante Robert Stefano. Ele publicou primeiro o NT em 1551, e depois a Bíblia completa em 1555.
O sistema da subdivisão em versículos facilitou e muito o estudo bíblico aprofundado e meticuloso, mas devido a várias deficiências e imperfeições, se tornou também um facilitador para exegese e  interpretações  errôneas e tendenciosas.  
Por comodidade, ignorância e, até por conveniência, muitos são os cristãos que focam o estudo "exegético interpretativo" em versículos isolados desconsiderando por completo o contexto no qual  estão inseridos. 
Esta prática errada se tornou frequente e é usada com intensidade maior a cada dia.
Um bom exemplo deste uso errôneo é a citação de Levíticos 18, 22: ["NÃO TE DEITARÁS COM UM HOMEM COMO SE DEITA COM UMA MULHER. É UMA ABOMINAÇÃO"], que muitos evangélicos tem feito aos gays, ultimamente. Levíticos 18, 22 não deve ser citado isoladamente, e muito menos como correção e condenação de práticas escusas de não convertidos. 
                         Ele é fração de um "Todo", o conjunto de normas comportamentais, denominado Lei da Santidade, dadas por por Deus ao povo hebreu, onde todas as normas estão em forma de PROIBIÇÕES, e cada uma vem acompanhada do respectivo  CASTIGO.
 [O conjunto de normas chamado Lei da Santidade era originariamente um texto único separado do Pentateuco, e foi incorporado ao livro de Levíticos pelos sacerdotes após o retorno do exílio babilônico. "A Santidade é um dos atributos essenciais do Deus de Israel. A ideia primeira é a de separação, de inacessibilidade, de transcendência que inspira temor religioso.Santidade, que se transmite àquele que se aproxima de Deus,ou lhe é consagrado. Santidade, requerida ao povo de Israel, que era o povo de Deus" ]. 
 O conjunto Lei da Santidade é formado pelo texto que vai do capítulo 17 ao 26 do livro de Levíticos, sendo que no 18 situa-se a seção das proibições sexuais e no 20 as respectivas punições. 
                     As palavras introdutórias do capítulo 18, versos 1, 2, 3:   ["Iahweh falou a Moisés: fala aos israelitas; tu lhes dirás: 'Eu sou Iahweh o vosso Deus'. Não procedereis como se faz na terra do Egito, onde habitastes; não procedereis como se faz na terra de Canaã, para onde vos conduzo. Não seguireis seus estatutos, mas praticareis as minhas normas e guardareis os meus estatutos, e por ele vos conduzireis"], não deixa dúvidas de que as proibições foram dirigidas ao povo de Israel, não se expandindo às outras nações. A finalidade de Deus era  impedir que os hebreus ao entrarem na nova terra se contaminassem com as práticas e costumes dos antigos habitantes, os quais Ele acabara de expulsar, exatamente porque seus atos lhe eram desagradáveis. A exigência  do cumprimento de todas as normas, foi a forma que Ele usou para preservar o seu povo, e não tê-los de vomitar de sua presença, assim como havia feito com os habitantes anteriores. ( Lv 18, 24 a 28).  
                 Desde a  elaboração da Lei da Santidade já se passaram mais de três mil anos, e, é lógico que para Deus continua sendo abominação o 'homem se deitar com outro homem como se deita com mulher', porém, precisa-se tomar muito cuidado ao tirar Levíticos 18,22 de seu contexto, e citá-lo isoladamente à pessoas não convertidas, como se tratasse de um mandamento pétreo. 
A citação, da forma como tem sido feita é desaconselhável, e no próprio contexto há no mínimo três motivos bem fortes para não fazê-la.
1- Se o verso 22 for uma lei, o 18 também. "Não tomarás para o teu harém uma mulher e ao mesmo tempo, a irmã dela, descobrindo a nudez desta durante a vida de tua irmã.     Aí admitir-se-ia que a Bíblia aceita como legítimo o homem possuir várias mulheres.
2- No verso 29 o decreto bíblico é: "Porque todo aquele que cometer uma dessas abominações, (as constantes nos versos de 6 a 23qualquer que seja, sim, todos aqueles que as cometerem serão extirpados do seu povo"
Aí, pelo menos três perguntas precisam ser feitas: "Como será realizada a extirpação nos dias atuais?" "Qual é a lei que dará a legitimidade à extirpação?" "Como, em quê, e de que maneira será fundamentado o processo?"   
3- Para cada proibição há o consequente castigo, e o decretado ao transgressor do verso 22 está no verso 13 do capítulo 20:
"O homem que se deita com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometem abominação; deverão morrer e o seu sangue cairá sobre eles". Agora, admitir-se-ia que a Bíblia, não só é homofóbica, como também se constitui em um instrumento incitador da violência.
Uma análise cuidadosa aconselha a não se apegar, ou aceitar a exegese de versículos isolados desconsiderando o contexto, pois além das consequencias que, em muitos casos serão desastrosas, ainda há outro detalhe a ser considerado, ou uma pergunta a ser respondida: "Porque Deus não inspirou os escritores da Bíblia a escrever os livros divididos em capítulos e versículos?" 
Todos os cristãos devem estar cientes de que a OBRA não lhes pertence, e estar conscientes de que são apenas "vasos", nas mãos do oleiro. Portanto, o mais sensato e correto a ser feito é pregar e proclamar o verdadeiro Evangelho a todas às pessoas, a todo o momento, em todos os lugares, pois está escrito:
               "A FÉ VEM DA PREGAÇÃO E A PREGAÇÃO É PELA PALAVRA DE CRISTO"! (Romanos 10,17).






 Por Fabio S Faria em 20 de abril de 2013.














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