Por
Vincent Cheung
Suporte comigo os meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum
soldado se deixa envolver pelos negócios da vida civil, já que deseja agradar
aquele que o alistou. Semelhantemente, nenhum atleta é coroado como vencedor,
se não competir de acordo com as regras. O lavrador que trabalha arduamente
deve ser o primeiro a participar dos frutos da colheita. Reflita no que estou
dizendo, pois o Senhor lhe dará entendimento em tudo. (2 Timóteo 2.3-7)
Deus preordenou a salvação de alguns indivíduos e decidiu que mostraria sua
graça a eles. Essa salvação foi prometida e descrita por meio de todos os
documentos do Antigo Testamento pelos profetas. Então, no tempo determinado por
Deus, essa graça apareceu na pessoa de Jesus Cristo, que sofreu a penalidade do
pecado em si mesmo por causa desses escolhidos, e morreu, e que ressuscitou
dentre os mortos para sua própria glória e vindicação, e para a justificação
desses mesmos indivíduos. Essa salvação foi pregada e crida antes da aparição
de Cristo, e aqueles no passado foram salvos confiando na promessa divina de salvação
que haveria de chegar.
Nesse sentido, o evangelho foi pregado até mesmo nos primeiros dias da história
humana. Deus mesmo o pregou a Adão e Eva, e a Satanás como uma testemunha
contra ele. E em sua carta aos gálatas, Paulo diz que Deus pregou esse mesmo
evangelho a Abraão. Essa mensagem não é mais uma promessa, mas foi cumprida na
pessoa de Jesus Cristo de uma forma definida e conclusiva. Agora pregamos a
Jesus Cristo crucificado – não que ele será, mas que ele já foi crucificado – e
ressurreto dentre os mortos. A salvação apareceu nele, e é agora explicada e
propagada pela mensagem do evangelho. Embora todos os cristãos devam se engajar
nesse esforço, e o poder do Espírito Santo esteja disponível a todos eles, Deus
chama alguns indivíduos para dedicar suas vidas a essa tarefa e concede-lhes
habilidades especiais para realizar a obra com excelência e eficácia. Paulo foi
designado “pregador e apóstolo, mestre” (1Tm 2.7) do evangelho.
Esse evangelho é pregado a pecadores. Por sua própria natureza, eles são
idiotas e rebeldes espirituais que não conhecem a verdade e que resistem à
verdade quando esta é apresentada a eles. Os cristãos devem sempre dizer aos
não cristãos que eles estão errados, que eles estão errados em seu pensamento e
em seu comportamento. Se um cristão não diz isso, então ele não está falando
sobre salvação, visto que não explica o porquê o não cristão precisa de
resgate. Mas pecadores não gostam de ouvir que estão errados. Eles estão cheios
de rebelião e não querem mudar. A menos que Deus aja em suas mentes para alterar
suas disposições interiores, eles persistirão nessa rebelião, e reagirão com
incredulidade e malícia.
Por
essa razão, o ministério é difícil e perigoso. Quando o cristão prega o
evangelho aos não cristãos, ele está apresentando algo que é obviamente verdadeiro,
mas está apresentando isso a pessoas muito tolas e obstinadas. Elas são tão
entorpecidas e ímpias que a verdade do evangelho não lhes afeta. Todavia, elas
percebem o suficiente para entender que essa verdade é algo que eles não
gostam, e algumas vezes reagem com agressão e até mesmo violência. O próprio
Paulo foi preso como um criminoso por ter pregado o evangelho.
Ora,
a obra do pregador é declarar o evangelho. Ele deve declará-lo a todos os
homens, e ensinar-lhes as doutrinas da religião cristã. E ele deve também
treinar outros para realizar a mesma obra. Assim, Paulo diz a Timóteo: “E as
palavras que me ouviu dizer… confie-as a homens fiéis que sejam também capazes
de ensinar outros”. Ele está dizendo para Timóteo fazer a mesma coisa que o
colocou em problemas, e, além disso, treinar mais pessoas para fazer essa mesma
coisa.
Devia ser esperado, então, que Timóteo e aqueles treinados por ele enfrentariam
problemas também. Assim, Paulo continua: “Suporte comigo os meus sofrimentos,
como bom soldado de Cristo Jesus”. Ele está ciente que a obra que manda Timóteo
realizar provavelmente o colocará no mesmo tipo de problema que é seu enquanto
escreve esta carta. Paulo ama Timóteo ternamente, mas em vez de mandá-lo tomar
outro caminho, ele insta para que Timóteo compartilhe do sofrimento que é comum
àqueles que são chamados para pregar a verdade sobre Jesus Cristo.
Ele usa três analogias para ilustrar o seu ponto: o soldado, o atleta e o
lavrador. Ele as usou em outro lugar, mas como as mesmas analogias podem servir
para ilustrar diferentes pontos em vários contextos, ele as usa com uma ênfase
particular aqui. Um soldado pode ter uma família e outras coisas associadas com
uma vida normal, mas o fato permanece que ele não está envolvido nos negócios
civis. Sua obra é mais que um hobby ou mesmo carreira. É um modo de vida. Em
geral, sua vida é sobre essa uma coisa, e ela controlará outros aspectos de sua
vida. Um atleta é caracterizado pela auto-disciplina. Ele é dedicado ao
treinamento. Mesmo quando está fazendo outras coisas, essa uma coisa o governa,
e controla até mesmo seu sono e hábitos alimentícios. Ele pode sair de férias,
mas ele não pára de treinar, e não retorna com uma barriguinha. Da mesma forma,
a obra de um lavrador é labor intenso e demanda toda a sua atenção.
Um
ministro não deve tomar a sua obra menos seriamente que o soldado, atleta ou
lavrador. Ele não deve ser dado a excessos em luxúrias, em interesses
particulares, ou mesmo em interações sociais que não tenham nenhum propósito
espiritual. Certamente ele pode ter uma vida normal até onde os princípios
bíblicos permitam. Ele poderia ter uma família. Poderia ter hobbies que
pretenda exercer. Poderia tirar férias. Mas não importa o que faça, sua vida é
governada por essa uma coisa, por sua dedicação para se preparar e realizar a
obra do evangelho. Ele ensinará sua família a servir a Deus. Seus hobbies
contribuirão para esse ministério. E ele devotará tempo extra ao estudo e
oração durante as suas férias. Ele nunca pára de fazer a obra do ministério.
Assim
como a resolução do soldado, do atleta e do lavrador capacita-os a persistir
durante dificuldades, a dedicação do ministro à sua obra capacita-o a suportar
sofrimento e enfrentar perseguição. O ministério não é um hobby, mas uma missão
que reivindica toda a vida do pregador, cada aspecto dela. O evangelho não é
simplesmente uma opção entre muitas, mas é uma mensagem necessária, e o poder
de Deus para salvar aqueles que creem. Combinado com a expectação de fruto e
recompensa no futuro, um foco único sobre o evangelho de Jesus Cristo prepara o
ministro para o sofrimento que ele provavelmente encontrará.
O ensino é aplicável a todos os cristãos, mesmo que não sejam ministros que
dedicam todo o seu tempo e esforço à obra do evangelho. Um cristão deve
considerar sua religião seriamente, assim como um pregador deve considerar
seriamente o seu ministério. Quão seriamente? Ele deve estar preparado a
permanecer fiel e sofrer por ele. Alguns de nós não sofrem nem de longe tanto
quanto Paulo sofreu, mas cristãos em muitas partes do mundo sim, ou ao menos
perto disso. E mesmo que não soframos agora, poderemos sofrer mais tarde. Dessa
forma, é importante manter as palavras de Paulo em mente. Somos infiéis ao
evangelho e despreparados para sofrer por ele se não consideramos nossa
religião tão seriamente quanto o soldado, o atleta e o lavrador consideram o
seu trabalho. E a menos que nossa fé governe todos os aspectos das nossas
vidas, não temos a mesma dedicação.
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