domingo, 27 de dezembro de 2015

REMONSTRÂNCIA X TULIP!

OS CINCO ARTIGOS DA REMONSTRÂNCIA:

FORAM PROPOSIÇÕES TEOLÓGICAS APRESENTADAS EM 1610 PELOS SEGUIDORES DE JACÓ ARMÍNIO MORTO EM 1609, ÀS QUAIS DISCORDAVAM DAS INTERPRETAÇÕES DO ENSINAMENTO DE JOÃO CALVINO ENTÃO VIGENTE NA IGREJA REFORMADA HOLANDESA. OS ARTIGOS FORAM DIVISÓRIOS, E AQUELES QUE OS APOIARAM FORAM CHAMADOS DE "REMONSTRANTES".

* ARTIGO I - Que Deus, por um eterno e imutável plano em Jesus Cristo, seu Filho, antes que fossem postos os fundamentos do mundo, determinou salvar, de entre a raça humana que tinha caído no pecado – em Cristo, por causa de Cristo e através de Cristo – aqueles que, pela graça do Santo Espírito, crerem neste seu Filho e que, pela mesma graça, perseverarem na mesma fé e obediência de fé até o fim; e, por outro lado, deixar sob o pecado e a ira os contumazes e descrentes, condenando-os como alheios a Cristo, segundo a palavra do Evangelho de Jo 3.36 e outras passagens da Escritura.
* ARTIGO II - Que, em concordância com isso, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada um dos homens, de modo que obteve para todos, por sua morte na cruz, reconciliação e remissão dos pecados; contudo, de tal modo que ninguém é participante desta remissão senão os crentes.
* ARTIGO III - Que o homem não possui por si mesmo graça salvadora, nem as obras de sua própria vontade, de modo que, em seu estado de apostasia e pecado para si mesmo e por si mesmo, não pode pensar nada que seja bom – nada, a saber, que seja verdadeiramente bom, tal como a fé que salva antes de qualquer outra coisa. Mas que é necessário que, por Deus em Cristo e através de seu Santo Espírito, seja gerado de novo e renovado em entendimento, afeições e vontade e em todas as suas faculdades, para que seja capacitado a entender, pensar, querer e praticar o que é verdadeiramente bom, segundo a Palavra de Deus [Jo 15.5].
* Artigo IV - Que esta graça de Deus é o começo, a continuação e o fim de todo o bem; de modo que nem mesmo o homem regenerado pode pensar, querer ou praticar qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação para o mal sem a graça precedente (ou preveniente) que desperta, assiste e coopera. De modo que todas as obras boas e todos os movimentos para o bem, que podem ser concebidos em pensamento, devem ser atribuídos à graça de Deus em Cristo. Mas, quanto ao modo de operação, a graça não é irresistível, porque está escrito de muitos que eles resistiram ao Espírito Santo.
* ARTIGO V - Que aqueles que são enxertados em Cristo por uma verdadeira fé, e que assim foram feitos participantes de seu vivificante Espírito, são abundantemente dotados de poder para lutar contra Satã, o pecado, o mundo e sua própria carne, e de ganhar a vitória; sempre – bem entendido – com o auxílio da graça do Espírito Santo, com a assistência de Jesus Cristo em todas as suas tentações, através de seu Espírito; o qual estende para eles suas mãos e (tão somente sob a condição de que eles estejam preparados para a luta, que peçam seu auxílio e não deixar de ajudar-se a si mesmos) os impele e sustenta, de modo que, por nenhum engano ou violência de Satã, sejam transviados ou tirados das mãos de Cristo [Jo 10.28]. Mas quanto à questão se eles não são capazes de, por preguiça e negligência, esquecer o início de sua vida em Cristo e de novamente abraçar o presente mundo, de modo a se afastarem da santa doutrina que uma vez lhes foi entregue, de perder a sua boa consciência e de negligenciar a graça – isto deve ser assunto de uma pesquisa mais acurada nas Santas Escrituras antes que possamos ensiná-lo com inteira segurança.
Estes artigos, assim definidos e ensinados, os Remonstrantes consideram acordo com a Palavra de Deus, tendendo a edificação, e, no que diz respeito a este argumento, suficiente para a salvação, de modo que não é necessário ou edificante acrescentar ou diminuir qualquer coisa.


OS CINCO PONTOS DO CALVINISMO:

                 FOI A RESPOSTA AOS CINCO ARTIGOS PROPOSTOS PELOS REMONSTRANTES, E FORAM ELABORADOS POR OCASIÃO DO SÍNODO DE DORT. 
O ACRÓSTICO TULIP EM INGLÊS COINCIDE COM A PALAVRA TULIPA, POR ESTE MOTIVO, FREQUENTEMENTE A FLOR REFERIDA É UTILIZADA COMO SÍMBOLO DO CALVINISMO.
              
                    1- DEPRAVAÇÃO TOTAL DO HOMEM
Também chamada de "depravação radical", "corrupção total" e "incapacidade total". Indica que toda criatura humana, em sua condição atual, ou seja, após a queda, é caracterizada pelo pecado, que a corrompe e contamina, incluindo a mente. Por isso, afirma-se que ninguém é capaz de realizar o que é verdadeiramente bom aos olhos de Deus. Em contrapartida, o ser humano é escravo do pecado, por natureza hostil e rebelde para com Deus, espiritualmente cego para a verdade, incapaz de salvar a si mesmo ou até mesmo de se preparar para a salvação. Só a intervenção direta de Deus pode mudar esta situação.
                    2- ELEIÇÃO INCONDICIONAL
Eleição significa "escolha". É a escolha feita por Deus desde toda a eternidade, daqueles a quem ele concedeu a graça da salvação. Esta escolha não se baseia no simples mérito, ou na fé das pessoas que ele escolhe, mas se baseia em sua decisão soberana e incondicional, irrevogável e insondável. Isso não significa que a mesma salvação final é incondicional, mas que a condição em que assenta (fé) é concedida também pela graça de Deus, como seu presente para aqueles a quem Ele escolheu incondicionalmente.
                  3- EXPIAÇÃO PARTICULAR (OU EXPIAÇÃO LIMITADA)
Também chamada de "redenção particular" ou "redenção definida", significa a doutrina segundo a qual a obra redentora de Cristo foi apenas visando a salvação daqueles que têm sido alvo da graça da salvação. A eficácia salvífica do Cristo redentor, então, não é "universal" ou "potencialmente eficaz" para quem iria recebê-lo, mas especificamente designada para consolidar a salvação daqueles a quem Deus Pai escolheu desde antes da fundação do mundo. Os calvinistas não acreditam que a expiação é limitada em seu valor ou poder (se Deus o Pai quisesse, teria salvo todos os seres humanos sem exceção), mas sim que a expiação é limitada na medida em que foi destinada para alguns e não para todos.
                  4- VOCAÇÃO EFICAZ (OU GRAÇA IRRESISTÍVEL)
Também conhecida como: "graça eficaz", esta doutrina ensina que a influência salvífica do Espírito Santo de Deus é irresistível, superando toda e qualquer resistência. Quando então, Deus soberanamente visa salvar alguém, o indivíduo não tem como resistir à essa graça da vida eterna com o próprio Deus.
                 5- PERSEVERANÇA DOS SANTOS
Também conhecida como "preservação dos santos" ou "segurança eterna", este quinto ponto sugere que aqueles a quem Deus chamou para a salvação, e depois, à comunhão eterna com ele (“santos ", segundo a Bíblia) não podem cair em desgraça e perder sua salvação.
Mesmo que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua profissão de fé, eles (se eles são autênticos eleitos), mais cedo ou mais tarde, retornarão à comunhão com Deus. Essa doutrina é baseada na suposição de que a salvação é obra de Deus do começo ao fim, que Deus é fiel às Suas promessas, e que nada nem ninguém pode impedir Seus propósitos soberanos. Este conceito é ligeiramente diferente do conceito usado em algumas igrejas evangélicas, de "uma vez salvos - salvos para sempre", apesar da apostasia, a falta de arrependimento ou a permanência no pecado, desde que eles tiverem realmente aceito a Cristo no passado. No ensino tradicional calvinista, se uma pessoa cai em apostasia ou não mostra mais sinais de arrependimento genuíno, pode ser prova de que ele nunca foi realmente salvo, e, em seguida, que não fazia parte do número dos eleitos.



                                   

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domingo, 13 de dezembro de 2015

LUTERO E A FORMA DE CULTO!



[CARTA DE MARTINHO LUTERO TRATANDO SOBRE AS FORMAS DE CULTO DESAFIA CONTENDAS TOLAS E DOUTRINAS ESPÚRIAS FLORESCENDO NA IGREJA APÓS CINCO SÉCULOS.]

"A OPINIÃO TOLERANTE DO REFORMADOR SOBRE AS FORMAS DE CULTO EXPRESSA NOS ANOS INICIAIS DA REFORMA NO ESCRITO "MISSA ALEMÃ" É RELATIVAMENTE CONHECIDA. QUE O REFORMADOR, AO FINAL DA VIDA, REFORÇA ESTE CONCEITO NUMA CARTA AO PRÍNCIPE GEORGE DE ANHALT PODE SURPREENDER, MAS É PLENAMENTE COERENTE COM O QUE ELE ESCREVE EM 1520 SOBRE A LIBERDADE CRISTÃ."

Em Congregação de Cristo! Tradução Martin Weingaertner!

Carta ao príncipe George de Anhalt

Graça e paz no Senhor!
                                    O doutor Augustinho Schurf insistiu muito que eu escrevesse para ti, digníssimo e excelentíssimo Príncipe uma carta sobre as formas de culto. Confesso que não sou favorável a formas de culto necessárias, mas, das desnecessárias, sou inimigo. Inquietou-me e ainda me inquieta, não apenas a experiência feita com elas na igreja do papa, mas também o exemplo da Igreja Antiga. Porque facilmente acontece que as formas de culto se elevam a leis. E, depois de se tornarem leis, logo viram em arapucas para as consciências. E, então, a doutrina pura é obscurecida e soterrada, especialmente, se os que sucedem aos que as estabeleceram não tiverem fogo, nem instrução, brigando mais pelas formas de culto do que pela mortificação da carne… até cada um seguir sua própria opinião.
                       Em síntese: o desprezo da Palavra da nossa parte e a blasfêmia dos nossos oponentes me parecem preanunciar o tempo que João Batista profetizou aos seus ouvintes: O machado já está posto à raiz das árvores (Mt 3.10). Como isto indica para o fim iminente, ao menos, o fim deste tempo “feliz”, não me parece necessário, ficar preocupado demais em introduzir e sintonizar formas de culto para estabelecê-las como lei eternamente válida. Uma coisa, porém, deve ser feita para a Palavra ser ensinada pura e ricamente: que sejam ordenados servos da Palavra instruídos e adequados que, antes de tudo, se empenham em ser um coração e uma alma no Senhor (At 4.32). 
                             Neste consenso sucede com facilidade, que formas de culto sintonizem, ou seja, toleradas. Sem ele a briga pelas formas de culto não terá nem fim, nem limites. Pois os que nos sucederem se revoltarão contra a autoridade que nós fizemos valer. Assim a carne lutará contra a carne, como é característico para a natureza corrompida. Por isto não posso aconselhar que em cada lugar haja uniformidade nas formas de culto. 
                         Onde as formas de culto evidentemente abusivas e tolas foram eliminadas, deve-se tolerar a diversidade, de modo que, se em algum lugar algumas deixaram de ser praticadas, elas não venham a ser reintroduzidas; e, se elas permaneceram, não sejam abolidas por imposição. O mesmo se dá quanto à questão da disposição costumeira dos altares, também da vestimenta santa, respectivamente, cotidiana dos pregadores e coisas semelhantes. Pois quando o coração e a alma são um no Senhor, suporta-se com facilidade a falta de forma do outro neste assunto. 
           Acrescente-se a isto: quando não há empenho pela unidade no coração e na alma, aquela unidade exterior tem pouco efeito e não durará muito entre os sucessores, pois cultos estão sujeitos a lugar e tempo; e pessoas, à circunstâncias, mas o Reino de Deus não consiste neles, pois são mutáveis por natureza. 
             Seja quais forem as formas de culto que vierem a existir, deve-se evitar que elas sejam transformadas em leis compulsórias. Por isto me parece desejável que como um professor ou um pai de família, quando lhes parecer que a ordem foi abandonada, corrigem equívocos segundo a lei divina sem leis, mas com supervisão na escola ou em casa e também na igreja se lidere mais por supervisão presente do que por leis impostas. Pois onde falta a supervisão do pai, também faltará ordem na família. É o que dizem os provérbios: “O olho do patrão engorda a boiada” e “As pegadas do patrão adubam a lavoura”. Por isto toda questão consiste, como Cristo diz (Lc 12.42), em pessoas sábias e fiéis. Sem atrair tais pessoas para a liderança da igreja, tentar-se-á em vão dirigi-la por meio de leis.
               E qual seria a necessidade de uniformizar tudo, se no papado reinou tão grande diversidade em todas as áreas? Que diferenças enormes sempre houve entre a igreja grega e a latina! Por isto insistimos no estabelecimento de escolas e principalmente na pureza e sintonia da doutrina que une coração e alma no Senhor. Mas são poucos que se empenham por isto. Muitos são apenas ventres que buscam pastagem para se alimentarem a si mesmos. Por isto tive, mais de uma vez, a ideia de reduzir o número de pastores (nos povoados) e colocar no seu lugar um único instruído e fiel que algumas vezes por ano visita os lugarejos com pregação pura e supervisão dedicada, enquanto que, no entremeio, o povo vai à igreja matriz para receber os sacramentos, respectivamente estes seriam levados aos enfermos por diáconos.
            Assim o assunto e o tempo ensinarão muita coisa que não poderá ser antecipada por lei e que não poderá ser previsto com antecedência.
          Sua Alteza tem com isto uma breve síntese do que eu penso. O Senhor, porém, dirija sua Alteza pelo seu Espírito Santo, “sem cujo poder não há nada no ser humano e tudo lhe é nocivo”, no caminho da salvação e da paz para o louvor e a honra de Deus. Amém.

Submisso à sua Alteza

                                      Martinus Luther, Doutor.


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