sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A ORIGEM DAS ESPÉCIES SEGUNDO SANTO AGOSTINHO!



Para o bispo de Hipona, o relato bíblico da Criação expressa a potencialidade dinâmica da obra divina.

Por Alister McGrath

Neste ano de 2010, ano que marca o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, e os 150 anos da publicação de seu célebre livro "A origem das espécies", muitos debates acerca da obra do naturalista britânico têm ganhado corpo. Para inúmeros estudiosos, o darwinismo, baseado na concepção da aleatoriedade do surgimento da vida e em sua capacidade de evoluir, eleva-se da categoria de simples teoria científica para uma verdadeira visão de mundo, forma de ver a realidade que exclui Deus permanentemente. Já outros reagem fortemente contra os apologistas do secularismo. O ateísmo, eles argumentam, tem usado teorias científicas como armas em sua guerra contra a religião. Eles também temem que as interpretações bíblicas estejam se adaptando às teorias científicas modernas. Certamente, dizem, a Criação narrada em Gênesis deve ser interpretada literalmente, como um relato histórico do que realmente aconteceu. Por outro lado, muitos evangélicos de hoje temem que os modernistas abandonem a longa tradição de uma exegese bíblica fiel. Eles dizem que a Igreja sempre tratou o relato da Criação como uma história clara do surgimento das coisas. Entre os dois extremos, a autoridade das Escrituras parece estar em jogo.
O aniversário de Darwin é um convite a olhar o assunto em perspectiva. Afinal de contas, desde que ele formulou suas teses após a épica viagem a bordo do navio Beagle, muita coisa mudou – no entanto, o evolucionismo continua sendo a tese mais universalmente aceita para explicar o surgimento da vida no planeta. E o relato bíblico da Criação, que durante séculos a fio embasou qualquer estudo acerca do tema, tem sido constantemente posto em xeque não apenas pela modernidade, mas por muitos estudiosos cristãos, que enxergam ali muito mais um compêndio religioso do que uma narrativa confiável. Na história da Igreja, o assunto sempre suscitou controvérsia, e a mera aceitação da literalidade bíblica em relação às origens sempre foi questionada. 
O teólogo, professor e bispo Agostinho de Hipona (354-430), embora tenha interpretado a Escritura mil anos antes da Revolução Científica, não tinha problemas em relação às controvérsias sobre as origens. O mais marcante em sua trajetória é que ele não comprometeu a interpretação bíblica para acomodá-la às teorias vigentes em seu tempo. Para Agostinho, o mais importante era deixar a Bíblia falar por si mesma.
Há pelo menos quatro pontos nos seus escritos em que tenta desenvolver um relato sistemático de como aquela passagem deve ser entendida – e cada um é sutilmente diferente um do outro. Em “O significado literal de Gênesis”, comentário escrito durante quatorze anos no início do século 5, Agostinho deixa clara sua crença de que Deus trouxe todas as coisas à existência em um só momento, ainda que a ordem criada não seja estática. Ou seja, o Criador teria dotado as criaturas com capacidade de desenvolvimento, como uma semente, cuja vida está contida em si, mas só se desenvolve e cresce no momento certo. Usando uma linguagem mais técnica, Agostinho incita seus leitores a pensar sobre a ordem criada como algo que contém casualidades divinas ocultas que só emergirão futuramente. É que até aquele momento o bispo não tinha noção de acaso ou de mudanças arbitrárias na obra divina. O desenvolvimento da Criação está sempre sujeito à soberana providência de Deus, que não apenas cria a semente, como direciona o tempo e o lugar do seu crescimento.
Agostinho argumenta que o primeiro relato sobre a Criação não pode ser interpretado isoladamente, mas deve ser entendido ao longo da segunda parte, descrita em Gênesis 2.4-25, e também por qualquer outra narração sobre o tema nas Escrituras. Por exemplo, ele sugere que o Salmo 33.6-9 – cujo resumo é “Pois ele falou, e tudo se fez” – menciona a origem instantânea do mundo através da palavra criadora de Deus, enquanto o texto de João 5.17 (onde Jesus diz “meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”) aponta que o Senhor ainda está agindo na Criação. Além disso, ele enfatiza que uma leitura detalhada dos primeiros textos bíblicos aponta que os seis dias da Criação não são períodos cronológicos delimitados, e sim, uma forma de categorizar o trabalho criador de Deus. Em síntese, Agostinho cria que o Senhor criou o mundo em um instante a partir de sua vontade, mas continua a moldá-lo, mesmo hoje em dia.
O bispo de Hipona estava preocupado de que os intérpretes estivessem fechados às novidades cientificas quando liam a Bíblia, fato que gerou conflitos mais de dez séculos depois, quando Copérnico desafiou a crença tradicional de que o Sol é que girava em torno da Terra, e não o contrário. O detalhe é que, em pleno século 16, a Igreja interpretou a teoria heliocêntrica como um desafio para a autoridade da Bíblia. Não era, com certeza, e constituiu-se em mais um desafio para que se interpretasse a Palavra de Deus de maneira mais ampla – uma interpretação com urgente e constante necessidade de revisão. Já no seu tempo, Agostinho preconizava que algumas passagens bíblicas estão abertas para diversas interpretações e não devem se casar com as predominantes teorias científicas.  Por outro lado, a Bíblia se torna prisioneira do que um dia foi considerado uma verdade cientifica: em assuntos tão obscuros e distantes da nossa visão, nós encontramos nas Sagradas Escrituras passagens que podem ter várias interpretações sem que a fé que um dia recebemos seja prejudicada.
Essa aproximação de Agostinho fez com que teólogos não caíssem numa visão pré-científica do mundo, e o ajudou a não se comprometer em face das pressões culturais, que eram enormes. Por exemplo, muitos pensadores contemporâneos consideraram incoerente a visão cristã sobre a criação ex nihilo (do nada). Cláudio Galeno, médico do então imperador romano Marco Aurélio, por exemplo, rejeitou isso como uma lógica e metafísica absurda. Agostinho argumenta também que o tempo faz parte da ordem criada. Ou seja, no seu entender Deus criou espaço e tempo juntos, e este último só existe dentro do universo criado. Para alguns, porém, a ideia de que o tempo tenha sido criado parece ridícula.
Novamente aqui, Agostinho se opõe à ideia de que a narrativa bíblica não pode ter interpretações alternativas. Assim, o tempo deve ser visto como uma das criaturas e servos de Deus; por outro lado, a infinidade é uma característica essencial da eternidade. Mas a esta altura surge uma dúvida essencial: então, o que Deus estava fazendo antes da criação do universo? Para o teólogo, o Senhor não trouxe a criação à existência num momento especifico, pois o tempo não existia antes da Criação. Interessante, pois é exatamente esse o estado da existência, o chamado Caos, que muitos cientistas defendem ter havido antes do hipotético Big Bang, a gigantesca explosão que, há mais de 13 bilhões de anos, teria dado origem ao universo.
Agostinho poderia até estar errado ao afirmar que a Escritura ensina claramente que a Criação foi instantânea. Os evangélicos creem, apesar de tudo, na infalibilidade da Escritura, não na infalibilidade das interpretações. Como alguns nos lembram, o próprio Agostinho não era constante nas suas convicções acerca das origens. Outras posições certamente existem – por exemplo, a ideia de que os seis dias de Criação, mencionados no Gênesis, foram seis períodos de 24 horas, ou a tese de que eles representam, na verdade, seis extensos períodos, cada um deles com seus milhões de anos. Todavia, a posição de Agostinho nos obriga a refletir sobre essas questões, mesmo que achemos que ele estava errado – e aí está um dos motivos da relevância de seu legado.
Afinal de contas, quais são as implicações dessa antiga interpretação bíblica sobre as afirmações de Darwin? Primeiro, Agostinho não limita os atos de criação à Criação inicial. Deus ainda está, ele insiste, trabalhando com o mundo, direcionando seu continuo desenvolvimento e expandindo seu potencial. Para ele, há dois “momentos” na Criação: aquele primordial e um contínuo processo de direcionamento. Logo, a Criação não é um instante circunscrito ao passado remoto. O Senhor continua trabalhando no presente, ele escreve, sustentando e direcionando o sucessivo desabrochar das gerações. Esse duplo foco sobre a Criação permite ler Gênesis de uma forma que afirma que Deus criou todas as coisas do nada. Porém, isso também nos permite afirmar que o universo foi criado com a capacidade de evoluir, sob a soberana direção de Deus – dessa forma, o primeiro estágio da Criação não corresponde ao que vemos agora.
Para Agostinho, o Senhor criou um universo deliberadamente designado para se desenvolver e evoluir. E o plano para essa evolução não é arbitrário, mas programado na estrutura de tudo quanto foi criado. Os primeiros escritores cristãos tomaram nota de como o primeiro relato do Gênesis falava sobre a terra e a água dando origem à vida. Eles diziam que isso mostra como Deus dotou a ordem natural com a capacidade de gerar criaturas. Agostinho foi ainda mais longe: ele sustentava que Deus criou o mundo com uma série de poderes adormecidos, que são consumados em certo momento, de acordo com a divina providência. Uma das evidências disso seria o texto de Gênesis 1.12, que sugere que a terra recebeu o poder de produzir vida por si mesma. A imagem da semente, ali mencionada, sugere que a Criação original contém em si mesma o potencial de fazer emergir todos os subsequentes tipos de vida. Isso não significa que Deus criou o mundo incompleto e imperfeito, como pretendia Darwin ao enfatizar a necessidade da evolução; esse processo de desenvolvimento, Agostinho declara, é governado por leis fundamentais, que revelam a vontade do Criador: “Deus estabeleceu leis fixas que governam a produção das espécies de seres, e os tira do esconderijo para serem vistos completamente”, diz em seu comentário.
Por outro lado, enquanto alguns podem entender a Criação como Deus inserindo novos tipos de plantas e animais num mundo já existente, Agostinho considera isso uma incoerência com o resto das Escrituras. Antes, o Senhor deve ser visto como o criador, naquele primeiro momento, da potencialidade de todas as coisas vivas que iriam surgir depois, incluindo a humanidade. Isso significa que o primeiro relato das Sagradas Escrituras descreve o instantâneo surgimento da matéria primitiva, incluindo os recursos para o desenvolvimento futuro. O segundo relato explora como essas possibilidades casuais surgiram e se desenvolveram na terra. Na visão agostiniana, esses dois relatos sobre a Criação revelam que Deus criou o mundo instantaneamente, enquanto imaginava que as outras espécies de vida iriam aparecer gradualmente durante os tempos.
Em posição diametralmente oposta à de Charles Darwin, Agostinho rejeitaria qualquer idéia do desenvolvimento do Universo como um processo aleatório e desprovido de leis. Por isso, ele teria se oposto à visão darwinista de variação casual, insistindo que a providência de Deus está profundamente envolvida no desenvolvimento da vida. O processo pode ser imprevisível; casual, nunca. Previsivelmente, Agostinho aproxima o texto da pressuposição cultural prevalente da fixação das espécies, e não viu nisso algo que desafiasse seu pensamento sobre esse assunto – apesar de a maneira com a qual ele critica as autoridades contemporâneas e de sua própria experiência sugerir que, pelo menos nesse assunto, ele estaria aberto a correções mediante a luz de descobertas cientificas.
O significado literal de Gênesis realmente nos ajuda a lidar com as questões levantadas por Darwin? Vamos deixar claro que a obra de Agostinho não responde esses questionamentos; todavia, nos ajuda a ver que o real problema não é a autoridade bíblica, mas sua interpretação. Além disso, ele oferece uma maneira clássica de pensamento que ilumina muitos debates ainda hoje, quase 1,6 mil anos após sua morte. Nesse assunto, Agostinho nem é liberal nem acomodado; mas totalmente bíblico, tanto no sentido quanto na intenção. Nós precisamos de paciência, generosidade e graça para refletir sobre essas grandes questões. 
E Agostinho pode nos ajudar a começar.






O ex-ateu Alister McGrath é professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e pesquisador sênior do Harris Manchester College, no Reino Unido. 
Possui doutorados em biofísica molecular e em teologia pela Universidade de Oxford.

http://www.cristianismohoje.com.br/materia.php?k=648
Publicado no site da revista em 21- 11- 2010

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domingo, 9 de dezembro de 2012

SALVO DE QUÊ?



Certa vez, fui confrontando por um jovem na Filadélfia que me perguntou:
 “Você está salvo?” 
Minha resposta para ele foi: “Salvo de quê?”.
 Ele foi pego de surpresa com a minha pergunta. Obviamente, ele não tinha pensado muito sobre o significado da questão que estava perguntando. Certamente eu não estava salvo de ser interrompido na rua e abordado com a pergunta “Você está salvo?”.
A questão de ser salvo é a questão suprema da Bíblia. O assunto das Sagradas Escrituras é o tema da salvação. Jesus, em sua concepção no ventre de Maria, é anunciado como o Salvador. Salvador e salvação caminham juntos. O papel do Salvador é salvar.
Perguntei novamente: Salvo de quê?
 O significado bíblico de salvação é amplo e variado. Na forma mais simples, o verbo salvar significa “resgatar de uma situação perigosa ou ameaçadora”. Quando Israel escapa da derrota nas mãos de seus inimigos no campo de batalha, ele se diz salvo. Quando as pessoas se recuperam de uma doença com risco de vida, elas experimentam salvação. Quando a colheita é resgatada de praga ou seca, o resultado é a salvação.
Usamos a palavra salvação de uma maneira similar. Diz-se que um boxeador foi  ”salvo pelo gongo” se o round termina antes do árbitro iniciar a contagem. Salvação significa ser resgatado de alguma calamidade.
 No entanto, a Bíblia usa o termo salvação em um sentido específico para se referir à nossa redenção definitiva do pecado e à reconciliação com Deus. Neste sentido, a salvação é da calamidade final – o juízo de Deus. A salvação final é realizada por Cristo, “que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10).
A Bíblia anuncia claramente que haverá um dia de julgamento, em que todos os seres humanos serão responsabilizados diante do tribunal de Deus. Para muitos, esse “dia do Senhor” será um dia de trevas, sem luz. Esse será o dia em que Deus vai derramar sua ira contra os ímpios e impenitentes. Será o holocausto final, a hora mais escura, a pior calamidade da história humana.  Ser liberto da ira de Deus, que muito certamente virá sobre o mundo, é a salvação definitiva. Esta é a operação de resgate que Cristo executa para o seu povo, como seu salvador.
A Bíblia usa o termo salvação não só em muitos sentidos, mas em muitos tempos.
 O verbo salvar aparece em praticamente todos os possíveis tempos da língua grega. Há o sentido de que fomos salvos (desde a fundação do mundo); estávamos sendo salvos (pela obra de Deus na história); somos salvos (por estar em um estado justificado); estamos sendo salvos (por estarmos sendo santificados ou tornado santos) e seremos salvos (por experimentar a consumação da nossa redenção no céu). A Bíblia fala da salvação em termos de passado, presente e futuro.
Às vezes, nós igualamos a nossa salvação presente com a nossa justificação. Em outros momentos, vemos a justificação como um passo específico na ordem total ou plano de salvação.
Por fim, é importante notar outro aspecto central do conceito bíblico de salvação: 
A salvação é do Senhor. Salvação não é uma iniciativa humana. Os seres humanos não podem se salvar. A salvação é uma obra divina, que é realizada e aplicada por Deus. 
 Somos salvos pelo Senhor e do Senhor
É o ele quem nos salva da sua própria ira.
Fonte: Ipródigo

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sábado, 1 de dezembro de 2012

POR QUEM JESUS PROVOU A MORTE?




John Piper


John Piper é um dos ministros e autores cristãos mais proeminentes e atuantes dos dias atuais, atingindo com suas publicações e mensagens milhões de pessoas em todo o mundo. Ele exerce seu ministério pastoral na Bethlehem Baptist Church, em Minneapolis, MN, nos EUA desde 1980.

"Vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos." (Hebreus 2:9)

Para aqueles a quem Ele veio salvar

 Ontem marchei para Jesus, juntamente com milhares de pessoas nas cidades gêmeas (Minneapolis e Saint Paul) e com milhões ao redor do mundo. Quando fiz a curva do Nicollet Mall em direção à rua Sexta, estávamos cantando a segunda estrofe de "Oh, venham coroar Jesus o Salvador". Eu provavelmente era o único que já estava pensando na mensagem desta manhã. E o título desta mensagem é: "Por quem Jesus provou a morte?".

A estrofe de "Oh, venham  coroar Jesus o Salvador" é mais ou menos assim:

Coroe o Senhor da Vida

Que triunfou sobre o túmulo

E levantou-se vitorioso na contenda

Para aqueles a quem Ele veio salvar

Sua glória agora nós cantamos

Quem morreu e subiu às alturas

Quem morreu para trazer a vida eterna

E vive para morte exterminar

Ele triunfou sobre a morte e ressurgiu vitorioso da luta por aqueles a quem veio salvar.

"Para aqueles a quem Ele veio salvar." Estas palavras parecem indicar que o escritor deste hino acredita que Jesus Cristo tinha um projeto para realmente salvar um determinado grupo de pessoas pela Sua morte. Ele triunfou sobre a morte para aqueles a quem Ele veio salvar. Parece haver alguns que ele veio salvar, e que para estes a morte foi derrotada e a vida eterna é dada.

 Para Todos?

 Minha questão nesta manhã é a seguinte: "Por quem Cristo provou a morte?". Pergunte a 100 pessoas cristãs evangélicas na América e 95 provavelmente dirão: "Todos". E há algo muito positivo nesta resposta – e algo negativo. O lado positivo é que não é faccioso ou elitista ou sectário. Olha-se para o mundo, querendo que outros desfrutem do perdão dos pecados que os crentes desfrutam. Não é restrito e limitado em suas afeições.

Ele tenta expressar a verdade bíblica de que Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho único para que todo aquele que crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). É saudável e correto acreditar que todo aquele que tem fé - não importa a raça, ou o grau de instrução, ou a inteligência, ou a classe social, ou a religião – todo aquele que coloca a fé em Jesus Cristo é justificado e aceito por Deus, com base no sangue derramado de Jesus. É saudável e correto acreditar que ninguém pode dizer: "Eu realmente quero ser salvo por Jesus acreditando, mas eu não posso ser, porque Ele não morreu por mim." Ninguém pode dizer isso. Não há quem tenha verdadeira fé por quem Jesus não morreu.

Há muitas razões pelas quais esta resposta (que Jesus provou a morte por todos) é um sinal de boa saúde espiritual. Uma das razões mais óbvias está aqui, no nosso texto, Hebreus 2:9:

"Vemos, porém, aquele que foi feito um pouco menor que os anjos, Jesus, coroado de glória e honra, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos."

A resposta que 95% dos evangélicos dariam é um sinal da existência da vontade de dizer o que a Bíblia diz.

Mas dizer o que a Bíblia diz e dizer o que ela significa não são necessariamente a mesma coisa. É por isso que eu disse que há algo de negativo em responder à pergunta "Por quem Jesus provou a morte?" simplesmente dizendo "todo mundo". O que é negativo, não significa, em primeiro lugar, que seja errado. Pode não estar errado. Depende do que você quer dizer com isso. O que é negativo é que este argumento não se aprofunda no que Jesus realmente cumpriu quando morreu. Ele presume que todos sabemos o que Ele fez, e que realizou seu sacrifício por todos da mesma maneira. Isso não é saudável, porque não é verdade. Meu palpite é que a maioria desses 95% que dizem que Jesus morreu por todos teriam dificuldade em explicar exatamente o que é que a morte de Jesus realizou para todos - especialmente o que é que foi feito para aqueles que se recusam a acreditar e irão para o inferno.

Então por que nem todos são salvos?

 Em outras palavras, não é saudável dizer que Jesus provou a morte por todos e não saber o que Jesus realmente cumpriu ao morrer. Suponha que você me diga: "Eu creio que Jesus morreu por todos," e eu respondo: "Então por que nem todos são salvos?" Sua resposta provavelmente seria: "Porque você tem que receber o dom da salvação, você tem que crer em Cristo para que a morte dEle possa valer para você." Eu concordo, mas então eu digo: "Então você acredita que Cristo morreu por pessoas que o rejeitam e vão para o inferno, da mesma forma que ele morreu por aqueles que o aceitam e vão para o céu?" Você diz: "Sim, a diferença é a fé daqueles que vão para o céu. A fé conecta  você aos benefícios da morte de Jesus."

Há vários problemas nessa resposta. Vou mencionar apenas um. E eu me debruço sobre isso porque, se é nisso que você acredita então você está perdendo as profundas riquezas da aliança de amor que Deus tem para você, em Cristo, por causa desse entendimento de que o amor dele é o mesmo tanto para os que creem quanto para os que O rejeitam. E você está seriamente "negligenciando a sua grande salvação", que vimos em Hebreus 2:3 que não devemos fazer. Se você acredita que aqueles que foram para o inferno foram amados e que a morte de Cristo vale tanto quanto vale para você, você nunca chegará a conhecer a total grandeza do amor do Calvário.

Seria como se uma esposa insistisse para que seu marido a amasse e se sacrificasse por ela, da mesma forma que ele ama e se sacrifica por todas as mulheres do mundo. Mas, na verdade, o apóstolo Paulo diz em Efésios: "Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de santificá-la, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível."

É isso que nós queremos dizer quando nos referimos que Ele morreu pela Igreja, Sua noiva. Em outras palavras, há uma preciosa e incomensurável aliança entre Cristo e Sua noiva, o que O levou a morrer por ela. A morte de Jesus é pela noiva de Cristo de maneira diferente que por aqueles que perecem.

Aqui temos um problema em dizer que Cristo morreu por todos da mesma forma que morreu pela Sua noiva. Se Cristo morreu pelos pecadores que ao final se perderão do mesmo modo que morreu pelos que serão salvos, então por qual motivo os perdidos serão punidos? Os pecados deles foram ou não cobertos pelo sangue de Jesus? Nós Cristãos dizemos: "Cristo morreu pelos nossos pecados" (I Coríntios 15:3). E nós queremos dizer que ele morreu para pagar a dívida que esses pecados geraram. A morte dEle removeu a ira de Deus de sobre mim. A morte dEle retirou a maldição da lei de sobre mim. A morte dEle comprou o céu para mim. Essas coisas realmente se cumpriram na morte dEle!

Mas o que significaria dizer que Cristo morreu pelos pecados de um incrédulo que irá para o inferno? Será que significaria que os pecados deste homem foram pagos? Se foram, então porque ele está pagando novamente no inferno? Significaria que a ira de Deus foi removida? Se sim, porque a ira de Deus foi derramada em punição pelos seus pecados? Significaria que a maldição da lei foi retirada? Se sim, porque ele está tendo que suportar a maldição no lago de fogo?

Uma possível resposta é essa: Alguém pode dizer que a única razão porque as pessoas vão para o inferno é o pecado de rejeitar a Jesus, e não por todos os pecados de suas vidas. Mas isso não é verdade. A Bíblia ensina que a ira de Deus virá sobre o mundo, não somente por rejeitarem a Jesus, mas por causa dos seus muitos pecados não perdoados. Por exemplo, em Colossenses 3:5-6, Paulo se refere à imoralidade, impureza, paixões do mundo, concupiscência e avareza, e diz que "por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência". Então as pessoas que rejeitam a Jesus realmente serão punidas por seus pecados específicos, e não somente por rejeitarem a Ele.

 Em que sentido Jesus provou a morte por uma pessoa no inferno?

 Então, voltamos ao problema: em que sentido Cristo provou a morte pelos pecados deles? Se eles ainda são culpados pelos seus pecados e ainda sofrem punição por causa de seus pecados, o que aconteceu na cruz pelos seus pecados? Talvez alguém use uma analogia. Você poderia dizer que Cristo comprou o ticket deles para o céu e ofereceu isso a eles gratuitamente, mas eles recusaram-se a receber, e por isso estão no inferno. E você estaria parcialmente correto: Cristo realmente oferece o perdão dEle livremente a todos, e qualquer que recebê-lo como o tesouro que é, será salvo por Sua morte. Mas o problema com a analogia é que a compra do ticket para o céu é, na verdade, o cancelamento de pecados. Mas o que nós vimos é que aqueles que recusam o ticket são punidos pelos seus pecados, não podem apenas recusar o ticket. Logo, que significado há em se dizer que os pecados deles foram cancelados? Esses pecados trarão destruição a eles e os manterão fora do paraíso; portanto seus pecados não foram realmente cancelados na cruz e, assim, o ticket não foi comprado.

O ticket para o céu que Jesus obteve para mim pelo seu sangue é limpeza de todos os meus pecados, cobrindo-os, suportando-os em seu próprio corpo para que eles nunca me levassem à ruína – nunca poderão ser colocados sobre mim novamente – nunca. Foi isso que aconteceu quando ele morreu por mim. Hebreus 10:14 diz: "Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo santificados". Aperfeiçoados perante Deus para sempre, pela oferta da vida dele! É isso que significa que ele morreu por mim. Hebreus 9:28 diz: "Cristo, oferecendo-se uma só vez para levar os pecados de muitos". Ele suportou meus pecados. Ele realmente os suportou (veja Isaías 53:4-6). Ele realmente sofreu por causa deles. Eles não podem e não recairão sobre minha cabeça no julgamento.

Se você me diz que, na cruz, Cristo apenas cumpriu por mim o que ele cumpriu por aqueles que sofrerão no inferno por causa dos pecados deles, então você esvazia a morte de Jesus em seus efetivos cumprimentos por mim, e me deixa com o quê? – uma aliança que perdeu seu precioso poder de assegurar que meus pecados foram realmente cobertos e que a maldição foi verdadeiramente retirada e a ira de Deus removida. Esse é um alto preço a se pagar por dizer que Cristo morreu por todas as pessoas no mesmo sentido.

Eu não creio que a Bíblia nos mande ou, de fato, nos permita dizer que Cristo morreu por todos da mesma maneira. O contexto de Hebreus 2:9 é um bom lugar para mostrar que a morte de Cristo teve um plano ou objetivo especial para os escolhidos de Deus, diferentemente do que para outros.

O Que "todos" significa?

 No final do verso 9, o autor diz: "para que, pela graça de Deus, (Cristo) provasse a morte por todos". A questão aqui é se "todos" refere-se a todos os seres humanos sem distinção, ou se refere a todos dentro de certo grupo. Quanto digo "Todos estão presentes?" eu não quero dizer todos os seres humanos do mundo. Eu quero dizer todos do grupo que tenho em mente. Qual é o grupo que o escritor tem em mente: toda a humanidade sem distinção ou algum outro grupo?

Vamos deixá-lo responder, ao averiguar o verso seguinte. O verso 10 é fundamento do 9: Cristo provou a morte por todos "porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e por meio de quem tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles". Em outras palavras, imediatamente após dizer que, pela graça de Deus, Cristo provou a morte por todos, o autor explica que o plano de Deus para o sofrimento de Cristo foi "trazer muitos filhos à glória". Então os versos 9 e 10 se juntam assim: Cristo provou a morte por todos, porque convinha a Deus que o caminho para levar seus filhos à glória fosse através do sofrimento e morte de Cristo.

Isso significa que "todos" do verso 9 provavelmente refere-se a todos os filhos levados à glória no verso 10. Em outros termos, o plano de Deus – o objetivo e propósito de Deus – ao enviar Cristo para morrer foi especialmente para levar seus filhos desde o pecado, morte e inferno, para a glória. Ele tinha um olhar especial aos seus próprios filhos eleitos. É exatamente o que o evangelho de João diz em 11:52 – que Jesus morreria para "congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos". Esses "filhos de Deus", por quem Cristo morreu, são os "filhos" que Deus está levando à glória através da morte de Cristo em Hebreus 2:10.

Você pode observar isso nos versos 11 e 12 também:

"Pois tanto o que santifica (Cristo) como os que são santificados (os filhos que ele leva à glória), vêm todos de um só; por esta causa ele não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo (Salmo 22:22): ANUNCIAREI O TEU NOME A MEUS IRMÃOS, CANTAR-TE-EI LOUVORES NO MEIO DA CONGREGAÇÃO."

Os filhos que Deus leva à glória pela morte de Cristo são agora chamados de irmãos de Cristo. Foi por todos estes que Cristo provou a morte.

O versículo 13 chama-os agora não somente de irmãos, mas, em outro sentido, de filhos de Cristo:

"E outra vez: POREI NELE A MINHA CONFIANÇA (A própria confissão de fé de Cristo em seu Pai, junto com seus irmãos). E ainda: EIS-ME AQUI, E OS FILHOS QUE DEUS ME DEU."

Note que os filhos que estão sendo levados à glória pela morte de Cristo agora são chamados de filhos que Deus deu a Cristo. Eles não somente se tornaram filhos por escolherem a Cristo. Deus agiu em favor deles e os trouxe a Cristo – os deu a Cristo. E por todos estes, ele provou a morte e leva-os à glória. Esse é exatamente o modo que Jesus falou sobre seus discípulos na oração de João 17:6: "Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste". O cenário que temos é um povo escolhido que o Pai livremente e graciosamente deu ao Filho como seus filhos.

Agora note como os versos 14 e 15 ligam o objetivo da encarnação e da morte de Cristo com seu grupo escolhido de filhos:

"Portanto, visto como os filhos são participantes comuns de carne e sangue (visto que aqueles que o Pai deu ao Filho têm natureza humana), também ele semelhantemente participou das mesmas coisas (natureza humana), para que pela morte derrotasse aquele que tinha o poder da morte, isto é, o Diabo; e livrasse todos aqueles que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à escravidão (pelo nome, todos os filhos e irmãos que Deus deu ao Filho para levar à glória por sua morte)."

A razão aqui explicada para a encarnação e morte de Jesus (no verso 14) é que os "filhos" compartilham da carne e do sangue. É por isso que Cristo veio em carne e sangue. E os "filhos", conforme o verso 13, não são humanos comuns, mas filhos de Deus dados a Jesus. E, assim, todo o plano e objetivo da encarnação e morte de Jesus foi o de levar os filhos, os irmãos, dados por Deus a Jesus, à glória.

Sua fé foi comprada pela morte de Cristo

 Vou parar por aqui no nosso texto, mesmo podendo expor pelo resto do capítulo que o objetivo de Deus em enviar Jesus para morrer foi cumprir algo definitivo pelos seus irmãos, seus filhos, dados por Deus a Ele, retirados do mundo. Mas encerrarei e farei uma aplicação para concluir.

Eu não estou nem um pouco interessado em privar o valor infinito da morte de Jesus de ninguém. Que seja conhecido e ouvido muito claramente: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê", eu digo novamente: "todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". Cristo morreu para que todo aquele que (aqui nesta manhã) acredita não pereça, mas viva.

E quando você crê como deve crer, descobrirá que a sua fé, como todas as outras bênçãos espirituais, foi comprada pela morte de Cristo. O seu pecado da descrença foi coberto pelo sangue e, portanto, o poder da misericórdia de Deus foi derramado através da cruz para reprimir sua rebelião e trazê-lo para o Filho. Você não fez a cruz efetiva em sua vida pela fé. A cruz tornou-se eficaz em sua vida ao comprar a sua fé.

Quanta glória há nisso, irmãos! Glória que seus pecados foram realmente cobertos quando Jesus provou a morte por você. Glória que a culpa realmente foi removida quando Jesus provou a morte por você. Glória que a maldição da lei foi realmente retirada e que a ira de Deus foi realmente removida, e que a preciosa fé que une todos vocês a este tesouro, em Cristo, foi um presente comprado pelo sangue de Jesus.

Jesus provou a morte por todo aquele que tem fé. Porque a fé de todo o que crê foi comprada pela morte de Cristo.

Para maiores reflexões veja:

1 Timóteo 4:10; Efésios 5:25–27; Tito 2:14; Atos 20:28;

João 10:15; 11:52; 17:6,9,19; Apocalipse 1:5;3:9; 5:9;

Romanos 8:28–32 1 João 2:2 (compare João 11:52)

2 Pedro 2:1

Fonte: http://pt.desiringgod.org/   
VIA EDITORA FIEL




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