Confissão
Belga:
por Guido
de Brès
ARTIGO 1- O ÚNICO DEUS
Todos nós cremos com o coração e confessamos
com a boca [1] que há um só Deus [2], um único e simples ser espiritual [3]. Ele é
eterno [4], incompreensível [5] invisível [6], imutável [7], infinito [8],
todo-poderoso [9]; totalmente sábio [10], justo [11] e bom [12], e uma fonte
muito abundante de todo bem.
1 Rm 10:10. 2
Dt 6:4; 1Co 8:4,6; 1Tm 2:5. 3 Jo
4:24. 4 S1 90:2. 5 Rm 11:33. 6 Cl 1:15; 1Tm 6:16. 7
Tg 1:17. 8 1Rs 8:27; Jr 23:24. 9 Gn 17:1; Mt 19:26; Ap 1:8. 10 Rm 16:27. 11 Rm
3:25,26; Rm 9:14; Ap 16:5,7. 12 Mt 19:17.
Veja também Is 40, 44 e
46.
ARTIGO 2 - COMO CONHECEMOS A DEUS
Nós o conhecemos por dois meios.
Primeiro:
pela criação, manutenção e governo do mundo inteiro, visto que o mundo, perante
nossos olhos, é como um livro formoso [1], em que todas as criaturas, grandes e
pequenas, servem de letras que nos fazem contemplar "os atributos
invisíveis de Deus", isto é, "o seu eterno poder e a sua
divindade", como diz o apóstolo Paulo (Romanos 1:20. Todos estes atributos
são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis.
Segundo: Deus se fez conhecer, ainda mais
clara e plenamente, por sua sagrada e divina Palavra [2], isto é, tanto quanto
nos é necessário nesta vida, para sua glória e para a salvação dos que Lhe
pertencem.
1 Sl 19:1-4. 2
Sl 19:7,8; 1Co 1:18-21.
ARTIGO 3 - A
PALAVRA DE DEUS
Confessamos que a palavra de Deus não foi
enviada nem produzida "por vontade humana, mas homens falaram da parte de
Deus, movidos pelo Espírito Santo", como diz o apóstolo Pedro (2 Pedro
1:21).
Depois, Deus, por seu cuidado especial para
conosco e para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os
apóstolos, escreverem sua palavra revelada [1]. Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas
tábuas da lei [2]. Por isso, chamamos estas escritas: sagradas e
divinas Escrituras [3].
1 Êx 34:27; Sl 102:18; Ap 1:11,19. 2 Êx 31:18. 3 2Tm 3:16.
ARTIGO 4 - OS LIVROS CANÔNICOS
A Sagrada Escritura consiste de dois volumes:
O Antigo e o Novo Testamento, que são canônicos e não podem ser contraditos de
forma alguma.
A Igreja de Deus reconhece a lista seguinte:
Os livros do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio
(os cinco livros de Moisés); Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel,
1 e 2 Reis, 1 e
2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes,
Cantares; Isaías, Jeremias (com Lamentações), Ezequiel, Daniel (os quatro
profetas maiores); Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (os doze profetas menores);
Os livros do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas, João (os quatro
evangelistas); Atos dos Apóstolos; Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios,
Filipenses, Colossenses, 1 e 2
Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom (as treze epístolas do apóstolo
Paulo); Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, e 3 João, Judas e Apocalipse.
ARTIGO 5 - A AUTORIDADE DA SAGRADA ESCRITURA
Recebemos [1] todos estes livros, e somente
estes, como sagrados e canônicos, para regular, fundamentar e confirmar nossa
fé [2]. Acreditamos, sem dúvida nenhuma, em tudo que eles contêm, não tanto
porque a igreja aceita e reconhece estes livros como canônicos, mas
principalmente porque o Espírito Santo testifica em nossos corações que eles
vêm de Deus [3], como eles mesmos provam. Pois até os cegos podem sentir que as
coisas, preditas neles, se cumprem [4].
1 - 1Ts 2:13. 2
- 2Tm 3:16,17. 3 - 1Co 12:3; 1Jo
4:6; 1Jo 5:6b.
4 - Dt 18:21,22; 1Rs 22:28; Jr 28:9; Ez 33:33.
ARTIGO 6 - A DIFERENÇA ENTRE OS LIVROS CANÔNICOS E
APOCRIFOS
Distinguimos
estes livros sagrados dos livros apócrifos que são os seguintes: 3 e 4 Esdras,
Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os Acréscimos ao livro de Ester
e Daniel, a Oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus.
A igreja pode, sim, ler
estes livros e tirar deles ensino, na medida em que concordem com os livros canônicos.
Porém, os apócrifos não têm tanto poder e autoridade que o testemunho deles
possa confirmar qualquer artigo da fé ou da religião cristã; e muito menos
podem eles diminuir a autoridade dos sagrados livros
ARTIGO 7 - A SAGRADA ESCRITURA: PERFEITA E COMPLETA
Cremos que esta Sagrada Escritura contém
perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem
deve crer para ser salvo [1]. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira
de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos
"ou um anjo vindo do céu", conforme diz o apóstolo Paulo (Gálatas
1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura [2]. É
proibido "acrescentar algo a Pa lavra de Deus ou tirar algo dela" [3]
(Deuteronômio 12:32; Apocalipse 22:18,19). Assim se mostra claramente que sua
doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa [4].
Não se pode igualar escritos de homens, por
mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à
verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão
de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções [5]. Pois a
verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Salmo 116:11) e
"mais leves que a vaidade" (Salmo 62:9). Por isso, rejeitamos de todo o coração, tudo
que não está de acordo com esta regra infalível [6], conforme os apóstolos nos
ensinaram:
"Provai os espíritos se procedem de Deus" (1 João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em
casa" (2 João :10).
1 2Tm 3:16,17; 1Pe 1:10-12. 2 1Co 15:2; 1Tm 1:3. 3
Dt 4:2; Pv 30:6;
At 26:22; 1Co 4:6. 4 Sl 19:7; Jo 15:15; At 18:28; At
20:27; Rm 15:4.
5 Mc 7:7-9; At 4:19; Cl 2:8; 1Jo 2:19. 6 Dt 4:5,6; Is 8:20; 1Co 3:11;
Ef 4:4-6; 2Ts 2:2; 2Tm 3:14,15.
ARTIGO 8 - A TRINDADE: UM SÓ DEUS, TRÊS PESSOAS
Conforme esta verdade e esta palavra de Deus,
cremos em um só Deus [1], que é um único ser, em que há três Pessoas: o Pai, o
Filho e o Espírito Santo [2]. Estas são, realmente e desde a eternidade,
distintas conforme os atributos próprios de cada Pessoa.
O Pai é a causa, a origem e o princípio de
todas as coisas visíveis e invisíveis [3]. O Filho é o Verbo, a sabedoria e a
imagem do Pai [4]. O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é a eterna
força e o poder [5]. Esta distinção não significa que Deus está
dividido em três. Pois a Sagrada Escritura nos ensina que cada um destes três,
o Pai e o Filho e o Espírito Santo, tem sua própria existência, distinta por
seus atributos, de tal maneira, porém, que estas três pessoas são um só Deus. É
claro, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; que, também, o
Espírito Santo não é o Pai ou o Filho. Entretanto, estas Pessoas, assim distintas,
não são divididas nem confundidas entre si. Porque somente o Filho se tornou
homem, não o Pai ou o Espírito Santo. O Pai jamais existiu sem seu Filho [6] e
sem seu Espírito Santo, pois todos os três têm igual eternidade, no mesmo ser.
Não há primeiro nem último, pois todos os três são um só em verdade, em poder,
em bondade e em misericórdia.
1 1Co 8:4-6. 2
Mc 3:16,17; Mt 28:19. 3 Ef 3:14,15. 4 Pv 8:22-31; Jo 1:14;
Jo 5:17-26; 1Co
1:24; Cl 1:15-20; Hb 1:3; Ap 19:13. 5 Jo
15:26. 6 Mq 5:1;
Jo 1:1,2.
ARTIGO 9 - O TESTEMUNHO DA ESCRITURA SOBRE A TRINDADE
Tudo isto sabemos tanto pelo testemunho da
Sagrada Escritura [1], como pelas obras das três Pessoas, principalmente por
aquelas que percebemos em nós. Os testemunhos das Sagradas Escrituras, que nos
ensinam a crer nesta Trindade, se acham em muitos lugares do Antigo Testamento.
Não é preciso alistá-los, somente escolhê-los cuidadosamente. Em Gênesis 1:26 e
27, Deus diz: "Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa
semelhança" etc. "Criou Deus, pois, o homem a sua imagem; homem e
mulher os criou".
Assim também em Gênesis 3:22: "Eis que o
homem se tornou como um de nós". Com isto se mostra que há mais de uma
pessoa em Deus, porque Ele diz: "Façamos o homem a nossa imagem"; e,
em seguida, Ele indica que há um só Deus, quando diz: "Deus criou". É
verdade que Ele não diz quantas pessoas há, mas o que é um tanto obscuro, para
nós, no Antigo Testamento, é bem claro no Novo. Pois quando nosso Senhor foi
batizado no rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai, que falou: "Este é o meu
filho amado" (Mateus 3:17); enquanto o Filho foi visto na água e o
Espírito Santo se manifestou em forma de pomba [2].
Além disto, Cristo instituiu, para o batismo
de todos os fiéis, esta forma: Batizai todas as nações "em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19). No evangelho segundo Lucas,
o anjo Gabriel diz a Maria, mãe do Senhor: "Descerá sobre ti o Espírito
Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o
ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35). Do
mesmo modo: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão
do Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Coríntios 13:13).
*** Em todos
estes lugares, nos é ensinado que há três Pessoas em um só ser divino. E embora
esta doutrina ultrapasse o entendimento humano, cremos nela, baseados na
Palavra, e esperamos gozar de seu pleno conhecimento e fruto no céu. Devemos
considerar, também, a obra própria que cada uma destas três Pessoas efetua em
nós: o Pai é chamado nosso Criador, por seu poder; o Filho é nosso Salvador e
Redentor, por seu sangue; o Espírito Santo é nosso Santificador, porque habita
em nosso coração.
A verdadeira igreja sempre tem mantido esta
doutrina da Trindade, desde os dias dos apóstolos até hoje, contra os judeus,
os muçulmanos e falsos cristãos e hereges como Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio,
Paulo de Samósata, Ário e outros. A igreja antiga os condenou, com toda a
razão. Por isso, nesta matéria, aceitamos, de boa vontade, os três Credos
ecumênicos, a saber: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano; e também o que a
igreja antiga determinou em conformidade com estes credos.
1 - Jo 14:16; Jo 15:26; At 2:32,33; Rm 8:9; Gl 4:6; Tt
3:4-6; 1Pe 1:2;
1Jo 4:13,14; 1Jo 5:1-12; Jd :20,21; Ap 1:4,5. 2 -
Mt 3:16.
*** Originalmente o texto incluía aqui as
seguintes palavras: "E: "há três que dão testemunho no céu: o Pai, a
Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um" (1 Jo 5:7)". A referência a 1João 5:7b é duvidosa, porque
este texto não se acha nos manuscritos antigos.
ARTIGO 10 - JESUS CRISTO É DEUS
Cremos que Jesus Cristo, segundo sua natureza
divina, é o único Filho de Deus [1], gerado desde a eternidade. Ele não foi
feito, nem criado - pois, assim, Ele seria uma criatura, - mas é de igual
substância do pai, co-eterno, "o resplendor da glória e a expressão exata
do seu Ser" (Hebreus 1:3), igual a Ele em tudo [2]. Ele é o Filho de Deus, não somente desde que
assumiu nossa natureza, mas desde a eternidade [3], como os seguintes
testemunhos nos ensinam, ao serem comparados uns aos outros: Moisés diz que Deus criou o mundo [4], e o
apóstolo João diz que todas as coisas foram feitas por intermédio do Verbo que
ele chama Deus [5]. O apóstolo diz que Deus fez o universo por seu Filho [6] e,
também, que Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo [7].
Segue-se necessariamente que aquele que é
chamado Deus, o Verbo, o Filho, e Jesus Cristo, já existia, quando todas as
coisas foram criadas por Ele. O profeta Miquéias, portanto, diz: "Suas
origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade"
(Miquéias 5:2);
E a carta aos Hebreus testemunha: "Ele
não teve princípio de dias, nem fim de existência" (Hebreus 7:3). Assim,
Ele é o verdadeiro, eterno Deus, o Todo-poderoso, a quem invocamos, adoramos e
servimos.
1 Mt 17:5; Jo 1:14,18; Jo 3:16; Jo 14:1-14; Jo 20:17,31;
Rm 1:4; Gl 4:4;
Hb 1:1; lJo 5:5,9-12. 2
Jo 5:18,23; Jo 10:30; Jo 14:9; Jo 20:28; Rm 9:5;
Fp 2:6; Cl 1:15; Tt 2:13; Hb
1:3; Ap 5:13. 3 Jo 8:58; Jo 17:5; Hb
13:8.
4 Gn 1:1. 5 Jo 1:1-3. 6 Hb 1:2. 7 1Co 8:6; Cl 1:16.
ARTIGO 11 - O ESPÍRITO SANTO É DEUS
Cremos e confessamos, também, que o Espírito
Santo procede do Pai e do Filho, desde a eternidade. Ele não foi feito, nem
criado, nem gerado; mas procede de ambos [1]. Na ordem, Ele é a terceira pessoa
da Trindade, de igual substância, majestade e glória do Pai e do Filho,
verdadeiro e eterno Deus, como nos ensinam as Sagradas Escrituras [2].
1 Jo 14:15-26; Jo 15:26; Rm 8:9. 2 Gn 1:2; Mt 28:19; At 5:3,4; lCo 2:10; 1Co 6:11; 1Jo 5:6.
ARTIGO 12 A CRIAÇÃO DO MUNDO; OS ANJOS
Cremos que o Pai, por seu Verbo - quer dizer:
por seu Filho -, criou do nada, o céu, a terra e todas as criaturas, quando bem
Lhe aprouve [l]. A cada criatura Ele deu sua própria natureza e forma e sua
própria função para servir ao seu Criador. Também, Ele ainda hoje sustenta
todas essas criaturas e as governa segundo sua eterna providencia e por seu
infinito poder, para elas servirem ao homem, a fim de que o homem sirva a seu
Deus. Ele também criou bons os anjos para serem seus mensageiros e servirem aos
eleitos [2]. Alguns deles caíram na eterna perdição [3], da posição excelente
em que Deus os tinha criado, mas os outros, pela graça de Deus, perseveraram e
continuaram em sua primeira posição. Os demônios e os espíritos
malignos são tão corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem [4]. Como
assassinos, com toda a sua força, estão a espreita da igreja e de cada um de
seus membros, para demolir e destruir tudo com sua astúcia [5]. Por isso, por
causa de sua própria malícia, estão condenados a maldição eterna e aguardam, a
cada dia, seus tormentos terríveis [6]. Neste ponto, rejeitamos e detestamos o
erro dos saduceus que negam a existência de espíritos e de anjos [7]; também o
erro dos maniqueus que dizem que os demônios têm sua origem em si mesmos e são maus por natureza; eles negam que os demônios se corromperam.
1 Gn 1:1; Gn 2:3; Is 40:26; Jr 32:17; Cl 1:15,16; lTm
4:3; Hb 11:3; Ap 4:11. 2 Sl 103:20,21; Mt 4:11; Hb 1:14. 3 Jo 8:44; 2Pe 2:4; Jd :6. 4 Gn 3:1-5;
1Pe 5:8. 5 Ef 6:12; Ap 12:4, 13-17; Ap 20:7-9. 6 Mt 8:29; Mt
25:41; Ap 20:10. 7 At 23:8.
ARTIGO 13 - A PROVIDÊNCIA DE DEUS
Cremos que o bom Deus, depots de ter criado
todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte [1], mas
que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste
mundo nada acontece sem sua determinação [2]. Contudo, Deus não é o autor, nem
tem culpa do pecado que se comete [3]. Pois seu poder e bondade são tão grandes
e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça,
mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente [4].
E as
obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las
curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e
piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos [5].
Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o
que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites [6].
Este ensino nos traz um inexprimível consolo,
quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação
de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal,
dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão
todos contados- e nenhum pardal cairá em terra sem o consentimento de nosso Pai
(Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e
todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem
prejudicar [7]. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem
que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso.
1 Jo 5:17; Hb 1:3. 2
Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11.
3 Tg 1:13;
1Jo 2:16. 4 Jó 1:21;
Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23; At 4:27,28.
5
1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11. 6
Dt 29:29; 1Co 4:6. 7 Gn
45:8;
Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.
ARTIGO
14 - A CRIAÇÃO DO HOMEM, SUA QUEDA, E SUA INCAPACIDADE DE FAZER O BEM
Cremos que Deus criou o homem do pó da terra
[1], e o fez e formou conforme sua imagem e semelhança: bom, justo e santo [2],
capaz de concordar, em tudo, com a vontade de Deus. Mas, quando o homem estava
naquela posição excelente, ele não a valorizou e não a reconheceu. Dando
ouvidos às palavras do diabo, submeteu-se por livre vontade ao pecado e assim à
morte e à maldição [3]. Pois transgrediu o mandamento da vida, que tinha
recebido e, pelo pecado, separou-se de Deus, que era sua verdadeira vida. Assim
ele corrompeu toda a sua natureza e mereceu a morte corporal e espiritual [4]. Tornando-se
ímpio, perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons
excelentes [5], que tinha recebido de Deus. Nada lhe sobrou destes dons, senão
pequenos traços, que são suficientes para deixar o homem sem desculpa [6]. Pois
toda a luz em nós se tornou em trevas [7] como nos ensina a Escritura: "A
luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela" (João
1:5). Aqui o apóstolo João chama os homens "trevas". Por isso,
rejeitamos todo o ensino contrário, sobre o livre arbítrio do homem, porque o
homem somente é escravo do pecado e "não pode receber coisa alguma se do
céu não lhe for dada" (João 3:27). Pois quem se gloriará de fazer alguma
coisa boa pela própria força, se Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim se o
Pai que me enviou não o trouxer" (João 6:44)? Quem falará sobre sua
própria vontade sabendo que "o pendor da came e inimizade contra
Deus" (Romanos 8:7)?
Quem ousará vangloriar-se sobre seu próprio
conhecimento, reconhecendo que "o homem natural não aceita as coisas do
Espírito de Deus" (1CORÍNTIOS 2:14)? Em resumo: quem apresentará um
pensamento sequer, admitindo que não somos "capazes de pensar alguma coisa
como se partisse de nós", mas que "a nossa suficiência vem de
Deus" (2Coríntios 3:5)? Por isso, devemos insistir nesta palavra do
apóstolo: "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar,
segundo a sua vontade" (Filipenses 2:13). Pois, somente o entendimento ou
a vontade que Cristo opera no homem, está em conformidade com o entendimento e
vontade de Deus, como Ele ensina: "Sem mim nada podeis fazer" (João
15:5).
1 Gn 2:7; Gn 3:19; Ec 12:7. 2 Gn 1:26,27; Ef 4:24; Cl 3:10.
3 Gn 3:16-19;
Rm 5:12. 4 Gn
2:17; Ef 2:1; Ef 4:18. 5 Sl
94:11; Rm 3:10; Rm 8:6.
6 Rm 1:20,21. 7 Ef 5:8.
ARTIGO 15 - O PECADO ORIGINAL
Cremos que, pela desobediência de Adão, o
pecado original se estendeu por todo o gênero humano [l]. Este pecado é uma
depravação de toda a natureza humana [2] e um mal hereditário, com que até as
crianças no ventre de suas mães estão contaminadas [3]. É a raiz que produz no
homem todo tipo de pecado. por isso, é tão repugnante e abominável diante de
Deus que é suficiente para condenar o gênero humano [4]. Nem pelo batismo o
pecado original é totalmente anulado ou destruído, porque o pecado sempre jorra
desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada [5]. 0 pecado
original, porém, não é atribuído aos filhos de Deus para condená-los, mas é
perdoado pela graça e misericórdia de Deus [6]. Isto não quer dizer que eles
podem continuar descuidadamente numa vida pecaminosa. Pelo contrário, os fiéis,
conscientes desta depravação, devem aspirar a livrar-se do corpo dominado pela
morte (Romanos 7:24). Neste ponto rejeitamos o erro do pelagianismo, que diz
que o pecado é somente uma questão de imitação.
1 Rm
5:12-14,19. 2 Rm 3:10. 3 Jó 14:4; Sl 51:5; Jo 3:6. 4 Ef 2:3.
5 Rm
7:18,19. 6 Ef 2:4,
ARTIGO 16 - ELEIÇÃO ETERNA POR DEUS
Cremos que Deus, quando o pecado do primeiro
homem lançou Adão e toda a sua descendência na perdição [1] mostrou-se como Ele
é, a saber: misericordioso e justo. Misericordioso, porque Ele livra e salva da
perdição aqueles que Ele em seu eterno e imutável conselho [2], somente pela
bondade, elegeu [3] em Jesus Cristo nosso Senhor [4], sem levar em consideração
obra alguma deles [5]. Justo, porque Ele deixa os demais na queda e perdição,
em que eles mesmos se lançaram [6].
1 Rm 3:12. 2 Jo
6:37,44; Jo 10:29: Jo 17: 2,9,12; Jo 18:9. 3 1Sm 12:22; Sl 65:4; At 13: 48; Rm 9:16; Rm 11:5; Tt
1:1. 4 Jo 15:16,19; Rm 8:29; Ef 1:4,5. 5 Ml 1:2,3; Rm 9:11-13; 2Tm 1:9; Tt 3:4,5. 6 Rm 9:19-22; 1Pe 2:8.
ARTIGO 17 - O SALVADOR, PROMETIDO POR DEUS
Cremos que nosso bom Deus, vendo que o homem
havia se lançado assim na morte corporal e espiritual e se havia feito
totalmente miserável, foi pessoalmente em busca do homem, quando este,
tremendo, fugia de sua presença [1]. Assim Deus mostrou sua maravilhosa sabedoria
e bondade. Ele confortou o homem com a promessa de lhe dar seu Filho, que
nasceria de uma mulher (Gálatas 4:4) a fim de esmagar a cabeça da serpente
(Gênesis 3:15) e de tornar feliz o homem [2].
1 Gn 3:9. 2
Gn 22:18; Is 7:14; Jo 1:14; Jo 5:46; Jo 7:42; At 13:32; Rm 1:2,3; Gl 3:16; 2Tm
2:8; Hb 7:14.
ARTIGO 18 - A ENCARNAÇÃO DO FILHO DE DEUS
Confessamos, então, que Deus cumpriu a
promessa, feita aos pais antigos pela boca dos seus santos profetas [l], quando
enviou ao mundo seu próprio, único e eterno Filho, no tempo determinado por Ele
[2]. Este assumiu a forma de servo e tornou-se semelhante aos homens
(Filipenses 2:7), tomando realmente a verdadeira natureza humana com todas as
suas fraquezas [3], mas sem o pecado [4]. Foi concebido no ventre da bem- aventurada
virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo, sem intervenção do homem [5]. E não
somente tomou a natureza humana quanto ao corpo, mas também a verdadeira alma
humana, para que fosse um verdadeiro homem. Pois, estando perdidos tanto a alma
como o corpo, Ele devia tomar ambos para salvá-los. Por isso, confessamos
(contra a heresia dos anabatistas que negam que Cristo tomou a natureza de sua
mãe), que Cristo participou do sangue e da carne dos filhos de Deus (Hebreus
2:14); que Ele, "segundo a carne, veio da descendência de Davi"
(Romanos 1:3); fruto do ventre de Maria (Lucas 1:42); nascido de uma mulher
(Gálatas 4:4); rebento de Davi (Jeremias 33:15; Atos 2:30); renovo da raiz de
Jessé (Isaías 11:1); brotado de Judá (Hebreus 7:14); descendente dos judeus, segundo
a carne (Romanos 9:5); da descendência de Abraão [6], tornando-se semelhante aos
irmãos em tudo, mas sem pecado (Hebreus 2:16,17; 4:15). Assim Ele é, na verdade, nosso Emanuel, isto
é: Deus conosco (Mateus 1:23).
1 Gn 26:4; 2Sm 7:12-16; Sl 132:11; Lc 1:55; At 13:23. 2 Gl 4:4. 3 1Tm 2:5; 1Tm 3:16; Hb 2:14. 4
2Co 5:21; Hb 7:26; 1Pe 2:22. 5 Mt 1:18; Lc 1:35.
6 Gl
3:16.
ARTIGO 19 - AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO
Cremos
que, por esta concepção, a pessoa do Filho está unida e conjugada
inseparavelmente, com a natureza humana [1]. Não há, então, dois filhos de
Deus, nem duas pessoas, mas duas naturezas, unidas numa só pessoa, mantendo
cada uma delas suas características distintas.
A natureza divina permaneceu não criada, sem
início, nem fim de vida (Hebreus 7:3), preenchendo céu e terra [2]. Do mesmo
modo a natureza humane não perdeu suas características, mas permaneceu
criatura, tendo início, sendo uma natureza finita e mantendo tudo o que é
próprio de um verdadeiro corpo [3]. E ainda que, por meio da sua ressurreição,
Cristo tenha concedido imortalidade a sua natureza humana, Ele não transformou
a realidade da mesma [4], pois nossa salvação e ressurreição dependem também da
realidade de seu corpo [5].
Estas duas naturezas, porém, estão unidas
numa só pessoa de tal maneira que nem por sua morte foram separadas. Ao morrer,
Ele entregou, então, nas mãos de seu Pai um verdadeiro Espírito humano, que
saiu de seu corpo [6], entretanto, a natureza divina sempre continuou unida a
humana, mesmo quando Ele jazia no sepulcro [7]. A divindade não cessou de estar
nEle, assim como estava nEle quando era criança, embora, por algum tempo, não
se tivesse manifestado. Por isso, confessamos que Cristo é verdadeiro Deus e
verdadeiro homem: verdadeiro Deus a fim de vencer a morte por seu poder;
verdadeiro homem a fim de morrer por nós na fraqueza de sua carne.
1 Jo 1:14; Jo 10:30; Rm 9:5; Fp 2:6,7. 2 Mt 28:20. 3 1Tm 2:5.
4
Mt 26:11; Lc 24:39; Jo 20:25; At 1:3,11; At 3:21; Hb 2:9.
5 1Co 15:21; Fp 3:21. 6
Mt 27:50. 7 Rm 1:4.
ARTIGO 20 - A JUSTIÇA E A MISERICÓRDIA DE DEUS EM CRISTO
Cremos que Deus, perfeitamente misericordioso
e justo, enviou seu Filho para assumir a natureza humane em que foi cometida a
desobediência [l]. Nesta natureza, Ele satisfez a Deus, carregando o castigo
pelos pecados, através de seu mui amargo sofrimento e morte [2]. Assim Deus
provou sua justiça sobre seu Filho, quando carregou sobre Ele nossos pecados [3]
e derramou sua bondade e misericórdia sobre nós, culpados e dignos da
condenação. Por amor perfeitíssimo, Ele entregou seu Filho a morte, por nós, e
O ressuscitou para nossa justificação [4], a fim de que, por Ele, tivéssemos a
imortalidade e a vida eterna.
1 Rm 8:3. 2 Hb
2:14. 3 Rm 3:25,26; Rm 8:32. 4 Rm 4:25.
ARTIGO 21- A SATISFAÇÃO POR CRISTO
Cremos
que Jesus Cristo é um eterno Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque,
o que Deus confirmou por juramento [l]. Perante seu Pai e para apaziguar-lhe a
ira, Ele se apresentou em nosso nome, por satisfação própria [2],
sacrificando-se a si mesmo e derramando seu precioso sangue, para purificação
dos nossos pecados [3], conforme os profetas predisseram [4.] Pois, está
escrito que "o castigo que nos traz a paz estava sobre " o Filho de
Deus e que "pelas suas pisaduras fomos sarados" [5]; "como
cordeiro foi levado ao matadouro"; "foi contado com os transgressores"
[6] (Isaías 53: 5,7,12).Como criminoso foi condenado por Pôncio Pilatos embora
este o tivesse declarado inocente [7]. Assim, então, restituiu o que não tinha
furtado (Salmo 69:4), e sofreu, "o justo pelos injustos" [8] (l Pedro
3:18), tanto no seu corpo como na sua alma [9], de maneira que sentiu o
terrível castigo que os nossos pecados mereceram. Assim "o seu suor se
tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas 22:44). Ele
"clamou em alta voz: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus
27:46) e padeceu tudo para a remissão dos nossos pecados. Por isso, dizemos,
com razão, junto com Paulo que não sabemos outra coisa, "senão Jesus
Cristo, e este crucificado" (1Corlntios 2:2). Consideramos "tudo como
perda por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus", nosso
Senhor (Filipenses 3:8). Encontramos toda consolação em seus ferimentos e não
precisamos buscar ou inventar qualquer outro meio para nos reconciliarmos com
Deus, "porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão
sendo santificados, 10 (Hebreus 10:14). Por isso, o anjo de Deus O chamou
Jesus, quer dizer: Salvador, porque ia salvar "o seu povo dos pecados
deles "11 (Mateus 1:21)
1 Sl 110:4; Hb 7:15-17. 2 Rm 4:25; Rm 5: 8-9; Rm 8:32; Gl 3:13; Cl 2:14;
Hb 2:9,17; Hb
9:11-15. 3 At 2:23; Fp 2:8; 1Tm
1:15; Hb 9:22; 1Pe 1:18,19;
1Jo 1:7; Ap
7:14. 4 Lc 24:25-27; Rm 3:21; 1Co
15:3. 5 1Pe 2:24. 6 Mc 15:28
7 Jo 18:38. 8 Rm 5:6. 9 Sl 22:15. 10 Hb
7:26-28; Hb 9:24-28. 11 Lc
1:31;
At 4:12.
ARTIGO 22 - A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ EM CRISTO
Cremos que, para obtermos verdadeiro
conhecimento desse grande mistério, o Espírito Santo acende, em nosso coração,
verdadeira fé [1]. Esta fé abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos,
apropria-se dEle e nada mais busca fora dEle [2]. Pois das duas, uma: ou não se
ache em Jesus Cristo tudo o que é necessário para nossa salvação, ou tudo se
acha nEle, e, então, aquele que possui Jesus Cristo pela fé, tem a salvação
completa [3]. Dizer, porém que Cristo não é suficiente, mas que, além dEle,
algo mais é necessário, significaria uma blasfêmia horrível. Pois Cristo seria
apenas um salvador incompleto. Por isso, dizemos, com razão, junto com o
apóstolo Paulo, que somos justificados somente pela fé, ou pela fé sem as obras
[4] (Romanos 3:28). Entretanto, não entendemos isto como se a própria fé nos
justificasse [5], mas ela é somente o instrumento com que abraçamos Cristo,
nossa justiça. Mas Jesus Cristo, atribuindo-nos todos os seus méritos e tantas
obras santas, que fez por nós e em nosso 1ugar, é nossa justiça [6]. E a fé é o
instrumento que nos mantém com Ele na comunhão de todos os seus benefícios.
Estes, uma vez dados a nós, são mais que suficientes para nos absolver dos
pecados.
1 Jo 16:14; 1Co 2:12; Ef 1:17,18. 2 Jo 14:6; At 4:12; Gl 2:21. 3
Sl 32:1; Mt 1:21; Lc 1: 77; At 13:38,39; Rm 8:1. 4 Rm 3:19-4:8; Rm 10:4-11; Gl 2:16; Fp 3:9; Tt 3:5. 5 1Co 4:7. 6 Jr 23:6; Mt 20:28; Rm 8:33; 1Co 1:30,31; 2Co 5:21; 1Jo 4:10.
ARTIGO 23 - NOSSA JUSTIÇA PERANTE DEUS EM CRISTO
Cremos que nossa verdadeira felicidade
consiste no perdão dos pecados, por causa de Jesus Cristo, e que isto significa
para nós a justiça perante Deus [l]. Assim nos ensinam Davi e Paulo,
declarando: "Bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente
de obras" (Romanos 4:6; Salmo 32:2). E o mesmo apóstolo diz que somos
"justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus" [2] (Romanos 3: 24). Portanto, perseveramos neste fundamento, dando
toda a glória a Deus [3], humilhando-nos e reconhecendo que nós, homens, somos
maus. Não nos vangloriamos de nenhuma maneira, de nós mesmos ou de nossos
méritos [4]. Somente nos apoiamos e repousamos na obediência do Cristo
crucificado [5]. Esta obediência é nossa se cremos nEle [6]. Ela é suficiente
para cobrir todas as nossas iniqüidades. Ela liberta nossa consciência de
temor, perplexidade e espanto e, assim, nos dá ousadia de aproximarmo-nos de
Deus, sem fazermos como nosso primeiro pai Adão que, tremendo, quis cobrir-se
com folhas de figueira [7]. E, certamente, se tivéssemos que comparecer perante
Deus, apoiando-nos, por pouco que fosse, em nós mesmos ou em qualquer outra
criatura - ai de nós -, pereceríamos [8]. Por isso, cada um deve dizer com
Davi: "Ó Senhor, não entres em juízo com o teu servo, porque a tua vista
não há justo nenhum vivente" (Salmo 143:2).
1 1Jo 2:1. 2
2Co 5:18,19; Ef 2:8; 1Tm 2:6. 3 Sl
115:1; Ap 7:10-12.
4 1Co 4:4; Tg
2:10. 5 At 4:12; Hb 10:20. 6 Rm 4:23-25. 7 Gn 3:7; Sf 3:11;
Hb 4:16; 1Jo 4:17-19. 8 Lc 16:. 15;
Fp 3:4-9.
ARTIGO 24 - A SANTIFICAÇÃO
Cremos que a verdadeira fé, tendo sido acesa
no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pela obra do Espírito Santo [l],
regenera o homem e o torna um homem novo [2]. Esta verdadeira fé o faz viver na
vida nova e o liberta da escravidão do pecado [3]. Por isso, é impossível que
esta fé justificadora leve os homens a se descuidarem da vida piedosa e santa [4].
Pelo contrário, sem esta fé jamais farão alguma coisa por amor a Deus [5], mas
somente por amor a si mesmos e por medo de serem condenados. É impossível,
portanto, que esta fé permaneça no homem sem frutos. Pois, não falamos de uma
fé vã, mas da fé, de que a Escritura diz que "atua pelo amor"
(Gálatas 5:6). Ela move o homem a exercitar-se nas obras que Deus mandou na sua
Palavra. Estas obras se procedem da boa raiz da fé; são boas e agradáveis a
Deus, porque todas elas são santificadas por sua graça. Entretanto, elas não
são levadas em conta para nos justificar. Porque é pela fé em Cristo que somos
justificados, mesmo antes de fazermos boas obras [6]. De outro modo, estas
obras não poderiam ser boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se
a árvore não for boa [7]. Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos
algo. Pois, que mérito poderíamos ter?
Antes, somos devedores a Deus pelas boas
obras que fazemos e não Ele a nós [8]. Pois, "Deus e quem efetua em"
nós "tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade"
(Filipenses 2:13). Então, levemos a sério o que está escrito: "Assim
também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos
servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer" (Lucas 17:10).
Contudo, não queremos negar que Deus recompensa as boas obras [9]; mas, por sua
graça, Ele coroa seus próprios dons. E, em seguida, mesmo que façamos boas
obras, nelas não fundamentamos nossa salvação. Porque, por sermos pecadores,
não podemos fazer obra alguma que não esteja contaminada e não mereça ser
castigada [10]. E, ainda que pudéssemos produzir uma só boa obra, a lembrança
de um só pecado bastaria para torná-la rejeitável perante Deus [11]. Assim,
sempre duvidaríamos levados de um lado para o outro, sem certeza alguma, e
nossa pobre consciência estaria sempre aflita, a não ser que se apoiasse no
mérito do sofrimento e da morte de nosso Salvador [12].
1 At 16:14; Rm 10:17; 1Co 12:3. 2 Ez 36:26, 27; Jo
1:12,13; Jo 3:5; Ef 2:4-6; Tt 3:5; 1Pe 1:23. 3 Jo 5:24; Jo 8:36; Rm 6:4-6; 1Jo
3:9. 4 Gl 5:22; Tt 2:12.
5 Jo 15:5; Rm 14: 23; 1Tm 1:5; Hb 11:4,6. 6 Rm 4:5. 7
Mt 7:17. 8 1Co 1:30: 1Co 4:7; Ef 2:10. 9 Rm 2:6,7; 1Co 3:14; 2Jo:8; Ap 2:23.
10 Rm 7:21.
11 Tg 2:10. 12 Hc 2:4; Mt 11:28; Rm 10:11.
ARTIGO 25 CRISTO, O CUMPRIMENTO DA LEI
Cremos que as cerimônias e figuras da lei
terminaram com a vinda de Cristo e que, assim, todas as sombras chegaram ao
fim [l]. Por isso, os cristãos não devem mais usá-las. Contudo, para nós, sua
verdade e substância permanecem em Cristo Jesus, em quem têm seu cumprimento [2].
Entretanto, ainda usamos os testemunhos da
Lei e dos Profetas para confirmarmo-nos no Evangelho e, também, para regularmos
nossa vida em toda honestidade, para a glória de Deus, conforme sua vontade [3].
1 Mt 27:51; Rm 10:4; Hb 9:9,10. 2 Mt 5:7; Gl 3:24; Cl
2:17. 3 Rm 13:8-10; Rm 15:4; 2Pe 1:19; 2Pe 3:2.
ARTIGO 26 - CRISTO, NOSSO ÚNICO ADVOGADO
Cremos que nenhum acesso temos a Deus, senão
pelo único Mediador [l] e Advogado Jesus Cristo, o Justo [2]. Porque Ele se tornou
homem e uniu as naturezas divina e humana, para que nós, homens, tivéssemos
acesso à majestade divina [3]. De outro modo, nenhum acesso teríamos. Mas este
Mediador que o Pai constituiu entre Ele e nós, não nos deve assustar por sua
grandeza, a ponto de fazer-nos procurar um outro, conforme nossa própria
vontade. Porque não há ninguém, nem no céu, nem na terra, entre as criaturas,
que nos ame mais que Jesus Cristo [4]. "Pois ele, subsistindo em forma de
Deus ... a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens" por nós, "em todas as coisas ... semelhante aos
irmãos" (Filipenses 2:6,7; Hebreus 2:17).
Agora, se tivéssemos que buscar outro
mediador que nos fosse favorável, quem poderíamos encontrar que mais nos amasse
senão Ele que entregou sua vida por nós, sendo nós ainda inimigos (Romanos
5:8,10)? E se tivéssemos que buscar alguém que tivesse poder e estima, quem os
teria tanto quanto Ele que está sentado a direita de seu Pai [5], e que tem
"toda a autoridade... no céu e na terra" (Mateus 28:18)? E quem será
ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus [6]?
Foi, então, somente falta de confiança que
levou os homens ao costume de desonrar os santos em vez de honrá-los. Pois
fazem o que estes santos jamais fizeram ou desejaram mas sempre rejeitaram conforme
era seu dever [7], como mostram seus escritos.
Aqui não se deve alegar que não somos dignos;
pois não apresentamos as orações a Deus em razão de nossa dignidade, mas
somente pela excelência e dignidade de nosso Senhor Jesus Cristo [8], cuja justiça
é a nossa, mediante a fé [9]. Por isso, a Escritura nos diz, querendo tirar de nós
esse tolo receio, ou antes, essa falta de confiança, que Jesus Cristo tornou-se
"em todas as coisas... semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e
fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação
pelos pecados do povo. Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é
poderoso para socorrer os que são tentados" (Hebreus 2:17,18). E a
Escritura diz também, para animar-nos ainda mais a ir para Ele: "Tendo,
pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que entrou nos céus,
conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não
possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as
coisas, a nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto,
confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e
acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" [10] (Hebreus 4:14-16). A
Escritura diz ainda: "Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo
dos santos, pelo sangue de Jesus... aproximemo-nos... em plena certeza de fé
etc." (Hebreus 10:19-22). E também: Cristo "tem o seu sacerdócio
imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a
Deus, vivendo sempre para interceder por eles "[11] (Hebreus 7:24,25).
Então, do que precisamos mais, visto que o
próprio Cristo declara:
"Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém
vem ao Pai senão por mim" (João 14:6)? Por que buscaríamos outro advogado
visto que agradou a Deus nos dar seu Filho como Advogado? Não O abandonemos
para buscar outro que nunca encontraremos.
Pois, quando Deus O deu a nós, bem
sabia que éramos pecadores. Por isso, conforme o mandamento de Cristo,
invocamos o Pai celestial mediante Cristo, nosso único Mediador [12], como nos foi
ensinado na oração do Senhor [13]. E temos a certeza de que o Pai nos concederá
tudo o que Lhe pedirmos em nome de Cristo [14] (João 16:23).
1 1Tm 2 5. 2 1Jo 2:1. 3 Ef 3:12. 4 Mt 11: 28;
Jo 15:13; Ef 3:19; 1Jo 4:10.
5 Hb 1:3; Hb 8:1. 6
Mt 3:17; Jo 11:42; Ef 1:6. 7 At 10:26; At 14:15.
8 Jr 17:5,7; At 4:12. 9 1Co
1:30. 10 Jo 10:9; Ef 2:18; Hb 9:24. 11 Rm 8:34. 12 Hb 13:15. 13
Mt 6:9-13; Lc 11:2-4. 14 Jo 14:13.
ARTIGO 27 - A IGREJA CATÓLICA OU UNIVERSAL
Cremos e confessamos uma só igreja católica
ou universal [1]. Ela é uma santa congregação e assembléia [2] dos verdadeiros
crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus Cristo [3], lavados
pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo [4].
Esta igreja existe desde o princípio do mundo
e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei eterno, que não pode estar sem
súditos [5]. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo
inteiro [6], mesmo que ela, às vezes, por algum tempo, seja muito pequena e na
opinião dos homens, quase desaparecida [7]. Assim, Deus guardou para si, na
perigosa época de Acabe, sete mil homens, que não tinham dobrado os joelhos a
Baal [8].
Esta santa igreja também não está situada,
fixada ou limitada em certo lugar, ou ligada a certas pessoas, mas ela está
espalhada e dispersa pelo mundo inteiro [9]. Contudo, está integrada e unida, de
coração e vontade, no mesmo Espírito, pelo poder da fé [10].
1- Gn 22:18; Is 49:6; Ef 2:17-19. 2 - Sl 111:1; Jo
10:14,16; Ef 4:3-6;
Hb 12:22, 23. 3 - Jl 2: 32; At 2:21. 4 - Ef 1:13; Ef 4:30. 5 - 2Sm
7:16;
Sl 89:36; Sl 110:4; Mt 28:18,20; Lc 1:32. 6 - Sl 46:5; Mt 16:18. 7 - Is 1:9;
1Pe 3:20; Ap 11:7. 8 - 1Rs 19:18; Rm 11:4. 9 - Mt 23:8; Jo 4:21-23;
Rm 10:12,13. 10
Sl 119:63; At 4:32; Ef 4:4.
ARTIGO 28 - O DEVER DE JUNTAR-SE À IGREJA
Esta santa assembléia é a congregação
daqueles que são salvos, e fora dela não há salvação [1]. Cremos, então, que
ninguém, qualquer que seja a posição ou qualidade, deve viver afastado dela e
contentar-se com sua própria pessoa. Mas cada um deve se juntar e se reunir a
ela [2], mantendo a unidade da igreja, submetendo-se a sua instrução e
disciplina [3], curvando-se diante do jugo de Jesus Cristo [4] e servindo para a
edificação dos irmãos [5], conforme os dons que Deus concedeu a todos, como
membros do mesmo corpo [6].
Para observar melhor tudo isto, o dever de
todos os fiéis é, conforme a Palavra de Deus, separar-se daqueles que não
pertencem a igreja [7], e juntar-se a esta assembléia [8] em todo lugar onde Deus a
tenha estabelecido. Este dever deve ser cumprido, mesmo que os governos e as
leis das autoridades o contrariem e mesmo que a morte ou a pena corporal sejam
a consequência disto [9]. Por isso, todos os que se separam desta
igreja ou não se juntam a ela, contrariam a ordem de Deus.
1 Mt 16:18,19; At 2:47; Gl 4:26; Ef 5:25-27; Hb
2:11,12; Hb 12:23. 2 2Cr 30:8; Jo 17:21; Cl 3:15. 3 Hb 13:17. 4 Mt 11:28-30. 5
Ef 4:12. 6 1Co 12:7,27; Ef 4:16. 7 Nm 16:23-26; Is 52:11,12; At 2:40; Rm 16:17;
Ap 18:4. 8 Sl 122:1; Is 2:3; Hb 10:25. 9 At 4:19,20.
ARTIGO 29 - AS MARCAS DA VERDADEIRA IGREJA, DE SEUS MEMBROS E DA FALSA IGREJA
Cremos que se deve discernir diligentemente e
com muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a verdadeira igreja, visto que
todas as seitas, que atualmente existem no mundo, se chamam igreja, mas sem
razão [1]. Não falamos aqui dos hipócritas que, na igreja, se acham entre os
sinceros fiéis; contudo, não pertencem à igreja, embora sejam membros dela [2].
Mas queremos dizer que se deve distinguir o corpo e a comunhão da verdadeira
igreja, de todas as seitas que se dizem igreja.
As marcas para conhecer a verdadeira igreja
são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho [3], a pura administração dos
sacramentos [4] como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica
para castigar os pecados [5]. Em resumo: ela se orienta segundo a pura Palavra de
Deus [6], rejeitando todo o contrário a esta Palavra [7] e reconhecendo Jesus Cristo
como o único Cabeça [8]. Assim, com certeza, se pode conhecer a verdadeira igreja;
e a ninguém convém separar-se dela.
Aqueles que pertencem à igreja podem ser
conhecidos pelas marcas dos cristãos, a saber: pela fé [9] e pelo fato de que
eles, tendo aceitado Jesus Cristo como único Salvador, fogem do pecado e seguem
a justiça [10], amando Deus e seu próximo [11], não se desviando para a direita nem
para a esquerda e crucificando a carne, com as obras dela [12]. Isto não quer
dizer, porém , que eles não têm ainda grande fraqueza, mas, pelo Espírito, a
combatem, em todos os dias de sua vida [13], e sempre recorrem ao sangue, à
morte, ao sofrimento e à obediência do Senhor Jesus. NEle eles têm a remissão dos
pecados, pela fé [14].
Quanto à falsa igreja, ela atribui mais poder
e autoridade a si mesma e a seus regulamentos do que à Palavra de Deus e não
quer submeter-se ao jugo de Cristo [15]. Ela não administra os sacramentos como
Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela
se baseia mais nos homens que em Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de
maneira santa, conforme a Palavra de Deus, e que lhe repreendem os pecados, a
avareza e a idolatria [16].
É fácil conhecer estas duas igrejas e
distingui-las uma da outra.
1 Ap 2:9. 2 Rm 9:6. 3 Gl 1:8; 1Tm 3:15. 4 At 19:3-5;
1Co 11:20-29. 5 Mt 18:15-17; 1Co 5:4,5,13; 2Ts 3:6,14; Tt 3:10. 6 Jo 8:47; Jo
17:20; At 17:11; Ef 2:20; Cl 1:23; 1Tm 6:3. 7 1Ts 5:21; lTm 6:20;
Ap 2:6. 8 Jo 10:14; Ef 5:23; Cl 1:18. 9 Jo 1:12; 1Jo 4:2. 10 Rm 6:2; Fp 3:12.
11 1Jo 4:19-21. 12 Gl 5:24. 13 Rm 7:15; G1 5:17. 14 Rm 7:24,25; 1Jo 1: 7-9. 15
At 4:17,18; 2Tm 4:3,4; 2Jo :9. 16 Jo 16:2.
ARTIGO 30 - O GOVERNO DA IGREJA
Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada
conforme a ordem espiritual, que nosso Senhor nos ensinou na sua Palavra [1].
Deve
haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e administrarem os
sacramentos [2]; deve haver também presbíteros [3] e diáconos [4] para formarem, com os
pastores, o conselho da igreja [5]. Assim, eles devem manter a verdadeira religião
e fazer com que a verdadeira doutrina seja propagada, que os transgressores
sejam castigados e contidos, de forma espiritual, e que os pobres e os aflitos
recebam ajuda e consolação, conforme necessitam [6].
Desta maneira, tudo procederá, na igreja, em
boa ordem, quando forem eleitas pessoas fiéis [7], conforme a regra do apóstolo
Paulo na carta a Timóteo [8].
1 At 20:28; Ef 4:11,12; 1Tm 3:15; Hb 13:20, 21. 2 Lc
1:2; Lc 10:16; Jo 20:23; Rm 10:14; 1Co 4:1; 2Co 5:19,20; 2Tm 4:2. 3 At 14:23;
Tt 1:5. 4 1Tm 3:8-10. 5 Fp 1:1; 1Tm 4:14. 6 At 6:1-4; Tt 1:7-9. 7 1Co 4:2. 8
1Tm 3.
ARTIGO 31 - OS OFÍCIOS NA IGREJA
Cremos que os ministros da palavra de Deus,
os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para seus ofícios [1] mediante
eleição legítima pela igreja, sob invocação do nome de Deus e em boa ordem,
conforme a palavra de Deus ensina.
Por isso, cada membro deve cuidar para não se
apoderar do ofício por meios ilícitos, mas deve esperar a hora em que é chamado
por Deus, a fim de ter, assim, a certeza de que sua vocação vem do Senhor [2].
Quanto aos ministros da Palavra, eles têm,
onde quer que estejam, igual poder e autoridade, porque todos são servos de
Jesus Cristo [3], o único Bispo universal e o único Cabeça da igreja [4].
Além disto, a santa ordem de Deus não pode
ser violada ou desprezada. Dizemos, portanto, que cada um deve ter respeito especial
pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão do trabalho que
realizam [5]. Cada um deve viver em paz com eles, tanto quanto possível, sem
murmuração, contenda ou discórdia.
1 At 1:23,24; At 6:2,3. 2 At 13:2; 1Co 12: 28; 1Tm
4:14; 1Tm 5:22; Hb 5:4. 3 2Co 5:20; 1Pe 5:1-4. 4 Mt 23:8,10; Ef 1:22;
Ef 5:23. 5 1Ts 5:12,13; 1Tm 5:17; Hb 13:17.
ARTIGO 32 - A ORDEM E A DISCIPLINA DA IGREJA
Cremos que os que governam a igreja devem
cuidar para não se desviarem do que Cristo, nosso único Mestre, nos ordenou [1];
embora seja útil e bom que, entre eles, se estabeleça e conserve determinada
ordem para manter o corpo da igreja.
Por isso, rejeitamos todas as invenções
humanas e todas as leis que se queiram introduzir para servir a Deus, mas que
venham, de qualquer maneira, comprometer e constranger a consciência [2].
Aceitamos, então, somente o que serve para promover e guardar a concórdia e a
unidade e para manter tudo na obediência a Deus [3].
Esta ordem (caso desobedecida exige a
excomunhão), feita conforme a Palavra de Deus, com todas as suas
conseqüências [4].
1 1Tm 3:15. 2 Is 29:13; Mt 15:9; Gl 5:1. 3 1Co 14:33.
4 Mt 16:19; Mt 18:15-18; Rm 16:17; 1Co 5; 1Tm 1:20.
ARTIGO 33 OS SACRAMENTOS
Cremos que nosso bom Deus, atento à nossa
ignorância e fraqueza, instituiu os sacramentos, a fim de nos selar suas
promessas e nos conceder penhores de sua benevolência e graça para conosco e,
também, alimentar e sustentar nossa fé [1]. Ele acrescentou os sacramentos à
palavra do Evangelho [2] para melhor apresentar aos nossos sentidos tanto o que
Ele nos declara por sua Palavra, como o que Ele opera em nossos corações.
Assim, Ele confirma a salvação de que nos fez
participar. Pois os sacramentos são visíveis sinais e selos de uma realidade
interna e invisível. Através deles, Deus opera em nós, pelo poder do Espírito
Santo [3]. Por isso, os sinais não são vãos nem vazios para nos enganar, porque
Jesus Cristo é a verdade deles e, sem Ele, nada seriam.
Além disto, nos contentamos com o número dos
sacramentos que Cristo, nosso Mestre, instituiu e que não são mais de dois: o
sacramento do batismo [4] e o da santa ceia de Jesus Cristo [5].
1 Gn 17:9-14; Êx 12; Rm 4:11. 2 Mt 28:19; Ef 5:26. 3
Rm 2:28,29;
Cl 2:11,12; 4 Mt 28:19. 5 Mt 26:26-28; 1Co 11:23-26.
ARTIGO 34 - O SANTO BATISMO
Cremos e confessamos que Jesus Cristo, o qual
é "o fim da lei" (Romanos 10:4), derramando seu sangue, acabou com
qualquer outro derramamento de sangue, que se possa ou queira realizar para
reconciliação dos pecados. Tendo abolido a circuncisão, que se praticava com
sangue, Ele instituiu, em lugar dela, o sacramento do batismo [1].
Pelo batismo somos recebidos na igreja de
Deus e separados de todos os outros povos e outras religiões para pertencermos
totalmente a Ele [2], tendo sua marca e estandarte. O batismo nos serve para
testemunhar que Ele eternamente será nosso Deus e misericordioso Pai.
Por isso, Cristo mandou batizar todos os seus
"em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19),
somente com água. Desta forma Ele nos dá a entender que assim como a água tira
a impureza do corpo, quando derramada em nós, e também assim como a água é
vista no corpo de quem recebe o batismo, assim o sangue de Cristo, através do
Espírito Santo [3], lava a alma, purificando-a dos pecados [4], e faz com que
nós, filhos da ira nasçamos de novo para sermos filhos de Deus [5]. Porém, não somos purificados de nossos
pecados pela água do batismo [6], mas pela aspersão com o precioso sangue do Filho
de Deus [7]. Ele é nosso Mar Vermelho [8], que devemos atravessar para escapar
da tirania de Faraó - que é o diabo - e para entrar na Canaã espiritual.
Os ministros, por sua parte, nos administram
somente o sacramento, que é visível, mas nosso Senhor nos concede o que o
sacramento significa, a saber: os dons invisíveis da graça. Ele lava nossa
alma, purificando-a e limpando-a de todas as impurezas e iniqüidades [9]. Ele
renova nosso coração, enchendo-o de toda a consolação, e nos dá a verdadeira
certeza de sua bondade paternal. Ele nos reveste do novo homem, despindo-nos do
velho com todas as suas obras [10]. Por isso, cremos que quem quer entrar na vida
eterna, deve ser batizado só uma vez [11]. O batismo não pode ser repetido,
porque também não podemos nascer duas vezes e porque este batismo tem utilidade
não somente no momento de recebê-lo, mas durante a vida inteira.
Rejeitamos, portanto, o erro dos anabatistas,
que não se contentam com o batismo que uma vez receberam e que, além disto,
condenam o batismo dos filhos pequenos dos crentes. Nós cremos, porém, que eles
devem ser batizados e, com o sinal da aliança, devem ser selados, assim como as
crianças em Israel eram circuncidadas com base nas mesmas promessas que foram
feitas a nossos filhos [12]. Cristo, de fato, derramou seu sangue para lavar,
igualmente, as crianças dos fiéis e os adultos [13]. Por isso, elas devem
receber o sinal e o sacramento da obra que Cristo fez para elas, como o Senhor,
outrora, na lei, determinava que as crianças participassem, pouco depois do
seu nascimento, do sacramento do sofrimento e da morte de Cristo, através da
oferta de um cordeiro [14], que era um sacramento de Jesus Cristo.
Além disto, o batismo tem, para nossos
filhos, o mesmo efeito que a circuncisão tinha para o povo judeu. É por esta
razão que o apóstolo Paulo chama ao batismo: "a circuncisão de
Cristo" (Colossenses 2:11).
1 - Cl 2:11. 2 - Êx 12:48; 1Pe 2:9. 3 - Mt 3:11; 1Co 12:13. 4 - At 22:16;
Hb 9:14; 1Jo 1:7; Ap 1:5b. 5 - Tt 3:5. 6 - 1Pe 3:21. 7 - Rm 6:3; 1Pe 1:2;
1Pe 2:24. 8 - 1Co 10:1-4. 9 - 1Co 6:11: Ef 5:26. 10 - Rm 6:4; Gl 3:27.
11 - Mt 28:19; Ef 4:5. 12 Gn 17: 10-12; Mt 19:14; At
2:39. 13 1Co 7:14.
14 Lv 12:6.
ARTIGO 35 - A SANTA CEIA
Cremos e confessamos que nosso Salvador Jesus
Cristo ordenou e instituiu o sacramento da santa ceia [1], a fim de alimentar e
sustentar aqueles que Ele já fez nascer de novo e incorporou à sua família, que
é a sua igreja.
Agora, aqueles que nasceram de novo têm duas
vidas diferentes [2]. Uma é corporal e temporária: eles a trouxeram de seu
primeiro nascimento e todos os homens a tem. A outra é espiritual e celestial:
ela lhes é dada no segundo nascimento que se realiza pela palavra do Evangelho
[3], na comunhão com o corpo de Cristo. Esta vida apenas os eleitos de Deus
possuem. Assim Deus ordenou para a manutenção da vida corporal e terrestre, pão
comum, terrestre, que todos recebem como recebem a vida. Porém, a fim de manter a vida espiritual e
celestial, que os crentes possuem, Ele lhes enviou um "pão vivo, que
desceu do céu" (João 6:51) , isto é, Jesus Cristo [4]. Ele alimenta e
mantém a vida espiritual dos crentes [5] quando é comido, quer dizer: aceito
espiritualmente e recebido pela fé [6].
A fim de nos figurar este pão espiritual e
celestial, Cristo ordenou um pão terrestre e visível como sacramento de seu
corpo e o vinho como sacramento de seu sangue [7]. Com eles nos assegura: tão
certo como recebemos o sacramento e o temos em nossas mãos e o comemos e
bebemos com nossa boca, para manter nossa vida, tão certo recebemos em nossa
alma pela fé [8] - que é a mão e a boca da nossa alma -, o verdadeiro corpo e o
verdadeiro sangue de Cristo, nosso único Salvador, para manter nossa vida
espiritual.
Agora, há certeza absoluta de que Jesus
Cristo não nos ordenou seus sacramentos a toa. Então, Ele realiza em nós tudo o
que nos apresenta por estes santos sinais, embora de maneira além da nossa
compreensão, como também a ação do Espírito Santo é oculta e incompreensível
[9].
Entretanto, não nos enganamos, dizendo que, o
que comemos e bebemos, é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo.
Porém, a forma pela qual os tomamos não é pela boca, mas, espiritual, pela fé.
Desta maneira, Jesus Cristo permanece sentado a direita de Deus, seu Pai, no
céu [10] e, contudo, Ele se comunica a nós pela fé. Nesta ceia festiva e
espiritual, Cristo nos faz participar de si mesmo com todas as suas riquezas e
dons e deixa-nos usufruir tanto de si mesmo como dos méritos de seu sofrimento
e morte [11]. Ele alimenta, fortalece e consola nossa pobre alma desolada pelo
comer de seu corpo, e a reanima e renova pelo beber de seu sangue.
Depois, embora os sacramentos estejam unidos
com a realidade da qual são um sinal, nem todos recebem ambos [12]. O ímpio
recebe, sim, o sacramento, para sua condenação, mas não a verdade do
sacramento, como Judas e Simão, o Mago: ambos receberam o sacramento, mas não a
Cristo que por este é figurado [13]. Porque somente os crentes participam dEle
[14].
Finalmente, recebemos na congregação do povo
de Deus [15] este santo sacramento com humildade e reverência. Assim
comemoramos juntos, com ações de graça, a morte de Cristo, nosso Salvador, e
fazemos confissão da nossa fé e da religião cristã [16]. Por isto, ninguém deve
participar da ceia antes de ter-se examinado a si mesmo, da maneira certa,
para, enquanto comer e beber, não comer e beber juízo para si (1ª Coríntios
11:28,29). Em resumo, somos movidos, pelo uso deste santo sacramento, a um
ardente amor para com Deus e nosso próximo.
Por esta razão rejeitamos como profanação dos
sacramentos todos os acréscimos e abomináveis invenções que o homem introduziu
neles e misturou com eles. E declaramos que se deve contentar com a ordenação
que Cristo e seus apóstolos nos ensinaram e falar sobre os sacramentos conforme
eles falaram.
1 - Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:19,20; 1Co
11:23-26. 2 - Jo 3:5,6.
3 - Jo 5:25. 4 - Jo 6:48-51. 5 - Jo 6:63; Jo 10:10b. 6 - Jo 6:40,47.
7 - Jo 6:55; 1Co 10:16. 8 - Ef 3:17. 9 - Jo 3:8.10 - Mc 16:19; At 3:21.
11 - Rm 8:32; 1Co 10:3,4. 12 - 1Co 2:14. 13 - Lc 22:21,22; At 8:13,21.
14 - Jo 3:36. 15 - At 2:42; At 20:7. 16 - At 2:46; 1Co 11:26.
ARTIGO 36 - O OFÍCIO DAS AUTORIDADES CIVIS
Cremos que nosso bom Deus, por causa da perversidade do gênero humano, constituiu reis, governos e autoridades [1]. Ele
quer que o mundo seja governado por leis e códigos [2], para que a indisciplina
dos homens seja contida e tudo ocorra entre eles em boa ordem [3]. Para este
fim Ele forneceu às autoridades a espada para castigar os maus e proteger os
bons (Romanos 13:4). Seu ofício não é apenas cuidar da ordem
pública e zelar por ela, mas também proteger o santo ministério da igreja a fim
de * promover o reino de Jesus Cristo e a pregação da Palavra do Evangelho em
todo lugar [4], para que Deus seja honrado e servido por todos, como Ele ordena
na sua Palavra. Depois, cada um, em qualquer posição que
esteja, tem a obrigação de submeter-se às autoridades, pagar impostos,
render-lhes honra e respeito, obedecer-lhes [5] em tudo o que não contraria a
Palavra de Deus [6], e orar em favor delas para que Deus as guie em todos os
seus caminhos, "para que vivamos vida tranqüila e mansa com toda piedade e
respeito" (lTimóteo 2:2).
Neste assunto rejeitamos os anabatistas e
outros revolucionários e em geral todos os que se opõem às autoridades e aos
magistrados, e querem derrubar a ordem judicial [7], introduzindo a comunhão de
bens, e que abalam os bons costumes que Deus estabeleceu entre as pessoas.
1 Pv 8:15; Dn 2:21; Jo 19:11; Rm 13:1. 2 Êx 18:20. 3 Dt
1:16; Dt 16:19;
Jz 21:25; Sl 82; Jr 21:12; Jr 22:3; 1Pe 2:13,14. 4 Sl 2; Rm
13:4a; 1Tm 2:1-4. 5 Mt 17:27; Mt 22:21; Rm 13:7; Tt 3:1; 1Pe 2:17. 6 At 4:19;
At 5:29.
7 2Pe 2:10; Jd :8.
* Originalmente o texto incluía aqui as seguintes palavras:
"...impedir e exterminar toda idolatria e falso culto a
Deus, destruir o reino do anticristo e ...".
ARTIGO 37 - O JUÍZO FINAL
Finalmente, cremos conforme a palavra de Deus
que, quando chegar o momento determinado pelo Senhor [1] - o qual todas as
criaturas desconhecem -, e o número dos eleitos estiver completo [2], nosso
Senhor Jesus Cristo virá do céu, corporal e visivelmente [3], assim como subiu
ao céu (Atos 1:11), com grande glória e majestade [4]. Ele se manifestará Juiz
sobre vivos e mortos [5], enquanto porá em fogo e chamas este velho mundo para
purificá-lo [6].
Naquele momento comparecerão perante este
grande Juiz, pessoalmente, todas as pessoas que viveram neste mundo [7]:
homens, mulheres e crianças, citados pela voz do arcanjo e pelo som da trombeta
divina (1Tessalonicenses 4:16). Porque todos os mortos ressuscitarão da terra
[8] e as almas serão reunidas aos seus próprios corpos em que viveram. E a
respeito daqueles que ainda estiverem vivos: eles não morrerão como os outros,
mas serão transformados num só momento. De corruptíveis se tornarão
incorruptíveis [9]. Então, se abrirão os livros e os mortos serão
julgados (Apocalipse 20:12), segundo o que tiverem feito neste mundo, seja o
bem ou o mal [10] (2Coríntios 5:10). Sim, "de toda palavra frívola que
proferirem os homens, dela darão conta" (Mateus 12:36), mesmo que o mundo
a considere apenas brincadeira e passatempo. Assim será trazido à luz diante de
todos o que os homens praticaram às escondidas, inclusive sua hipocrisia.
Portanto, pensar neste juízo e realmente
horrível e pavoroso para os homens maus e ímpios [11], mas muito desejável e
consolador para os justos e eleitos. A salvação destes será totalmente
completada e eles receberão os frutos de seu penoso labor [12]. Sua inocência
será reconhecida por todos e eles presenciarão a vingança terrível de Deus
contra os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e atormentaram neste mundo
[13]. Os ímpios serão levados a reconhecer sua culpa pelo testemunho da própria
consciência. Eles se tornarão imortais, mas somente para serem atormentados no
"fogo eterno [14], preparado para o diabo e seus anjos " [15] (Mateus
25:41).
Os crentes e eleitos, porém, serão coroados
com glória e honra. O Filho de Deus confessará seus nomes diante de Deus, seu
Pai (Mateus 10:32), e seus anjos eleitos [16] e Deus "lhes enxugará dos
olhos toda lagrima" [17] (Apocalipse 21:4).
Assim ficará manifesto que a
causa deles, que agora por muitos juízes e autoridades está sendo condenada como
herética e ímpia, é a causa do Filho de Deus. E, como recompensa gratuita, o
Senhor os fará possuir a glória que jamais poderia surgir no coração de um
homem [18]. Por isso, esperamos este grande dia com
grande anseio para usufruirmos plenamente das promessas de Deus em Jesus
Cristo, nosso Senhor.
1 Mt 24:36; Mt 25:13; 1Ts 5:1,2. 2 Hb 11. 39,40; Ap
6:11. 3 Ap 1:7.
4 Mt 24:30; Mt 25: 31. 5 Mt 25:31-46; 2Tm 4:1; 1Pe 4:5. 6 2Pe
3:10-13.
7 Dt 7:9-11; Ap 20:12,13. 8 Dn 12: 2; Jo 5:28,29. 9 1Co 15:51,52;
Fp
3:20,21. 10 Hb 9:27; Ap 22:12. 11 Mt 11:22; Mt 23: 33; Rm 2:5,6;
Hb 10:27; 2Pe
2:9; Jd :15; Ap 14:7a. 12 Lc 14:14; 2Ts 1:3-10; 1Jo 4:17.
13 Ap 15:4; Ap 18:20.
14 Mt 13:41,42; Mc 9:48; Lc 16:23-28; Ap 21:8.
15 Ap 20:10. 16
Ap 3:5. 17 Is 25:8; Ap 7:17. 18 Dn 12: 3; Mt 5:12;
Mt 13:43; 1Co 2:9; Ap
21:9-22:5.
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