Novas
estratégias de interpretação das Escrituras podem aprofundar a vida do fiel com
Cristo. Por ser um livro extenso, mesmo os leitores mais cuidadosos podem
interpretá-la de muitas maneiras.
Muitas vozes têm se levantado – e com razão – para dizer
que uma crise de interpretação bíblica está em curso. Embora a Bíblia Sagrada
seja o livro de maior circulação no mundo e os cristãos, estimados em mais de
2,3 bilhões de pessoas, sejam o maior grupo religioso do planeta, é preciso
salientar que tal crise não envolve exatamente o declínio do número de leitores
que reconhecem a autoridade das Sagradas Escrituras como Palavra de Deus. O
problema é de outra natureza, bem mais sutil – e preocupante. Acontece que
muitos que leem e interpretam o livro sagrado da fé instituída por Jesus não o
fazem, necessariamente, do ponto de vista cristão.
Em tempos de pragmatismo exacerbado em praticamente todas
as áreas de atividade humana e de uma crescente importância ao chamado bem
estar do indivíduo, mais e mais pessoas têm enxergado a Bíblia como uma espécie
de panaceia para todos os males e angústias. Textos e princípios da Palavra de
Deus são empregados ao arrepio da boa hermenêutica, no objetivo de estimular, e
até mesmo justificar, mesmo as práticas mais mesquinhas. Livros, pregações e
palestras de cunho cristão prometem soluções bíblicas para se ter sucesso nas
finanças, boa saúde, relacionamentos amorosos bem sucedidos – vitória, enfim,
em todas as áreas. Assim, cada crente é incentivado a ver aplicações práticas
de sua fé em vários aspectos da vida, com se a Bíblia fosse um “livro-resposta”
para toda a sorte de necessidades e problemas.
Entretanto, esse tipo de mensagem, centrada no indivíduo
e em suas preferências, carece de uma interpretação da Bíblia como um livro que
questiona as necessidades essenciais do ser humano ou que aponta para muito
além delas. E não são apenas os escritores e preletores bem-intencionados que
falham em oferecer uma abordagem bíblica realmente cristã. Vários estudiosos
interpretam as Escrituras como parte da História antiga, utilizando-a somente
como mais um elemento para responder a questões arqueológicas e sociológicas
sobre a Antiguidade. Outros tentam reconstruir o pensamento de um livro ou de
um autor específico à luz da modernidade. Há quem seja capaz de escrever
profundos ensaios sobre a teologia de Paulo sem considerar, em momento algum,
que Deus esteja falando às pessoas de seu tempo por meio dos textos antigos do
apóstolo – sem falar naqueles que procuram fazer uma correlação entre o
contexto histórico de uma passagem com o mundo atual, mas, inadvertidamente,
sugerem que muitos cristãos não são capazes de entender a Palavra de Deus por
não terem a necessária formação acadêmica.
Em parte, devido a inadequações tanto na leitura popular
quanto acadêmica da Bíblia, um número crescente de estudiosos passou a defender
o que chamam de “interpretação teológica das Escrituras”. Eles incentivam uma
leitura do texto bíblico como instrumento de auto revelação divina e de
salvação do homem por meio de Jesus, enredo central de toda a narrativa do
Antigo e do Novo Testamento. Esta escola de interpretação inclui uma grande
variedade de práticas, mas todas elas visam a promover o conhecimento do Deus
Trino e o discipulado cristão por meio das Escrituras.
Quando se examina a interpretação bíblica, é preciso
prestar atenção à chamada teologia funcional, ou seja, o fato de que a maneira
como se usa a Bíblia reflete as convicções que se têm a respeito dela. Existem,
basicamente, duas abordagens comuns para a utilização das Escrituras. Alguns
leitores se voltam para a Bíblia como se tivessem em mãos o projeto de
construção de um prédio. Em seguida, passam a tentar encaixar passagens
isoladas como se fossem os tijolos. Tal prática parte do princípio de que já se
sabe o sentido maior das Escrituras – portanto, a tarefa de interpretação
bíblica se torna uma questão apenas de descobrir onde determinada passagem se
encaixa no sistema teológico defendido por cada um.
Outros preferem uma abordagem do tipo self-service. Nesta
ótica, muito empregada hoje em dia, a Palavra de Deus é como um enorme buffet
de comida a quilo – cada um escolhe o que vai consumir à vontade, de acordo com
suas preferências teológicas e interesses. Em ambas os casos, tanto o do
projeto de construção quanto o do self-service, as Escrituras são usadas no
sentido de atender a um propósito pessoal. Quem está no controle é o usuário;
ele pode até reconhecer a autoridade bíblica, desde que ela confirme suas
ideias preconcebidas ou o abasteça com conselhos divinos acerca de suas
necessidades. Os leitores que trazem consigo seu próprio projeto pré-concebido
acreditam que não se pode ler as Sagradas Escrituras sem trazer à tona algum
entendimento. Já os do tipo self-service acreditam que a Bíblia é um livro pelo
qual Deus fala diretamente com eles.
“REGRA DE FÉ”
Uma leitura teológica das Escrituras faz uso das duas
suposições, embora de uma forma muito mais profunda e completa. É como se, em
vez de fornecer ao leitor um projeto detalhado, a análise teológica da Bíblia
trouxesse uma espécie de mapa de viagem. Tal mapa, entretanto, não nos oferece
todas as respostas sobre qualquer texto em particular. Em vez disso, a leitura
é o começo de uma jornada na qual Deus, através de sua Palavra, vai ao encontro
do indivíduo, repetidas vezes, trazendo reconfortantes sinais de sua presença e
surpresas que podem até confundir, mas também descortinam novas perspectivas. A
leitura bíblica, portanto, não tem a ver com a montagem de um quebra-cabeça,
mas com a resolução de um mistério. Através das Escrituras, encontramos nada
menos que o misterioso Deus Trino, em pessoa.
Os primeiros cristãos também ensinavam que os seguidores
de Jesus deveriam aproximar-se das Escrituras com uma espécie de mapa teológico
básico em mãos. Por volta do segundo século, Irineu falou sobre a “regra de
fé”, como forma de entender os princípios básicos com os quais os crentes
ortodoxos (em oposição aos gnósticos) deveriam aproximar-se da Palavra de Deus.
Essa regra de fé não foi criação de algum estudioso em particular, mas provinha
do Evangelho e da identidade cristã, fundamentada no batismo: quem lia as
Escrituras o fazia como seguidor de Jesus, batizado em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo. Assim, os primeiros credos batismais, ou declarações de fé,
tinham um caráter trinitário – como o Credo Apostólico, por exemplo – e
forneceram o conteúdo básico da regra de fé.
Mas por que isso foi e é necessário? A Bíblia é um livro
extenso, e mesmo os leitores mais cuidadosos podem interpretá-la de muitas e
diferentes maneiras. Contudo, nem todas essas formas de interpretação são, de
fato, cristãs, na plena acepção da palavra. Por exemplo, uma pessoa pode ler a
Bíblia de modo que veja o Deus de Israel apenas como um juiz, ou seja, uma
antítese do Pai gracioso apresentado nos evangelhos. Mas esta não é a leitura
cristã nem do Antigo nem do Novo Testamento. Nos primeiros séculos do
cristianismo, a regra de fé ajudou a assegurar que os cristãos mantivessem a
conexão entre as duas partes das Escrituras, uma visão ampla na qual o Deus da
Criação e da Aliança, revelado aos patriarcas e à nação de Israel, é também o
Deus revelado em Jesus Cristo. A regra de fé, baseada na crença no Deus Trino,
tem sido um elemento crítico para a leitura da Bíblia desde a Igreja Primitiva,
passando pela Idade Média e pela Reforma Protestante. Os reformadores
enfatizaram que a Escritura (e não a tradição da Igreja) era a única e
definitiva regra de fé. Lutero, Calvino e outros confirmaram isso, de forma
clara e entusiástica, ao defender uma abordagem das Escrituras com base na
Trindade.
Ao interpretar o Velho Testamento assim como o Novo, os
reformadores buscavam ler as Escrituras à luz de Cristo, como o cumprimento das
promessas de Deus na Criação e na Aliança, aplicando esse princípio à Igreja e
aos discípulos de Jesus. Segundo muitos estudiosos contemporâneos, essa regra
de fé trinitária básica estabelece as bases apropriadas para a interpretação da
Bíblia como o livro-texto do cristianismo.
A regra de fé, neste sentido, é o que nos dá a percepção
do que é central e do que é periférico em termos de interpretação bíblica. Ele
não define com antecedência o significado de determinadas passagens; em vez
disso, fornece ao leitor uma melhor percepção da esfera em que se dá a jornada
da leitura da Bíblia, forjando um caminho para uma comunhão mais profunda com o
divino. O novo mundo em que Deus nos coloca por meio das Escrituras é vasto e
amplo, mas também tem um caráter específico. É uma jornada pelo caminho de
Jesus Cristo, pelo poder do Espírito, uma antecipação do clímax da comunhão
final com o Deus Trino.
Mas e a questão da necessidade de conhecimento
especializado para a correta interpretação teológica das Escrituras? Ao mesmo
tempo em que alguns adeptos do movimento da interpretação teológica nos
encorajam a um envolvimento maior com comentaristas pré-modernos e com a
moderna crítica bíblica, eles também têm grande confiança na capacidade das
congregações comuns de se aproximarem das Escrituras como sendo a Palavra de
Deus. Duas dinâmicas são, muitas vezes, ignoradas nas interpretações bíblicas
contemporâneas, especialmente, aquelas baseadas em suposições
histórico-críticas. A primeira é a obra do Espírito de trazer luz à Escritura;
a segunda, a interpretação bíblica “em Cristo”.
Congregações cristãs em todo o mundo cultivam uma
percepção dessas duas realidades quando oram pela iluminação do Espírito,
quando adoram a Deus ou quando aplicam as Escrituras na vida da comunidade em
forma de discipulado e testemunho. É claro que essas práticas não são garantia
de uma hermenêutica fiel, porém são dinâmicas indispensáveis para interpretar a
Bíblia como, de fato, Escritura Sagrada. Isso porque a presença do Espírito em
uma comunidade cristã, estabelecida em Jesus, tem a capacidade única de equipar
esse grupo para interpretar a Bíblia como Palavra de Deus.
IDENTIDADE EM CRISTO
Acontece que aproximar-se da Bíblia com tais pressupostos
teológicos é considerado anátema para muitos teólogos da atualidade. Eles
supõem que as convicções teológicas opõem-se à fiel interpretação bíblica, ao
invés de ser sua potencial aliada. Há uma preocupação genuína por trás dessa
objeção: a de que a teologia deve ser extraída da Bíblia, e não imposta ao
texto escriturístico. Aqueles que fazem esse tipo de objeção, normalmente,
partem do pressuposto de que não somos capazes de ser imparciais em nossa
interpretação, mas sim, que a Bíblia é que deve dar uma espécie de suporte a
nossas conjecturas teológicas.
Embora seja correto procurar extrair da Bíblia a nossa
teologia (e não o contrário), outros estudiosos observam que as convicções
teológicas e as práticas religiosas, como a adoração, tornam a leitura bíblica
mais frutífera. Como afirma R.R. Reno, no seu prefácio ao Comentário Brazos, a
doutrina teológica “é um aspecto crucial da pedagogia divina, um agente de
esclarecimento para nossas mentes turvadas pelos enganos”. Naturalmente, uma
leitura teológica da Escritura pode conter também armadilhas. Mas a solução,
definitivamente, não é deixar o estudo da Bíblia somente para os especialistas
acadêmicos. Pelo contrário – é recuperar a perspectiva do lugar das Escrituras
em meio à obra de redenção divina e abraçar a tarefa de ler o texto bíblico com
abertura suficiente para que Deus possa reformar e remodelar nossa caminhada.
Assim, faremos morrer o velho homem e dar espaço a uma nova identidade em Cristo.
Devemos também evitar o outro extremo: interpretar a
Bíblia sozinhos, sem qualquer ajuda. Em nossos dias, muitos acreditam que o
indivíduo pode ser um intérprete “todo-poderoso” do texto sagrado – não haveria
necessidade de consultar o que dizem os comentaristas nem tampouco estar
integrado a uma comunidade de fé. Apenas o indivíduo, a Bíblia e o Espírito
Santo bastariam. Embora, por vezes, o dito reformado Sola Scriptura seja usado
para justificar tal procedimento, ele é, na verdade, uma grave distorção desse
princípio protestante.
Os principais exegetas da Reforma consultaram o que
outros escreveram através dos tempos, bem como aprimoraram seus conhecimentos
das línguas bíblicas e se aperfeiçoaram em outras habilidades necessárias à
correta hermenêutica.
O movimento da interpretação teológica das Escrituras
busca reunir o que a modernidade dividiu: o discipulado e o estudo bíblico
crítico. Agostinho, em sua obra intitulada Sobre o ensino cristão, afirma que
Jesus Cristo, como o Deus-humano encarnado, é a “estrada” para nossa pátria
celestial. Assim, toda interpretação da Escritura deve ser necessariamente
feita à luz de Jesus Cristo – e conduzir ao nosso crescimento no amor a Deus e
ao próximo. Paralelamente, Agostinho destaca que ter conhecimento do grego e do
hebraico é muito importante para a interpretação das Escrituras. Em pleno
século V, ele já dizia que a leitura bíblica agrupa as disciplinas da história,
da retórica, da lógica e do que modernamente chamaríamos de antropologia
cultural.
Assim como
Agostinho, o movimento da interpretação teológica tem buscado aproximar o
discipulado cristão do estudo acadêmico das Escrituras. Desta maneira, mesmo
narrativas extremamente ligadas ao contexto cultural e religioso no qual foram
escritas ganham novos contornos. As
passagens dos evangelhos que se referem aos fariseus, por exemplo. À primeira
vista, as repreensões de Jesus àquele grupo não dizem respeito ao leitor
moderno. Mas o estudo histórico tem mostrado que os fariseus não eram apenas
legalistas estereotipados – eles buscavam de fato uma renovação na obediência à
Lei da Aliança, a partir das promessas de Deus para Israel. É verdade que
pensavam diferente de Jesus e dos primeiros cristãos, mas também é certo que
havia aspectos comuns entre eles. Assim, quando pensamos estar livres de
quaisquer implicações das duras palavras de Jesus aos fariseus, o raciocínio em
perspectiva histórica nos ajuda a, mais uma vez, a aplicar em nossas vidas a
mensagem (sempre tão pungente) da Palavra de Deus.
Em termos mais gerais, pode-se dizer que o estudo crítico
ajuda os leitores a evitarem erros que atrapalhem uma leitura bíblica
frutífera. Tais equívocos podem ser mal-entendidos quanto aos tipos bíblicos ou
equívocos de interpretação de natureza linguística ou cultural. Daí a
importância do conhecimento das línguas originais e de crítica textual. Embora
tais elementos não sejam imprescindíveis à apropriação dos conteúdos
espirituais da Palavra de Deus, eles fornecem caminhos seguros para uma
hermenêutica mais fundamentada. Como Agostinho sugeriu vários métodos
interpretativos são válidos. Entretanto, eles precisam conduzir a uma
compreensão da Bíblia como a poderosa Palavra de Deus e a um entendimento da
Igreja como uma comunidade de discípulos, que cresce à imagem de Cristo.
VIVER PELA PALAVRA
Uma característica fundamental de muitos trabalhos na
área da interpretação teológica tem sido o renascimento de formas de
interpretação bíblica essencialmente simbólica. Sob esse ponto de vista, o
Antigo Testamento não tem apenas um sentido histórico – como querem muitas
correntes –, mas também espiritual, que se estende a Jesus e à sua Igreja nos
dias de hoje, na forma de alegorias ou tipologias essenciais à vida cristã. Ao
longo dos últimos dois mil anos de cristianismo, raramente os exegetas deixaram
a figura de Jesus fora de sua leitura do Antigo Testamento. Assim, a narrativa
da primeira parte da Bíblia Sagrada continuou a ter integridade, mesmo quando
significados “espirituais” referentes a Cristo foram sobrepostos a ela.
Esta abordagem do Velho Testamento está baseada no
próprio Novo Testamento, que nos dá bons exemplos dela. Para os escritores
neotestamentários, não é apenas um salmo ou profecia messiânica ocasional que
se aplica a Cristo – eles leem todas as Escrituras de Israel sob a perspectiva
do advento e da obra salvadora do Filho de Deus. Por exemplo, o livro de
Hebreus começa com sete citações de textos do Antigo Testamento a partir de
diversos contextos (Salmos, Deuteronômio e II Samuel); no entanto, é inegável que
todas elas se aplicam a Cristo. Isso não se deve à hermenêutica particular do
autor da epístola, mas a seu entendimento de quem é Cristo no plano de salvação
de Deus:
“Há muito tempo
Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio
dos profetas, mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O
Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser” (Hebreus
1.1-3, na Nova Versão Internacional).
O Filho foi o cumprimento de diferentes passagens do
Antigo Testamento. Embora, nas palavras do escritor, ele não tenha sido
reconhecido como verdadeiro Messias em seus dias, o Filho é o Criador e também
é o “herdeiro de todas as coisas” – e, em Jesus Cristo, deu-se a conhecer na
história humana. Isso significa que uma leitura espiritual do Antigo Testamento
não pode aniquilar a sua narrativa em si. Quando o Jesus ressurreto abriu o
entendimento de seus companheiros no caminho de Emaús “para entender as
Escrituras”, ele não disse que a lei de Moisés, os escritos dos profetas e os
Salmos tinham sido descartados, mas sim, que estavam se cumprindo nele (Lucas
24.44-45).
Como observa John Webster, teólogo da Universidade de
Aberdeen, na Escócia, e um dos maiores defensores da interpretação teológica, a
“leitura das Escrituras é um episódio na história do pecado e de sua superação;
e vencer o pecado é a obra única obra de Cristo e do Espírito”.
Assim, de acordo com esse raciocínio, a leitura bíblica
está inevitavelmente ligada à regeneração. Como tal, lemos a Bíblia esperando
receber uma palavra divina – tanto de conforto, quanto de confronto. A Palavra
de Deus nos renova ao mesmo tempo em que confronta nossos ídolos pessoais e
culturais, traz luz ao nosso caminho e nos equipa para nosso serviço neste
mundo.
Assim, ver a
Bíblia como a Palavra de Deus envolve deleitar-se nela, memorizá-la e viver por
ela. Quando Jesus foi tentado por Satanás, respondeu com passagens bíblicas que
tinha na memória. Paulo, em sua Epístola aos Colossenses, adverte os crentes a
deixarem a palavra de Cristo “habitar” abundantemente em si. Já o evangelho de
João mostra a dinâmica trinitária do viver pela palavra do Filho de Deus,
quando diz que o Espírito, enviado aos crentes, glorificará Cristo. Deleitar-se
e viver pela Palavra de Deus é algo extremamente prático e tem a ver com nossas
finanças, família e até mesmo nossos corpos. No entanto, não se deve entrar por
tal caminho em busca de sucesso neste mundo, mas, sim, da mortificação de nossa
velha criatura e para a nova vida realizada pelo Espírito Santo.
Desta forma, podemos ler a Bíblia confiantemente, sabendo
que Deus age de forma poderosa através de sua Palavra, por meio da adoração
comunitária, em meio à oração, à memorização, ao ensino e ao testemunho. Não
temos, necessariamente, que dominar plenamente a Bíblia para, então, torná-la
relevante em nossas vidas. Pelo contrário: através das Escrituras, o Senhor nos
abre um novo lugar de habitação – um local de comunhão com Cristo em um caminho
que conduz ao amor a Deus e ao próximo.
Nossa jornada rumo
à santificação não termina nesta vida; assim, também, não é neste mundo que
finda nossa jornada de meditação nas Escrituras. Lutamos contra elas, muitas
vezes, quando nos diz o que não queremos ouvir. Mas elas também confirmam e
edificam nossa nova identidade em Cristo. Em tudo isso, o valor da Palavra de
Deus é inesgotável, porque o Espírito usa a Escritura para testificar de
Cristo, que é o Verbo enviado pelo Pai. Quando lemos a Bíblia como Escritura
divinamente inspirada, não somos os dominadores, mas os dominados – e, por meio
dela, recebemos do Deus Trino o seu fôlego de vida.
Tradução: Élidi Miranda
J. Todd Billings é professor de teologia reformada do Seminário Teológico Ocidental em Holland, Michigan (EUA)
Estou sem palavras pra definir minha satisfação nessa leitura. Fantástico !!!
ResponderExcluirEstou sem palavras pra definir minha satisfação nessa leitura. Fantástico !!!
ResponderExcluirRealmente este ensino é fantástico. Precisamos não só colocá-lo em prática, como também incentivar os irmãos a meditarem sobre ele.
ResponderExcluirUm grande abraço.