sábado, 28 de fevereiro de 2015

O PRINCÍPIO DO SANTUÁRIO!





Entre os erros mais comuns cometidos no meio cristão está o princípio do santuário. Segundo esse princípio, o edifício que a igreja usa para realizar seus cultos e reuniões é um templo, ou seja, uma espécie de lugar sagrado em que habita a divindade, um lugar em que o piso, as paredes e os móveis que guarnecem aquele espaço são revestidos de santidade especial que jamais deve ser maculada.
Que esse princípio está errado é evidente — em primeiro lugar, porque o cristianismo é uma religião sem templos. Desde os seus primórdios, a igreja cristã nunca foi obrigada por qualquer disposição divina a ter um lugar santo onde seus membros devessem se reunir. Se os cristãos de Jerusalém se reuniam no templo (At 2.46), é preciso lembrar que aquela magnífica construção feita por Herodes pertencia ao judaísmo, não ao cristianismo. Além disso, não se deve esquecer que os crentes de Jerusalém se reuniam nos imensos pátios e pórticos do templo (ali não existiam auditórios) porque, sendo judeus, mantinham ainda certos costumes judaicos relativos à prática da oração (At 3.1).
Também é preciso frisar que, como todos em Jerusalém naqueles dias, os cristãos viam os amplos espaços do templo como lugares de convívio social, muito conveniente para seus encontros e para a pregação do evangelho ao povo (At 3.11; 4.1; 5.21,25,42). Ainda, porém, que nutrissem esses costumes, a pregação de Estevão, proferida diante do Sinédrio, mostra que até os crentes judeus do período neotestamentário sabiam que “o Altíssimo não habita em casas feitas por homens…” (At 7.48,49). Além do mais, é sabido que a igreja do Novo Testamento, mesmo em Jerusalém, se reunia nas casas dos crentes (At 2.2,46; 5.42; 12.12). Esse fato se torna ainda mais notório quando são observadas as comunidades cristãs espalhadas pelas diversas cidades distantes de Jerusalém, onde o templo judaico estava. Todas aquelas comunidades se reuniam nos lares, sem jamais se preocupar com a edificação de um “santuário” (At 20.20; Rm 16.5; 1Co 16.19; Cl 4.15; Fm 2). Aliás, para o cristão da igreja primitiva, a construção de templos era uma prática tipicamente pagã (At 14.13; 19.27,35; 1Co 8.10). Tanto que, ao que parece, foi só no limiar do século 3 que o princípio do santuário começou a integrar o pensamento cristão.
Prova disso é que o mais antigo templo cristão já encontrado é uma casa-igreja em Dura-Europos, que foi construída por volta de 232 e destruída em 258.
A suposta conversão do imperador Constantino, ocorrida por volta do ano 312, imprimiu o princípio do santuário com força ainda maior na mentalidade da igreja. Segundo o notável historiador Edward Gibbon, a partir dessa época esse princípio foi totalmente assimilado pelos cristãos. Com isso, as ideias pagãs sobre edificações dedicadas aos deuses foram cristianizadas, e os templos de Júpiter e Minerva foram consagrados a Cristo. Desde então, muitos líderes eclesiásticos passaram a ensinar que as sedes onde as igrejas locais se reúnem são templos e, com base nisso, inventaram novos rituais e estranhas restrições que têm ares de piedade, mas que não servem para nada.
Por exemplo: muitas igrejas realizam “cultos de consagração” quando terminam a construção de um “templo” novo. Essas consagrações muitas vezes abrangem móveis e utensílios como bancos, instrumentos musicais e microfones. Outras igrejas consideram o púlpito a parte mais sagrada do “santuário” e não permitem que ninguém sequer pise ali, exceto os pastores e os pregadores (como os faxineiros fazem para limpar essas áreas?); outras ainda proíbem que se entre no “templo” fora do horário dos cultos e censuram quem conversa ali depois de findas as reuniões. Todas essas práticas provam que falta a muitos ministros de hoje uma visão mais bem elaborada acerca do que a Bíblia diz sobre santuários, em especial o templo usado na época do Antigo Testamento. Ora, mesmo um estudo superficial desse assunto revelará que sua análise deve envolver dois aspectos: o interno e o externo.
Em seu aspecto externo, o ensino bíblico sobre o templo judaico aponta para as disposições dadas por Deus sobre o local em que devia ser construído o edifício (Dt 12.4-14), suas dimensões, a maneira que seus móveis e utensílios deviam ser dispostos, os detalhes acerca das práticas a ser realizadas em suas dependências e as normas gerais sobre sua utilização (Êx 25–30). Já o aspecto interno do ensino sobre o templo realça os santos princípios que cada um dos fatores externos visava a transmitir. É o autor de Hebreus quem ensina claramente que o templo judaico, com suas formas e utensílios, era uma representação de verdades e princípios eternos (Hb 9.1-10). Ora, é sabido que esses princípios são imutáveis e permanentes, enquanto as regulamentações de natureza exterior são mutáveis e passageiras.
A efemeridade do que é meramente exterior no tocante ao templo pode ser comprovada pelo próprio testemunho histórico. O templo de Jerusalém foi destruído pelo general Tito no ano 70 d.C. e jamais foi reconstruído. Aliás, o próprio Senhor predisse essa destruição quando seus discípulos se revelaram admirados com as imensas colunas do templo de Herodes (Mt 24.1,2). Diga-se de passagem que nessa ocasião o Mestre mostrou que o entusiasmo com monumentos religiosos de pedra, tão comum ainda hoje, é vão. Além disso, mostrando a importância passageira do templo em seu aspecto físico, Jesus disse em outra ocasião, quando conversava com a mulher samaritana, que a época de adorar a Deus levando em conta lugares físicos chegara ao fim (Jo 4.19-24).
O que importa, portanto, para a igreja de Deus, é o “aspecto interno” do ensino sobre o templo. O que significavam todas as disposições exteriores ligadas ao santuário? Para quais verdades apontavam aquelas prescrições? Como a igreja pode observar e viver essas verdades hoje, num tempo em que santuários de pedra não têm mais valor algum?

                                        Mediação e sacrifício
Em resposta a isso tudo, é preciso destacar, em primeiro lugar, que o ensino bíblico sobre o templo indica a necessidade que o homem tem de um mediador para ter acesso a Deus. No templo, o “lugar santíssimo” ficava separado do “lugar santo” por um véu que só o sumo sacerdote transpunha uma vez por ano, a fim de oferecer sacrifícios por seus próprios pecados e pelos do povo (Hb 9.2-4,6-8).
Isso significava que o acesso a Deus permanecia fechado (Hb 9.8), aguardando um mediador perfeito, por meio de quem o pecador pudesse se achegar ao Pai. Como se sabe, o mencionado mediador é o Senhor Jesus Cristo (1Tm 2.5,6; Hb 9.11,12,15; 12.24). Foi por esse motivo que, quando ele morreu, o véu do templo se rasgou de alto a baixo (Mt 27.51). Isso mostrou que o caminho do homem para Deus acabara de ser aberto.
A implicação prática desse fato é que o cristão pode agora se aproximar de Deus com confiança (Hb 10.19-22) e junto dele desfrutar de boa comunhão, misericórdia, graça e auxílio (Hb 4.16), sem precisar, por exemplo, da ajuda de um sacerdote a quem deva se confessar.
O fato de o véu ter se rasgado também mostra que a necessidade do templo como veículo de acesso a Deus desapareceu. Isso significa que construir um templo hoje (como fez a IURD) equivale a afirmar que a obra de Cristo não foi suficiente para abrir o caminho do trono da graça para o pecador, necessitando ele ainda de lugares sagrados e rituais especiais para achegar-se ao Senhor e obter o seu favor (Hb 9.8).
Em segundo lugar, o estudo das verdades que subjazem a figura do templo mostra que a ira de Deus suscitada pelo pecado humano só pode ser aplacada por meio de sangue (Hb 9.22). A justa indignação do Senhor contra toda iniquidade exige propiciação — e esta só pode ser feita com a morte. A existência do altar no templo bem como todos os rituais de sacrifício pelo pecado ali realizados apontam para essa realidade (Lv 16).
Isso tudo explica a necessidade da morte de Cristo, destacando sua importância singular, uma vez que o Novo Testamento ensina que, por sua morte, Cristo fez propiciação pelos pecados (Rm 3.25; 1Jo 2.2; 4.10), desviando do crente a ira de Deus (Rm 5.1,9; 8.1) ao lhe oferecer um sacrifício perfeito e definitivo, suprindo assim uma necessidade que os sacrifícios realizados no templo judaico não podiam suprir (Hb 9.11,12; 10.11-14).
Nesse aspecto em particular, a morte de Cristo mostra ainda quão desnecessário o templo se tornou, pois, sendo ali o local em que os holocaustos eram realizados, sua importância desapareceu tão logo o Senhor ofereceu a si mesmo como sacrifício final e completo pelos pecados, feito uma vez por todas (Hb 7.26,27).
O caráter marcantemente sangrento dos rituais realizados no templo também revela o quanto Deus é santo e não pode suportar a iniquidade (Hc 1.13).
Assimilando essas verdades ensinadas simbolicamente pelo sistema sacrificial do Antigo Testamento, o cristão entenderá melhor o sentido da cruz e também verá com maior nitidez o quanto Deus odeia o pecado (Hb 10.26-31), já que este só pode ser punido com a morte (Ez 18.4; Rm 6.23) e, considerando essas coisas, tentará viver uma vida grata e reta (Hb 12.28,29).
Do estudo do templo, também é possível auferir o princípio de que o culto a Deus deve ser regido por determinações que emanam da sua vontade soberana (Hb 8.5). Quando alguém observa as inúmeras regras divinas que regiam os atos cultuais dentro do templo no Antigo Testamento, conclui facilmente que é falsa a ideia de que a adoração ao Senhor pode ser feita da maneira que o adorador bem entende.
A liberdade concedida por Deus, ao contrário do que muitos pensam, não é liberdade sem fronteiras (Gl 5.13; 1Pe 2.16). Os interessados nesse tipo de liberdade devem renunciar à condição de seres humanos e viver como animais a dar vazão a todos os impulsos de seus instintos naturais. Mas façam isso nos campos e florestas, não durante a adoração ao verdadeiro Deus. Pois o culto cristão não deve ter espaço para baderneiros, mas sim se desenvolver dentro dos limites da decência, da ordem, da reverência, do temor e de tudo que é aceitável (1Co 14.40; Hb 12.28).
                                                                               O culto puro
Outra verdade que deriva da análise do templo do Antigo Testamento advém do seu papel na centralização da religião israelita. O estudo do templo mostra que Deus se preocupou muito em criar um núcleo central para o culto verdadeiro. Com efeito, o Senhor proibiu que diversos templos fossem construídos em Canaã. Sua ordem era que somente um fosse edificado no lugar que ele próprio escolhesse (Dt 12.4-14). Na verdade, construir um santuário em outro local (como o que foi construído recentemente no Brás, em São Paulo) equivaleria a criar uma nova religião, sujeita a outro deus (1Rs 12.26-33).
Evidentemente, a centralização do culto determinada pelo Senhor tinha por propósito preservar a unidade nacional e evitar que as doze tribos de Israel espalhadas pela Palestina, em contato com as diferentes formas cananitas de culto pagão, dessem origem a alguma espécie de sincretismo religioso, comprometendo com isso a qualidade moral e espiritual de toda a nação que, então, sofreria fatalmente as terríveis consequências da quebra da aliança (Dt 28.15-68).
Para evitar, ou pelo menos retardar tudo isso, a lei de Deus determinava que o templo fosse um só, sendo instalado no local que Deus escolhesse (Dt 14.23; 15.20; 16.2; 17.8), ao que Josué obedeceu e instalou o tabernáculo em Siló (Js 18.1), onde permaneceu por cerca de trezentos anos, até os dias de Samuel (1Sm 1.3).
Posteriormente, nos dias de Davi, um novo local para o templo foi escolhido pelo Senhor na cidade de Jerusalém (1Cr 21.18–22.1; 2Cr 6.6). Nesse lugar, Salomão construiu um magnífico santuário (2Cr 3.1). Depois disso, nenhum outro local foi escolhido por Deus para a edificação de sua casa. Os templos edificados pelos judeus depois do exílio babilônico foram todos construídos no mesmo lugar que o Senhor indicara a Davi. De todo esse cuidado de Deus em exigir a manutenção de um núcleo central e singular para a adoração, se depreende que ele quer que o culto ao seu nome seja sempre livre de contaminações. O sincretismo religioso e o tão pregado ecumenismo são abomináveis aos olhos dele, pois implicam a mistura de atos legítimos de culto com práticas e crenças supersticiosas, próprias de religiões demoníacas.
Fuja, portanto, a igreja cristã de qualquer tipo de associação com o romanismo, o islamismo, o hinduísmo e com as seitas que parecem cristãs e não são. Que esse zelo ocupe mais a mente dos pastores de Cristo do que o vão cuidado de consagrar paredes de tijolo e móveis de madeira.
É também estudando o ensino bíblico sobre o templo judaico que o crente descobre princípios eternos acerca da contribuição financeira para a obra de Deus. Sabe-se, por exemplo, que no Antigo Testamento o dízimo devia ser levado ao templo (Ml 3.10). Ora, essa determinação tinha por objetivo proteger o princípio de que os bens materiais devem ser usados para honrar a Deus, sendo aplicados em seu serviço (Pv 3.9). Portanto, ainda que, pelo fato de não haver mais o templo, seja impossível hoje cumprir à risca o preceito de Malaquias 3.10, permanece intocável o princípio acima exposto. Assim, todo cristão que quer agir de maneira responsável deve cooperar financeiramente para que a obra de Deus seja mantida e levada adiante neste mundo (At 4.34-37; 11.29,30).
Eis, assim, alguns exemplos do aspecto interno do ensino bíblico sobre o templo. O  problema de muitas igrejas, conforme visto, é o apego às normas acerca do santuário em sua face externa, ignorando que a época do santuário de pedras ficou para trás.
Isso tem gerado preocupações e enormes gastos com a construção de suntuosos edifícios, tem levado pessoas a gastar tempo precioso com o planejamento de cultos solenes de consagração de santuários e seus utensílios e tem feito pastores se desgastarem com a criação e manutenção de regras acerca do que pode ou não ser feito na “nave” dos seus templos.
Todas essas enormes parcelas de tempo, trabalho e dinheiro poderiam ser mais bem direcionadas se uma compreensão maior das Escrituras reinasse no meio evangélico. Com efeito, quantos esforços deixariam de ser empregados em vão se todos os crentes atentassem para o ensino de Jesus à samaritana, quando disse que o período de adoração a Deus em templos ou lugares sagrados havia chegado ao fim (Jo 4.19-24)! E que dizer dos ensinos de Paulo, de Pedro e do autor de Hebreus que, unânimes, insistem em afirmar que o templo cristão são os próprios crentes   (1Co 3.16; 6.19;  Hb 3.6; 1Pe 2.5)?
Quem quiser, pois, consagrar um templo a Deus, consagre-se a si mesmo; e quem quiser ter reverência dentro de um templo, tenha reverência em si mesmo. Da mesma forma, se alguém quiser glorificar a Deus num santuário, glorifique-o em seu próprio corpo, com cada membro que o compõe; e se algum cristão quiser adorar o Pai num lugar sagrado, adore-o dentro de si mesmo, no templo de sua alma, e de todo o coração, pois é esse o tipo de adorador que o Pai procura (Jo 4.23,24).
Ora, o que é numeroso e patente não exige busca cuidadosa. Só o que é raro e difícil de ver requer a diligência da procura. Que todo crente seja, pois, parte da classe quase extinta de homens e mulheres que se preocupam em adorar a Deus no verdadeiro santuário do coração.
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Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria

PUBLICADO POR "REVISTA MONERGISTA" EM AGOSTO DE 2014!
http://www.revistamonergista.com/2014/08/o-principio-do-santuario-parte-1.html
http://www.revistamonergista.com/2014/08/o-principio-do-santuario-parte-2.html
http://www.revistamonergista.com/2014/08/o-principio-do-santuario-parte-3.html





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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A CONFISSÃO BELGA.



Confissão Belga:  
                                       por  Guido de Brès

ARTIGO 1- O ÚNICO DEUS
Todos nós cremos com o coração e confessamos com a boca [1] que há um só Deus [2], um único e simples ser espiritual [3]. Ele é eterno [4], incompreensível [5] invisível [6], imutável [7], infinito [8], todo-poderoso [9]; totalmente sábio [10], justo [11] e bom [12], e uma fonte muito abundante de todo bem.

1 Rm 10:10. 2 Dt 6:4; 1Co 8:4,6; 1Tm 2:5. 3 Jo 4:24. 4 S1 90:2. 5 Rm 11:33. 6 Cl 1:15; 1Tm 6:16. 7 Tg 1:17. 8 1Rs 8:27; Jr 23:24. 9 Gn 17:1; Mt 19:26; Ap 1:8. 10 Rm 16:27. 11 Rm 3:25,26; Rm 9:14; Ap 16:5,7. 12 Mt 19:17. 
Veja também Is 40, 44 e 46.

ARTIGO 2 - COMO CONHECEMOS A DEUS
Nós o conhecemos por dois meios. 
Primeiro: pela criação, manutenção e governo do mundo inteiro, visto que o mundo, perante nossos olhos, é como um livro formoso [1], em que todas as criaturas, grandes e pequenas, servem de letras que nos fazem contemplar "os atributos invisíveis de Deus", isto é, "o seu eterno poder e a sua divindade", como diz o apóstolo Paulo (Romanos 1:20. Todos estes atributos são suficientes para convencer os homens e torná-los indesculpáveis.
Segundo: Deus se fez conhecer, ainda mais clara e plenamente, por sua sagrada e divina Palavra [2], isto é, tanto quanto nos é necessário nesta vida, para sua glória e para a salvação dos que Lhe pertencem.

1 Sl 19:1-4. 2 Sl 19:7,8; 1Co 1:18-21.

ARTIGO 3  - A PALAVRA DE DEUS
Confessamos que a palavra de Deus não foi enviada nem produzida "por vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo", como diz o apóstolo Pedro (2 Pedro 1:21).
Depois, Deus, por seu cuidado especial para conosco e para com a nossa salvação, mandou seus servos, os profetas e os apóstolos, escreverem sua palavra revelada [1]. Ele mesmo escreveu com o próprio dedo as duas tábuas da lei [2]. Por isso, chamamos estas escritas: sagradas e divinas Escrituras [3].

1 Êx 34:27; Sl 102:18; Ap 1:11,19. 2 Êx 31:18. 3 2Tm 3:16.

ARTIGO 4 - OS LIVROS CANÔNICOS
A Sagrada Escritura consiste de dois volumes: O Antigo e o Novo Testamento, que são canônicos e não podem ser contraditos de forma alguma.
A Igreja de Deus reconhece a lista seguinte:
   Os livros do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio (os cinco livros de Moisés); Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 
1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares; Isaías, Jeremias (com Lamentações), Ezequiel, Daniel (os quatro profetas maiores); Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias (os doze profetas menores);
    Os livros do Novo TestamentoMateus, Marcos, Lucas, João (os quatro evangelistas); Atos dos Apóstolos; Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemom (as treze epístolas do apóstolo Paulo); Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, e 3 João, Judas e Apocalipse.

ARTIGO 5 - A AUTORIDADE DA SAGRADA ESCRITURA
Recebemos [1] todos estes livros, e somente estes, como sagrados e canônicos, para regular, fundamentar e confirmar nossa fé [2]. Acreditamos, sem dúvida nenhuma, em tudo que eles contêm, não tanto porque a igreja aceita e reconhece estes livros como canônicos, mas principalmente porque o Espírito Santo testifica em nossos corações que eles vêm de Deus [3], como eles mesmos provam. Pois até os cegos podem sentir que as coisas, preditas neles, se cumprem [4].

1 - 1Ts 2:13. 2 - 2Tm 3:16,17. 3 - 1Co 12:3; 1Jo 4:6; 1Jo 5:6b.  
4 - Dt 18:21,22; 1Rs 22:28; Jr 28:9; Ez 33:33.


ARTIGO 6 - A DIFERENÇA ENTRE OS LIVROS CANÔNICOS E APOCRIFOS
Distinguimos estes livros sagrados dos livros apócrifos que são os seguintes: 3 e 4 Esdras, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, os Acréscimos ao livro de Ester e Daniel, a Oração de Manassés e 1 e 2 Macabeus.
A igreja pode, sim, ler estes livros e tirar deles ensino, na medida em que concordem com os livros canônicos. Porém, os apócrifos não têm tanto poder e autoridade que o testemunho deles possa confirmar qualquer artigo da fé ou da religião cristã; e muito menos podem eles diminuir a autoridade dos sagrados livros
   

ARTIGO 7 - A SAGRADA ESCRITURA: PERFEITA E COMPLETA
Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo [1]. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos "ou um anjo vindo do céu", conforme diz o apóstolo Paulo (Gálatas 1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura [2]. É proibido "acrescentar algo a Pa lavra de Deus ou tirar algo dela" [3] (Deuteronômio 12:32; Apocalipse 22:18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa [4].
Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. Nem se pode igualar à verdade de Deus costumes, opiniões da maioria, instituições antigas, sucessão de tempos ou de pessoas, ou concílios, decretos ou resoluções [5]. Pois a verdade está acima de tudo e todos os homens são mentirosos (Salmo 116:11) e "mais leves que a vaidade" (Salmo 62:9). Por isso, rejeitamos de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível [6], conforme os apóstolos nos ensinaram:
 "Provai os espíritos se procedem de Deus" (1 João 4:1), e: "Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa"  (2 João :10).

1 2Tm 3:16,17; 1Pe 1:10-12. 2 1Co 15:2; 1Tm 1:3. 3 Dt 4:2; Pv 30:6;
At 26:22; 1Co 4:6. 4 Sl 19:7; Jo 15:15; At 18:28; At 20:27; Rm 15:4.      
5 Mc 7:7-9; At 4:19; Cl 2:8; 1Jo 2:19. 6 Dt 4:5,6; Is 8:20; 1Co 3:11;     
Ef 4:4-6; 2Ts 2:2; 2Tm 3:14,15.

ARTIGO 8 - A TRINDADE: UM SÓ DEUS, TRÊS PESSOAS
Conforme esta verdade e esta palavra de Deus, cremos em um só Deus [1], que é um único ser, em que há três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo [2]. Estas são, realmente e desde a eternidade, distintas conforme os atributos próprios de cada Pessoa.
O Pai é a causa, a origem e o princípio de todas as coisas visíveis e invisíveis [3]. O Filho é o Verbo, a sabedoria e a imagem do Pai [4]. O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, é a eterna força e o poder [5]. Esta distinção não significa que Deus está dividido em três. Pois a Sagrada Escritura nos ensina que cada um destes três, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, tem sua própria existência, distinta por seus atributos, de tal maneira, porém, que estas três pessoas são um só Deus. É claro, então, que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai; que, também, o Espírito Santo não é o Pai ou o Filho. Entretanto, estas Pessoas, assim distintas, não são divididas nem confundidas entre si. Porque somente o Filho se tornou homem, não o Pai ou o Espírito Santo. O Pai jamais existiu sem seu Filho [6] e sem seu Espírito Santo, pois todos os três têm igual eternidade, no mesmo ser. Não há primeiro nem último, pois todos os três são um só em verdade, em poder, em bondade e em misericórdia.

1 1Co 8:4-6. 2 Mc 3:16,17; Mt 28:19. 3 Ef 3:14,15. 4 Pv 8:22-31; Jo 1:14; 
Jo 5:17-26; 1Co 1:24; Cl 1:15-20; Hb 1:3; Ap 19:13. 5 Jo 15:26. 6 Mq 5:1;
Jo 1:1,2.

ARTIGO 9 - O TESTEMUNHO DA ESCRITURA SOBRE A TRINDADE
Tudo isto sabemos tanto pelo testemunho da Sagrada Escritura [1], como pelas obras das três Pessoas, principalmente por aquelas que percebemos em nós. Os testemunhos das Sagradas Escrituras, que nos ensinam a crer nesta Trindade, se acham em muitos lugares do Antigo Testamento. Não é preciso alistá-los, somente escolhê-los cuidadosamente. Em Gênesis 1:26 e 27, Deus diz: "Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança" etc. "Criou Deus, pois, o homem a sua imagem; homem e mulher os criou".
Assim também em Gênesis 3:22: "Eis que o homem se tornou como um de nós". Com isto se mostra que há mais de uma pessoa em Deus, porque Ele diz: "Façamos o homem a nossa imagem"; e, em seguida, Ele indica que há um só Deus, quando diz: "Deus criou". É verdade que Ele não diz quantas pessoas há, mas o que é um tanto obscuro, para nós, no Antigo Testamento, é bem claro no Novo. Pois quando nosso Senhor foi batizado no rio Jordão, ouviu-se a voz do Pai, que falou: "Este é o meu filho amado" (Mateus 3:17); enquanto o Filho foi visto na água e o Espírito Santo se manifestou em forma de pomba [2].
Além disto, Cristo instituiu, para o batismo de todos os fiéis, esta forma: Batizai todas as nações "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19). No evangelho segundo Lucas, o anjo Gabriel diz a Maria, mãe do Senhor: "Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus" (Lucas 1:35). Do mesmo modo: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós" (2 Coríntios 13:13). 

*** Em todos estes lugares, nos é ensinado que há três Pessoas em um só ser divino. E embora esta doutrina ultrapasse o entendimento humano, cremos nela, baseados na Palavra, e esperamos gozar de seu pleno conhecimento e fruto no céu. Devemos considerar, também, a obra própria que cada uma destas três Pessoas efetua em nós: o Pai é chamado nosso Criador, por seu poder; o Filho é nosso Salvador e Redentor, por seu sangue; o Espírito Santo é nosso Santificador, porque habita em nosso coração.
A verdadeira igreja sempre tem mantido esta doutrina da Trindade, desde os dias dos apóstolos até hoje, contra os judeus, os muçulmanos e falsos cristãos e hereges como Marcião, Mani, Práxeas, Sabélio, Paulo de Samósata, Ário e outros. A igreja antiga os condenou, com toda a razão. Por isso, nesta matéria, aceitamos, de boa vontade, os três Credos ecumênicos, a saber: o Apostólico, o Niceno e o Atanasiano; e também o que a igreja antiga determinou em conformidade com estes credos.

1 - Jo 14:16; Jo 15:26; At 2:32,33; Rm 8:9; Gl 4:6; Tt 3:4-6; 1Pe 1:2; 
1Jo 4:13,14; 1Jo 5:1-12; Jd :20,21; Ap 1:4,5.  2 - Mt 3:16.

*** Originalmente o texto incluía aqui as seguintes palavras: "E: "há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um"  (1 Jo 5:7)". A referência a 1João 5:7b é duvidosa, porque este texto não se acha nos manuscritos antigos.

               ARTIGO 10 - JESUS CRISTO É DEUS
Cremos que Jesus Cristo, segundo sua natureza divina, é o único Filho de Deus [1], gerado desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado - pois, assim, Ele seria uma criatura, - mas é de igual substância do pai, co-eterno, "o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser" (Hebreus 1:3), igual a Ele em tudo [2]. Ele é o Filho de Deus, não somente desde que assumiu nossa natureza, mas desde a eternidade [3], como os seguintes testemunhos nos ensinam, ao serem comparados uns aos outros: Moisés diz que Deus criou o mundo [4], e o apóstolo João diz que todas as coisas foram feitas por intermédio do Verbo que ele chama Deus [5]. O apóstolo diz que Deus fez o universo por seu Filho [6] e, também, que Deus criou todas as coisas por meio de Jesus Cristo [7].
Segue-se necessariamente que aquele que é chamado Deus, o Verbo, o Filho, e Jesus Cristo, já existia, quando todas as coisas foram criadas por Ele. O profeta Miquéias, portanto, diz: "Suas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade" (Miquéias 5:2);
E a carta aos Hebreus testemunha: "Ele não teve princípio de dias, nem fim de existência" (Hebreus 7:3). Assim, Ele é o verdadeiro, eterno Deus, o Todo-poderoso, a quem invocamos, adoramos e servimos.

1 Mt 17:5; Jo 1:14,18; Jo 3:16; Jo 14:1-14; Jo 20:17,31; Rm 1:4; Gl 4:4; 
Hb 1:1; lJo 5:5,9-12. 2 Jo 5:18,23; Jo 10:30; Jo 14:9; Jo 20:28; Rm 9:5; 
Fp 2:6; Cl 1:15; Tt 2:13; Hb 1:3; Ap 5:13. 3 Jo 8:58; Jo 17:5; Hb 13:8.  
4 Gn 1:1. 5 Jo 1:1-3. 6 Hb 1:2. 7 1Co 8:6; Cl 1:16.
                  
        ARTIGO 11 - O ESPÍRITO SANTO É DEUS
Cremos e confessamos, também, que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, desde a eternidade. Ele não foi feito, nem criado, nem gerado; mas procede de ambos [1]. Na ordem, Ele é a terceira pessoa da Trindade, de igual substância, majestade e glória do Pai e do Filho, verdadeiro e eterno Deus, como nos ensinam as Sagradas Escrituras [2].

1 Jo 14:15-26; Jo 15:26; Rm 8:9. 2 Gn 1:2; Mt 28:19; At 5:3,4; lCo 2:10; 1Co 6:11; 1Jo 5:6.

           ARTIGO 12 A CRIAÇÃO DO MUNDO; OS ANJOS
Cremos que o Pai, por seu Verbo - quer dizer: por seu Filho -, criou do nada, o céu, a terra e todas as criaturas, quando bem Lhe aprouve [l]. A cada criatura Ele deu sua própria natureza e forma e sua própria função para servir ao seu Criador. Também, Ele ainda hoje sustenta todas essas criaturas e as governa segundo sua eterna providencia e por seu infinito poder, para elas servirem ao homem, a fim de que o homem sirva a seu Deus. Ele também criou bons os anjos para serem seus mensageiros e servirem aos eleitos [2]. Alguns deles caíram na eterna perdição [3], da posição excelente em que Deus os tinha criado, mas os outros, pela graça de Deus, perseveraram e continuaram em sua primeira posição. Os demônios e os espíritos malignos são tão corrompidos que são inimigos de Deus e de todo o bem [4]. Como assassinos, com toda a sua força, estão a espreita da igreja e de cada um de seus membros, para demolir e destruir tudo com sua astúcia [5]. Por isso, por causa de sua própria malícia, estão condenados a maldição eterna e aguardam, a cada dia, seus tormentos terríveis [6]. Neste ponto, rejeitamos e detestamos o erro dos saduceus que negam a existência de espíritos e de anjos [7]; também o erro dos maniqueus que dizem que os demônios têm sua origem em si mesmos e são maus por natureza; eles negam que os demônios se corromperam.

1 Gn 1:1; Gn 2:3; Is 40:26; Jr 32:17; Cl 1:15,16; lTm 4:3; Hb 11:3; Ap 4:11. 2 Sl 103:20,21; Mt 4:11; Hb 1:14. 3 Jo 8:44; 2Pe 2:4; Jd :6. 4 Gn 3:1-5;
1Pe 5:8. 5 Ef 6:12; Ap 12:4, 13-17; Ap 20:7-9. 6 Mt 8:29; Mt 25:41; Ap 20:10. 7 At 23:8.

        ARTIGO 13 - A PROVIDÊNCIA DE DEUS

Cremos que o bom Deus, depots de ter criado todas as coisas, não as abandonou, nem as entregou ao acaso ou a sorte [1], mas que as dirige e governa conforme sua santa vontade, de tal maneira que neste mundo nada acontece sem sua determinação [2]. Contudo, Deus não é o autor, nem tem culpa do pecado que se comete [3]. Pois seu poder e bondade são tão grandes e incompreensíveis, que Ele ordena e faz sua obra muito bem e com justiça, mesmo que os demónios e os ímpios ajam injustamente [4].
 E as obras dEle que ultrapassam o entendimento humano, não queremos investigá-las curiosamente, além da nossa capacidade de entender. Mas, adoramos humilde e piedosamente a Deus em seus justos julgamentos, que nos estão escondidos [5]. Contentamo-nos em ser discípulos de Cristo, a fim de que aprendamos somente o que Ele nos ensina na sua Palavra, sem ultrapassar estes limites [6].
Este ensino nos traz um inexprimível consolo, quando aprendemos dele, que nada nos acontece por acaso, mas pela determinação de nosso bondoso Pai celestial. Ele nos protege com um cuidado paternal, dominando todas as criaturas de tal modo que nenhum cabelo - pois estes estão todos contados- e nenhum pardal cairá em terra sem o consentimento de nosso Pai (Mateus 10:29,30). Confiamos nisto, pois sabemos que Ele reprime os demônios e todos os nossos inimigos, e que eles, sem sua permissão, não nos podem prejudicar [7]. Por isso, rejeitamos o detestável erro dos epicureus, que dizem que Deus não se importa com nada e entrega tudo ao acaso.

1 Jo 5:17; Hb 1:3. 2 Sl 115:3; Pv 16:1,9,33; Pv 21:1; Ef 1:11. 3 Tg 1:13; 
1Jo 2:16. 4 Jó 1:21; Is 10:5; Is 45:7; Am 3:6; At 2:23; At 4:27,28.           
5 1Rs 22:19-23; Rm 1:28; 2Ts 2:11. 6 Dt 29:29; 1Co 4:6. 7 Gn 45:8;    
Gn 50:20; 2Sm 16:10; Rm 8:28,38,39.

ARTIGO 14 - A CRIAÇÃO DO HOMEM, SUA QUEDA, E SUA INCAPACIDADE DE FAZER O BEM
Cremos que Deus criou o homem do pó da terra [1], e o fez e formou conforme sua imagem e semelhança: bom, justo e santo [2], capaz de concordar, em tudo, com a vontade de Deus. Mas, quando o homem estava naquela posição excelente, ele não a valorizou e não a reconheceu. Dando ouvidos às palavras do diabo, submeteu-se por livre vontade ao pecado e assim à morte e à maldição [3]. Pois transgrediu o mandamento da vida, que tinha recebido e, pelo pecado, separou-se de Deus, que era sua verdadeira vida. Assim ele corrompeu toda a sua natureza e mereceu a morte corporal e espiritual [4]. Tornando-se ímpio, perverso e corrupto em todas as suas práticas, ele perdeu todos os dons excelentes [5], que tinha recebido de Deus. Nada lhe sobrou destes dons, senão pequenos traços, que são suficientes para deixar o homem sem desculpa [6]. Pois toda a luz em nós se tornou em trevas [7] como nos ensina a Escritura: "A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela" (João 1:5). Aqui o apóstolo João chama os homens "trevas". Por isso, rejeitamos todo o ensino contrário, sobre o livre arbítrio do homem, porque o homem somente é escravo do pecado e "não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada" (João 3:27). Pois quem se gloriará de fazer alguma coisa boa pela própria força, se Cristo diz: "Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer" (João 6:44)? Quem falará sobre sua própria vontade sabendo que "o pendor da came e inimizade contra Deus" (Romanos 8:7)?
Quem ousará vangloriar-se sobre seu próprio conhecimento, reconhecendo que "o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus" (1CORÍNTIOS 2:14)? Em resumo: quem apresentará um pensamento sequer, admitindo que não somos "capazes de pensar alguma coisa como se partisse de nós", mas que "a nossa suficiência vem de Deus" (2Coríntios 3:5)? Por isso, devemos insistir nesta palavra do apóstolo: "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua vontade" (Filipenses 2:13). Pois, somente o entendimento ou a vontade que Cristo opera no homem, está em conformidade com o entendimento e vontade de Deus, como Ele ensina: "Sem mim nada podeis fazer" (João 15:5).

1 Gn 2:7; Gn 3:19; Ec 12:7. 2 Gn 1:26,27; Ef 4:24; Cl 3:10. 3 Gn 3:16-19;    
Rm 5:12. 4 Gn 2:17; Ef 2:1; Ef 4:18. 5 Sl 94:11; Rm 3:10; Rm 8:6.
6 Rm 1:20,21. 7 Ef 5:8.

   ARTIGO 15 - O PECADO ORIGINAL
Cremos que, pela desobediência de Adão, o pecado original se estendeu por todo o gênero humano [l]. Este pecado é uma depravação de toda a natureza humana [2] e um mal hereditário, com que até as crianças no ventre de suas mães estão contaminadas [3]. É a raiz que produz no homem todo tipo de pecado. por isso, é tão repugnante e abominável diante de Deus que é suficiente para condenar o gênero humano [4]. Nem pelo batismo o pecado original é totalmente anulado ou destruído, porque o pecado sempre jorra desta depravação como água corrente de uma fonte contaminada [5]. 0 pecado original, porém, não é atribuído aos filhos de Deus para condená-los, mas é perdoado pela graça e misericórdia de Deus [6]. Isto não quer dizer que eles podem continuar descuidadamente numa vida pecaminosa. Pelo contrário, os fiéis, conscientes desta depravação, devem aspirar a livrar-se do corpo dominado pela morte (Romanos 7:24). Neste ponto rejeitamos o erro do pelagianismo, que diz que o pecado é somente uma questão de imitação.
1 Rm 5:12-14,19. 2 Rm 3:10. 3 Jó 14:4; Sl 51:5; Jo 3:6. 4 Ef 2:3.
5 Rm 7:18,19. 6 Ef 2:4,

ARTIGO 16 - ELEIÇÃO ETERNA POR DEUS

Cremos que Deus, quando o pecado do primeiro homem lançou Adão e toda a sua descendência na perdição [1] mostrou-se como Ele é, a saber: misericordioso e justo. Misericordioso, porque Ele livra e salva da perdição aqueles que Ele em seu eterno e imutável conselho [2], somente pela bondade, elegeu [3] em Jesus Cristo nosso Senhor [4], sem levar em consideração obra alguma deles [5]. Justo, porque Ele deixa os demais na queda e perdição, em que eles mesmos se lançaram [6].
1 Rm 3:12. 2 Jo 6:37,44; Jo 10:29: Jo 17: 2,9,12; Jo 18:9. 3 1Sm 12:22;      Sl 65:4; At 13: 48; Rm 9:16; Rm 11:5; Tt 1:1. 4 Jo 15:16,19; Rm 8:29;        Ef 1:4,5. 5 Ml 1:2,3; Rm 9:11-13; 2Tm 1:9; Tt 3:4,5. 6 Rm 9:19-22; 1Pe 2:8.

ARTIGO 17 - O SALVADOR, PROMETIDO POR DEUS
Cremos que nosso bom Deus, vendo que o homem havia se lançado assim na morte corporal e espiritual e se havia feito totalmente miserável, foi pessoalmente em busca do homem, quando este, tremendo, fugia de sua presença [1]. Assim Deus mostrou sua maravilhosa sabedoria e bondade. Ele confortou o homem com a promessa de lhe dar seu Filho, que nasceria de uma mulher (Gálatas 4:4) a fim de esmagar a cabeça da serpente (Gênesis 3:15) e de tornar feliz o homem [2].

1 Gn 3:9. 2 Gn 22:18; Is 7:14; Jo 1:14; Jo 5:46; Jo 7:42; At 13:32; Rm 1:2,3; Gl 3:16; 2Tm 2:8; Hb 7:14.
ARTIGO 18 - A ENCARNAÇÃO DO FILHO DE DEUS
Confessamos, então, que Deus cumpriu a promessa, feita aos pais antigos pela boca dos seus santos profetas [l], quando enviou ao mundo seu próprio, único e eterno Filho, no tempo determinado por Ele [2]. Este assumiu a forma de servo e tornou-se semelhante aos homens (Filipenses 2:7), tomando realmente a verdadeira natureza humana com todas as suas fraquezas [3], mas sem o pecado [4]. Foi concebido no ventre da bem- aventurada virgem Maria, pelo poder do Espírito Santo, sem intervenção do homem [5]. E não somente tomou a natureza humana quanto ao corpo, mas também a verdadeira alma humana, para que fosse um verdadeiro homem. Pois, estando perdidos tanto a alma como o corpo, Ele devia tomar ambos para salvá-los. Por isso, confessamos (contra a heresia dos anabatistas que negam que Cristo tomou a natureza de sua mãe), que Cristo participou do sangue e da carne dos filhos de Deus (Hebreus 2:14); que Ele, "segundo a carne, veio da descendência de Davi" (Romanos 1:3); fruto do ventre de Maria (Lucas 1:42); nascido de uma mulher (Gálatas 4:4); rebento de Davi (Jeremias 33:15; Atos 2:30); renovo da raiz de Jessé (Isaías 11:1); brotado de Judá (Hebreus 7:14); descendente dos judeus, segundo a carne (Romanos 9:5); da descendência de Abraão [6], tornando-se semelhante aos irmãos em tudo, mas sem pecado (Hebreus 2:16,17; 4:15).  Assim Ele é, na verdade, nosso Emanuel, isto é: Deus conosco (Mateus 1:23).

1 Gn 26:4; 2Sm 7:12-16; Sl 132:11; Lc 1:55; At 13:23. 2 Gl 4:4. 3 1Tm 2:5; 1Tm 3:16; Hb 2:14. 4 2Co 5:21; Hb 7:26; 1Pe 2:22. 5 Mt 1:18; Lc 1:35.
6 Gl 3:16.

ARTIGO 19 - AS DUAS NATUREZAS DE CRISTO

Cremos que, por esta concepção, a pessoa do Filho está unida e conjugada inseparavelmente, com a natureza humana [1]. Não há, então, dois filhos de Deus, nem duas pessoas, mas duas naturezas, unidas numa só pessoa, mantendo cada uma delas suas características distintas.
 A natureza divina permaneceu não criada, sem início, nem fim de vida (Hebreus 7:3), preenchendo céu e terra [2]. Do mesmo modo a natureza humane não perdeu suas características, mas permaneceu criatura, tendo início, sendo uma natureza finita e mantendo tudo o que é próprio de um verdadeiro corpo [3]. E ainda que, por meio da sua ressurreição, Cristo tenha concedido imortalidade a sua natureza humana, Ele não transformou a realidade da mesma [4], pois nossa salvação e ressurreição dependem também da realidade de seu corpo [5].
Estas duas naturezas, porém, estão unidas numa só pessoa de tal maneira que nem por sua morte foram separadas. Ao morrer, Ele entregou, então, nas mãos de seu Pai um verdadeiro Espírito humano, que saiu de seu corpo [6], entretanto, a natureza divina sempre continuou unida a humana, mesmo quando Ele jazia no sepulcro [7]. A divindade não cessou de estar nEle, assim como estava nEle quando era criança, embora, por algum tempo, não se tivesse manifestado. Por isso, confessamos que Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem: verdadeiro Deus a fim de vencer a morte por seu poder; verdadeiro homem a fim de morrer por nós na fraqueza de sua carne.

1 Jo 1:14; Jo 10:30; Rm 9:5; Fp 2:6,7. 2 Mt 28:20. 3 1Tm 2:5.       
4 Mt 26:11; Lc 24:39; Jo 20:25; At 1:3,11; At 3:21; Hb 2:9.            
5 1Co 15:21; Fp 3:21. 6 Mt 27:50. 7 Rm 1:4.

ARTIGO 20 - A JUSTIÇA E A MISERICÓRDIA DE DEUS EM CRISTO
Cremos que Deus, perfeitamente misericordioso e justo, enviou seu Filho para assumir a natureza humane em que foi cometida a desobediência [l]. Nesta natureza, Ele satisfez a Deus, carregando o castigo pelos pecados, através de seu mui amargo sofrimento e morte [2]. Assim Deus provou sua justiça sobre seu Filho, quando carregou sobre Ele nossos pecados [3] e derramou sua bondade e misericórdia sobre nós, culpados e dignos da condenação. Por amor perfeitíssimo, Ele entregou seu Filho a morte, por nós, e O ressuscitou para nossa justificação [4], a fim de que, por Ele, tivéssemos a imortalidade e a vida eterna.

1 Rm 8:3. 2 Hb 2:14. 3 Rm 3:25,26; Rm 8:32. 4 Rm 4:25.

ARTIGO 21- A SATISFAÇÃO POR CRISTO
Cremos que Jesus Cristo é um eterno Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, o que Deus confirmou por juramento [l]. Perante seu Pai e para apaziguar-lhe a ira, Ele se apresentou em nosso nome, por satisfação própria [2], sacrificando-se a si mesmo e derramando seu precioso sangue, para purificação dos nossos pecados [3], conforme os profetas predisseram [4.] Pois, está escrito que "o castigo que nos traz a paz estava sobre " o Filho de Deus e que "pelas suas pisaduras fomos sarados" [5]; "como cordeiro foi levado ao matadouro"; "foi contado com os transgressores" [6] (Isaías 53: 5,7,12).Como criminoso foi condenado por Pôncio Pilatos embora este o tivesse declarado inocente [7]. Assim, então, restituiu o que não tinha furtado (Salmo 69:4), e sofreu, "o justo pelos injustos" [8] (l Pedro 3:18), tanto no seu corpo como na sua alma [9], de maneira que sentiu o terrível castigo que os nossos pecados mereceram. Assim "o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas 22:44). Ele "clamou em alta voz: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46) e padeceu tudo para a remissão dos nossos pecados. Por isso, dizemos, com razão, junto com Paulo que não sabemos outra coisa, "senão Jesus Cristo, e este crucificado" (1Corlntios 2:2). Consideramos "tudo como perda por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus", nosso Senhor (Filipenses 3:8). Encontramos toda consolação em seus ferimentos e não precisamos buscar ou inventar qualquer outro meio para nos reconciliarmos com Deus, "porque com uma única oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados, 10 (Hebreus 10:14). Por isso, o anjo de Deus O chamou Jesus, quer dizer: Salvador, porque ia salvar "o seu povo dos pecados deles "11 (Mateus 1:21)

1 Sl 110:4; Hb 7:15-17. 2 Rm 4:25; Rm 5: 8-9; Rm 8:32; Gl 3:13; Cl 2:14;
Hb 2:9,17; Hb 9:11-15. 3 At 2:23; Fp 2:8; 1Tm 1:15; Hb 9:22; 1Pe 1:18,19; 
1Jo 1:7; Ap 7:14. 4 Lc 24:25-27; Rm 3:21; 1Co 15:3. 5 1Pe 2:24. 6 Mc 15:28 
7 Jo 18:38. 8 Rm 5:6. 9 Sl 22:15. 10 Hb 7:26-28; Hb 9:24-28. 11 Lc 1:31; 
At 4:12.

ARTIGO 22 - A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ EM CRISTO
Cremos que, para obtermos verdadeiro conhecimento desse grande mistério, o Espírito Santo acende, em nosso coração, verdadeira fé [1]. Esta fé abraça Jesus Cristo com todos os seus méritos, apropria-se dEle e nada mais busca fora dEle [2]. Pois das duas, uma: ou não se ache em Jesus Cristo tudo o que é necessário para nossa salvação, ou tudo se acha nEle, e, então, aquele que possui Jesus Cristo pela fé, tem a salvação completa [3]. Dizer, porém que Cristo não é suficiente, mas que, além dEle, algo mais é necessário, significaria uma blasfêmia horrível. Pois Cristo seria apenas um salvador incompleto. Por isso, dizemos, com razão, junto com o apóstolo Paulo, que somos justificados somente pela fé, ou pela fé sem as obras [4] (Romanos 3:28). Entretanto, não entendemos isto como se a própria fé nos justificasse [5], mas ela é somente o instrumento com que abraçamos Cristo, nossa justiça. Mas Jesus Cristo, atribuindo-nos todos os seus méritos e tantas obras santas, que fez por nós e em nosso 1ugar, é nossa justiça [6]. E a fé é o instrumento que nos mantém com Ele na comunhão de todos os seus benefícios. Estes, uma vez dados a nós, são mais que suficientes para nos absolver dos pecados.

1 Jo 16:14; 1Co 2:12; Ef 1:17,18. 2 Jo 14:6; At 4:12; Gl 2:21. 3 Sl 32:1; Mt 1:21; Lc 1: 77; At 13:38,39; Rm 8:1. 4 Rm 3:19-4:8; Rm 10:4-11;     Gl 2:16; Fp 3:9; Tt 3:5. 5 1Co 4:7. 6 Jr 23:6; Mt 20:28; Rm 8:33; 1Co 1:30,31; 2Co 5:21; 1Jo 4:10.

ARTIGO 23 - NOSSA JUSTIÇA PERANTE DEUS EM CRISTO
Cremos que nossa verdadeira felicidade consiste no perdão dos pecados, por causa de Jesus Cristo, e que isto significa para nós a justiça perante Deus [l]. Assim nos ensinam Davi e Paulo, declarando: "Bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras" (Romanos 4:6; Salmo 32:2). E o mesmo apóstolo diz que somos "justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus" [2] (Romanos 3: 24). Portanto, perseveramos neste fundamento, dando toda a glória a Deus [3], humilhando-nos e reconhecendo que nós, homens, somos maus. Não nos vangloriamos de nenhuma maneira, de nós mesmos ou de nossos méritos [4]. Somente nos apoiamos e repousamos na obediência do Cristo crucificado [5]. Esta obediência é nossa se cremos nEle [6]. Ela é suficiente para cobrir todas as nossas iniqüidades. Ela liberta nossa consciência de temor, perplexidade e espanto e, assim, nos dá ousadia de aproximarmo-nos de Deus, sem fazermos como nosso primeiro pai Adão que, tremendo, quis cobrir-se com folhas de figueira [7]. E, certamente, se tivéssemos que comparecer perante Deus, apoiando-nos, por pouco que fosse, em nós mesmos ou em qualquer outra criatura - ai de nós -, pereceríamos [8]. Por isso, cada um deve dizer com Davi: "Ó Senhor, não entres em juízo com o teu servo, porque a tua vista não há justo nenhum vivente" (Salmo 143:2). 


1 1Jo 2:1. 2 2Co 5:18,19; Ef 2:8; 1Tm 2:6. 3 Sl 115:1; Ap 7:10-12.
4 1Co 4:4; Tg 2:10. 5 At 4:12; Hb 10:20. 6 Rm 4:23-25. 7 Gn 3:7; Sf 3:11;
Hb 4:16; 1Jo 4:17-19. 8 Lc 16:. 15; Fp 3:4-9.

ARTIGO 24 - A SANTIFICAÇÃO
Cremos que a verdadeira fé, tendo sido acesa no homem pelo ouvir da Palavra de Deus e pela obra do Espírito Santo [l], regenera o homem e o torna um homem novo [2]. Esta verdadeira fé o faz viver na vida nova e o liberta da escravidão do pecado [3]. Por isso, é impossível que esta fé justificadora leve os homens a se descuidarem da vida piedosa e santa [4]. Pelo contrário, sem esta fé jamais farão alguma coisa por amor a Deus [5], mas somente por amor a si mesmos e por medo de serem condenados. É impossível, portanto, que esta fé permaneça no homem sem frutos. Pois, não falamos de uma fé vã, mas da fé, de que a Escritura diz que "atua pelo amor" (Gálatas 5:6). Ela move o homem a exercitar-se nas obras que Deus mandou na sua Palavra. Estas obras se procedem da boa raiz da fé; são boas e agradáveis a Deus, porque todas elas são santificadas por sua graça. Entretanto, elas não são levadas em conta para nos justificar. Porque é pela fé em Cristo que somos justificados, mesmo antes de fazermos boas obras [6]. De outro modo, estas obras não poderiam ser boas, assim como o fruto da árvore não pode ser bom, se a árvore não for boa [7]. Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos algo. Pois, que mérito poderíamos ter?
Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras que fazemos e não Ele a nós [8]. Pois, "Deus e quem efetua em" nós "tanto o querer como o realizar, segundo sua boa vontade" (Filipenses 2:13). Então, levemos a sério o que está escrito: "Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer" (Lucas 17:10). Contudo, não queremos negar que Deus recompensa as boas obras [9]; mas, por sua graça, Ele coroa seus próprios dons. E, em seguida, mesmo que façamos boas obras, nelas não fundamentamos nossa salvação. Porque, por sermos pecadores, não podemos fazer obra alguma que não esteja contaminada e não mereça ser castigada [10]. E, ainda que pudéssemos produzir uma só boa obra, a lembrança de um só pecado bastaria para torná-la rejeitável perante Deus [11]. Assim, sempre duvidaríamos levados de um lado para o outro, sem certeza alguma, e nossa pobre consciência estaria sempre aflita, a não ser que se apoiasse no mérito do sofrimento e da morte de nosso Salvador [12].

1 At 16:14; Rm 10:17; 1Co 12:3. 2 Ez 36:26, 27; Jo 1:12,13; Jo 3:5; Ef 2:4-6; Tt 3:5; 1Pe 1:23. 3 Jo 5:24; Jo 8:36; Rm 6:4-6; 1Jo 3:9. 4 Gl 5:22; Tt 2:12.  
5 Jo 15:5; Rm 14: 23; 1Tm 1:5; Hb 11:4,6. 6 Rm 4:5. 7 Mt 7:17. 8 1Co 1:30: 1Co 4:7; Ef 2:10. 9 Rm 2:6,7; 1Co 3:14; 2Jo:8; Ap 2:23. 10 Rm 7:21.
11 Tg 2:10. 12 Hc 2:4; Mt 11:28; Rm 10:11.

ARTIGO 25 CRISTO, O CUMPRIMENTO DA LEI
Cremos que as cerimônias e figuras da lei terminaram com a vinda de Cristo e que, assim, todas as sombras chegaram ao fim [l]. Por isso, os cristãos não devem mais usá-las. Contudo, para nós, sua verdade e substância permanecem em Cristo Jesus, em quem têm seu cumprimento [2].
Entretanto, ainda usamos os testemunhos da Lei e dos Profetas para confirmarmo-nos no Evangelho e, também, para regularmos nossa vida em toda honestidade, para a glória de Deus, conforme sua vontade [3].
1 Mt 27:51; Rm 10:4; Hb 9:9,10. 2 Mt 5:7; Gl 3:24; Cl 2:17. 3 Rm 13:8-10; Rm 15:4; 2Pe 1:19; 2Pe 3:2.

ARTIGO 26 - CRISTO, NOSSO ÚNICO ADVOGADO

Cremos que nenhum acesso temos a Deus, senão pelo único Mediador [l] e Advogado Jesus Cristo, o Justo [2]. Porque Ele se tornou homem e uniu as naturezas divina e humana, para que nós, homens, tivéssemos acesso à majestade divina [3]. De outro modo, nenhum acesso teríamos. Mas este Mediador que o Pai constituiu entre Ele e nós, não nos deve assustar por sua grandeza, a ponto de fazer-nos procurar um outro, conforme nossa própria vontade. Porque não há ninguém, nem no céu, nem na terra, entre as criaturas, que nos ame mais que Jesus Cristo [4]. "Pois ele, subsistindo em forma de Deus ... a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens" por nós, "em todas as coisas ... semelhante aos irmãos" (Filipenses 2:6,7; Hebreus 2:17).
Agora, se tivéssemos que buscar outro mediador que nos fosse favorável, quem poderíamos encontrar que mais nos amasse senão Ele que entregou sua vida por nós, sendo nós ainda inimigos (Romanos 5:8,10)? E se tivéssemos que buscar alguém que tivesse poder e estima, quem os teria tanto quanto Ele que está sentado a direita de seu Pai [5], e que tem "toda a autoridade... no céu e na terra" (Mateus 28:18)? E quem será ouvido antes do que o próprio bem-amado Filho de Deus [6]?
Foi, então, somente falta de confiança que levou os homens ao costume de desonrar os santos em vez de honrá-los. Pois fazem o que estes santos jamais fizeram ou desejaram mas sempre rejeitaram conforme era seu dever [7], como mostram seus escritos.
Aqui não se deve alegar que não somos dignos; pois não apresentamos as orações a Deus em razão de nossa dignidade, mas somente pela excelência e dignidade de nosso Senhor Jesus Cristo [8], cuja justiça é a nossa, mediante a fé [9]. Por isso, a Escritura nos diz, querendo tirar de nós esse tolo receio, ou antes, essa falta de confiança, que Jesus Cristo tornou-se "em todas as coisas... semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus, e para fazer propiciação pelos pecados do povo. Pois naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados" (Hebreus 2:17,18). E a Escritura diz também, para animar-nos ainda mais a ir para Ele: "Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que entrou nos céus, conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, a nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna" [10] (Hebreus 4:14-16). A Escritura diz ainda: "Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos santos, pelo sangue de Jesus... aproximemo-nos... em plena certeza de fé etc." (Hebreus 10:19-22). E também: Cristo "tem o seu sacerdócio imutável. Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles "[11] (Hebreus 7:24,25).
Então, do que precisamos mais, visto que o próprio Cristo declara: 
"Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6)? Por que buscaríamos outro advogado visto que agradou a Deus nos dar seu Filho como Advogado? Não O abandonemos para buscar outro que nunca encontraremos. 
Pois, quando Deus O deu a nós, bem sabia que éramos pecadores. Por isso, conforme o mandamento de Cristo, invocamos o Pai celestial mediante Cristo, nosso único Mediador [12], como nos foi ensinado na oração do Senhor [13]. E temos a certeza de que o Pai nos concederá tudo o que Lhe pedirmos em nome de Cristo [14] (João 16:23).

1 1Tm 2 5. 2 1Jo 2:1. 3 Ef 3:12. 4 Mt 11: 28; Jo 15:13; Ef 3:19; 1Jo 4:10. 
5 Hb 1:3; Hb 8:1. 6 Mt 3:17; Jo 11:42; Ef 1:6. 7 At 10:26; At 14:15.
8 Jr 17:5,7; At 4:12. 9 1Co 1:30. 10 Jo 10:9; Ef 2:18; Hb 9:24. 11 Rm 8:34. 12 Hb 13:15. 13 Mt 6:9-13; Lc 11:2-4. 14 Jo 14:13.

ARTIGO 27 - A IGREJA CATÓLICA OU UNIVERSAL
Cremos e confessamos uma só igreja católica ou universal [1]. Ela é uma santa congregação e assembléia [2] dos verdadeiros crentes em Cristo, que esperam toda a sua salvação de Jesus Cristo [3], lavados pelo sangue dEle, santificados e selados pelo Espírito Santo [4].
Esta igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim. Pois, Cristo é um Rei eterno, que não pode estar sem súditos [5]. Esta santa igreja é mantida por Deus contra o furor do mundo inteiro [6], mesmo que ela, às vezes, por algum tempo, seja muito pequena e na opinião dos homens, quase desaparecida [7]. Assim, Deus guardou para si, na perigosa época de Acabe, sete mil homens, que não tinham dobrado os joelhos a Baal [8].
Esta santa igreja também não está situada, fixada ou limitada em certo lugar, ou ligada a certas pessoas, mas ela está espalhada e dispersa pelo mundo inteiro [9]. Contudo, está integrada e unida, de coração e vontade, no mesmo Espírito, pelo poder da fé [10].

1- Gn 22:18; Is 49:6; Ef 2:17-19. 2 - Sl 111:1; Jo 10:14,16; Ef 4:3-6;  
Hb 12:22, 23. 3 - Jl 2: 32; At 2:21. 4 - Ef 1:13; Ef 4:30. 5 - 2Sm 7:16;
 Sl 89:36; Sl 110:4; Mt 28:18,20; Lc 1:32. 6 - Sl 46:5; Mt 16:18. 7 - Is 1:9; 
1Pe 3:20; Ap 11:7. 8 - 1Rs 19:18; Rm 11:4. 9 - Mt 23:8; Jo 4:21-23; 
Rm 10:12,13. 10 Sl 119:63; At 4:32; Ef 4:4.

ARTIGO 28 - O DEVER DE JUNTAR-SE À IGREJA
Esta santa assembléia é a congregação daqueles que são salvos, e fora dela não há salvação [1]. Cremos, então, que ninguém, qualquer que seja a posição ou qualidade, deve viver afastado dela e contentar-se com sua própria pessoa. Mas cada um deve se juntar e se reunir a ela [2], mantendo a unidade da igreja, submetendo-se a sua instrução e disciplina [3], curvando-se diante do jugo de Jesus Cristo [4] e servindo para a edificação dos irmãos [5], conforme os dons que Deus concedeu a todos, como membros do mesmo corpo [6].
Para observar melhor tudo isto, o dever de todos os fiéis é, conforme a Palavra de Deus, separar-se daqueles que não pertencem a igreja [7], e juntar-se a esta assembléia [8] em todo lugar onde Deus a tenha estabelecido. Este dever deve ser cumprido, mesmo que os governos e as leis das autoridades o contrariem e mesmo que a morte ou a pena corporal sejam a consequência disto [9]. Por isso, todos os que se separam desta igreja ou não se juntam a ela, contrariam a ordem de Deus.

1 Mt 16:18,19; At 2:47; Gl 4:26; Ef 5:25-27; Hb 2:11,12; Hb 12:23. 2 2Cr 30:8; Jo 17:21; Cl 3:15. 3 Hb 13:17. 4 Mt 11:28-30. 5 Ef 4:12. 6 1Co 12:7,27; Ef 4:16. 7 Nm 16:23-26; Is 52:11,12; At 2:40; Rm 16:17; Ap 18:4. 8 Sl 122:1; Is 2:3; Hb 10:25. 9 At 4:19,20.

ARTIGO 29 - AS MARCAS DA VERDADEIRA IGREJA, DE SEUS MEMBROS E DA FALSA IGREJA
Cremos que se deve discernir diligentemente e com muito cuidado, pela Palavra de Deus, qual é a verdadeira igreja, visto que todas as seitas, que atualmente existem no mundo, se chamam igreja, mas sem razão [1]. Não falamos aqui dos hipócritas que, na igreja, se acham entre os sinceros fiéis; contudo, não pertencem à igreja, embora sejam membros dela [2]. Mas queremos dizer que se deve distinguir o corpo e a comunhão da verdadeira igreja, de todas as seitas que se dizem igreja.
As marcas para conhecer a verdadeira igreja são estas: ela mantém a pura pregação do Evangelho [3], a pura administração dos sacramentos [4] como Cristo os instituiu, e o exercício da disciplina eclesiástica para castigar os pecados [5]. Em resumo: ela se orienta segundo a pura Palavra de Deus [6], rejeitando todo o contrário a esta Palavra [7] e reconhecendo Jesus Cristo como o único Cabeça [8]. Assim, com certeza, se pode conhecer a verdadeira igreja; e a ninguém convém separar-se dela.
Aqueles que pertencem à igreja podem ser conhecidos pelas marcas dos cristãos, a saber: pela fé [9] e pelo fato de que eles, tendo aceitado Jesus Cristo como único Salvador, fogem do pecado e seguem a justiça [10], amando Deus e seu próximo [11], não se desviando para a direita nem para a esquerda e crucificando a carne, com as obras dela [12]. Isto não quer dizer, porém , que eles não têm ainda grande fraqueza, mas, pelo Espírito, a combatem, em todos os dias de sua vida [13], e sempre recorrem ao sangue, à morte, ao sofrimento e à obediência do Senhor Jesus. NEle eles têm a remissão dos pecados, pela fé [14].
Quanto à falsa igreja, ela atribui mais poder e autoridade a si mesma e a seus regulamentos do que à Palavra de Deus e não quer submeter-se ao jugo de Cristo [15]. Ela não administra os sacramentos como Cristo ordenou em sua Palavra, mas acrescenta ou elimina o que lhe convém. Ela se baseia mais nos homens que em Cristo. Ela persegue aqueles que vivem de maneira santa, conforme a Palavra de Deus, e que lhe repreendem os pecados, a avareza e a idolatria [16].
É fácil conhecer estas duas igrejas e distingui-las uma da outra.

1 Ap 2:9. 2 Rm 9:6. 3 Gl 1:8; 1Tm 3:15. 4 At 19:3-5; 1Co 11:20-29. 5 Mt 18:15-17; 1Co 5:4,5,13; 2Ts 3:6,14; Tt 3:10. 6 Jo 8:47; Jo 17:20; At 17:11;  Ef 2:20; Cl 1:23; 1Tm 6:3. 7 1Ts 5:21; lTm 6:20; Ap 2:6. 8 Jo 10:14; Ef 5:23; Cl 1:18. 9 Jo 1:12; 1Jo 4:2. 10 Rm 6:2; Fp 3:12. 11 1Jo 4:19-21. 12 Gl 5:24. 13 Rm 7:15; G1 5:17. 14 Rm 7:24,25; 1Jo 1: 7-9. 15 At 4:17,18; 2Tm 4:3,4; 2Jo :9. 16 Jo 16:2.

ARTIGO 30 - O GOVERNO DA IGREJA
Cremos que esta verdadeira igreja deve ser governada conforme a ordem espiritual, que nosso Senhor nos ensinou na sua Palavra [1]. 
Deve haver ministros ou pastores para pregarem a Palavra de Deus e administrarem os sacramentos [2]; deve haver também presbíteros [3] e diáconos [4] para formarem, com os pastores, o conselho da igreja [5]. Assim, eles devem manter a verdadeira religião e fazer com que a verdadeira doutrina seja propagada, que os transgressores sejam castigados e contidos, de forma espiritual, e que os pobres e os aflitos recebam ajuda e consolação, conforme necessitam [6].
Desta maneira, tudo procederá, na igreja, em boa ordem, quando forem eleitas pessoas fiéis [7], conforme a regra do apóstolo Paulo na carta a Timóteo [8].

1 At 20:28; Ef 4:11,12; 1Tm 3:15; Hb 13:20, 21. 2 Lc 1:2; Lc 10:16; Jo 20:23; Rm 10:14; 1Co 4:1; 2Co 5:19,20; 2Tm 4:2. 3 At 14:23; Tt 1:5. 4 1Tm 3:8-10. 5 Fp 1:1; 1Tm 4:14. 6 At 6:1-4; Tt 1:7-9. 7 1Co 4:2. 8 1Tm 3.

ARTIGO 31 - OS OFÍCIOS NA IGREJA
Cremos que os ministros da palavra de Deus, os presbíteros e os diáconos devem ser escolhidos para seus ofícios [1] mediante eleição legítima pela igreja, sob invocação do nome de Deus e em boa ordem, conforme a palavra de Deus ensina.
Por isso, cada membro deve cuidar para não se apoderar do ofício por meios ilícitos, mas deve esperar a hora em que é chamado por Deus, a fim de ter, assim, a certeza de que sua vocação vem do Senhor [2].
Quanto aos ministros da Palavra, eles têm, onde quer que estejam, igual poder e autoridade, porque todos são servos de Jesus Cristo [3], o único Bispo universal e o único Cabeça da igreja [4].
Além disto, a santa ordem de Deus não pode ser violada ou desprezada. Dizemos, portanto, que cada um deve ter respeito especial pelos ministros da Palavra e presbíteros da igreja, em razão do trabalho que realizam [5]. Cada um deve viver em paz com eles, tanto quanto possível, sem murmuração, contenda ou discórdia.

1 At 1:23,24; At 6:2,3. 2 At 13:2; 1Co 12: 28; 1Tm 4:14; 1Tm 5:22; Hb 5:4.  3 2Co 5:20; 1Pe 5:1-4. 4 Mt 23:8,10; Ef 1:22; Ef 5:23. 5 1Ts 5:12,13; 1Tm 5:17; Hb 13:17.

ARTIGO 32 - A ORDEM E A DISCIPLINA DA IGREJA
Cremos que os que governam a igreja devem cuidar para não se desviarem do que Cristo, nosso único Mestre, nos ordenou [1]; embora seja útil e bom que, entre eles, se estabeleça e conserve determinada ordem para manter o corpo da igreja.
Por isso, rejeitamos todas as invenções humanas e todas as leis que se queiram introduzir para servir a Deus, mas que venham, de qualquer maneira, comprometer e constranger a consciência [2]. Aceitamos, então, somente o que serve para promover e guardar a concórdia e a unidade e para manter tudo na obediência a Deus [3].
Esta ordem (caso desobedecida exige a excomunhão), feita conforme a Palavra de Deus, com todas as suas conseqüências [4].

1 1Tm 3:15. 2 Is 29:13; Mt 15:9; Gl 5:1. 3 1Co 14:33. 4 Mt 16:19; Mt 18:15-18; Rm 16:17; 1Co 5; 1Tm 1:20.

ARTIGO 33 OS SACRAMENTOS
Cremos que nosso bom Deus, atento à nossa ignorância e fraqueza, instituiu os sacramentos, a fim de nos selar suas promessas e nos conceder penhores de sua benevolência e graça para conosco e, também, alimentar e sustentar nossa fé [1]. Ele acrescentou os sacramentos à palavra do Evangelho [2] para melhor apresentar aos nossos sentidos tanto o que Ele nos declara por sua Palavra, como o que Ele opera em nossos corações.
Assim, Ele confirma a salvação de que nos fez participar. Pois os sacramentos são visíveis sinais e selos de uma realidade interna e invisível. Através deles, Deus opera em nós, pelo poder do Espírito Santo [3]. Por isso, os sinais não são vãos nem vazios para nos enganar, porque Jesus Cristo é a verdade deles e, sem Ele, nada seriam.
Além disto, nos contentamos com o número dos sacramentos que Cristo, nosso Mestre, instituiu e que não são mais de dois: o sacramento do batismo [4] e o da santa ceia de Jesus Cristo [5].

1 Gn 17:9-14; Êx 12; Rm 4:11. 2 Mt 28:19; Ef 5:26. 3 Rm 2:28,29; 
Cl 2:11,12;  4 Mt 28:19. 5 Mt 26:26-28; 1Co 11:23-26.

ARTIGO 34 - O SANTO BATISMO
Cremos e confessamos que Jesus Cristo, o qual é "o fim da lei" (Romanos 10:4), derramando seu sangue, acabou com qualquer outro derramamento de sangue, que se possa ou queira realizar para reconciliação dos pecados. Tendo abolido a circuncisão, que se praticava com sangue, Ele instituiu, em lugar dela, o sacramento do batismo [1].
Pelo batismo somos recebidos na igreja de Deus e separados de todos os outros povos e outras religiões para pertencermos totalmente a Ele [2], tendo sua marca e estandarte. O batismo nos serve para testemunhar que Ele eternamente será nosso Deus e misericordioso Pai.
Por isso, Cristo mandou batizar todos os seus "em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19), somente com água. Desta forma Ele nos dá a entender que assim como a água tira a impureza do corpo, quando derramada em nós, e também assim como a água é vista no corpo de quem recebe o batismo, assim o sangue de Cristo, através do Espírito Santo [3], lava a alma, purificando-a dos pecados [4], e faz com que nós, filhos da ira nasçamos de novo para sermos filhos de Deus [5]. Porém, não somos purificados de nossos pecados pela água do batismo [6], mas pela aspersão com o precioso sangue do Filho de Deus [7]. Ele é nosso Mar Vermelho [8], que devemos atravessar para escapar da tirania de Faraó - que é o diabo - e para entrar na Canaã espiritual.
Os ministros, por sua parte, nos administram somente o sacramento, que é visível, mas nosso Senhor nos concede o que o sacramento significa, a saber: os dons invisíveis da graça. Ele lava nossa alma, purificando-a e limpando-a de todas as impurezas e iniqüidades [9]. Ele renova nosso coração, enchendo-o de toda a consolação, e nos dá a verdadeira certeza de sua bondade paternal. Ele nos reveste do novo homem, despindo-nos do velho com todas as suas obras [10]. Por isso, cremos que quem quer entrar na vida eterna, deve ser batizado só uma vez [11]. O batismo não pode ser repetido, porque também não podemos nascer duas vezes e porque este batismo tem utilidade não somente no momento de recebê-lo, mas durante a vida inteira.
Rejeitamos, portanto, o erro dos anabatistas, que não se contentam com o batismo que uma vez receberam e que, além disto, condenam o batismo dos filhos pequenos dos crentes. Nós cremos, porém, que eles devem ser batizados e, com o sinal da aliança, devem ser selados, assim como as crianças em Israel eram circuncidadas com base nas mesmas promessas que foram feitas a nossos filhos [12]. Cristo, de fato, derramou seu sangue para lavar, igualmente, as crianças dos fiéis e os adultos [13]. Por isso, elas devem receber o sinal e o sacramento da obra que Cristo fez para elas, como o Senhor, outrora, na lei, determinava que as crianças participassem, pouco depois do seu nascimento, do sacramento do sofrimento e da morte de Cristo, através da oferta de um cordeiro [14], que era um sacramento de Jesus Cristo.
Além disto, o batismo tem, para nossos filhos, o mesmo efeito que a circuncisão tinha para o povo judeu. É por esta razão que o apóstolo Paulo chama ao batismo: "a circuncisão de Cristo" (Colossenses 2:11).

1 - Cl 2:11. 2 - Êx 12:48; 1Pe 2:9. 3 - Mt 3:11; 1Co 12:13. 4 - At 22:16; 
Hb 9:14; 1Jo 1:7; Ap 1:5b. 5 - Tt 3:5. 6 - 1Pe 3:21. 7 - Rm 6:3; 1Pe 1:2; 
1Pe 2:24. 8 - 1Co 10:1-4. 9 - 1Co 6:11: Ef 5:26. 10 - Rm 6:4; Gl 3:27.
11 - Mt 28:19; Ef 4:5. 12 Gn 17: 10-12; Mt 19:14; At 2:39. 13 1Co 7:14. 
14 Lv 12:6.

ARTIGO 35 - A SANTA CEIA
Cremos e confessamos que nosso Salvador Jesus Cristo ordenou e instituiu o sacramento da santa ceia [1], a fim de alimentar e sustentar aqueles que Ele já fez nascer de novo e incorporou à sua família, que é a sua igreja.
Agora, aqueles que nasceram de novo têm duas vidas diferentes [2]. Uma é corporal e temporária: eles a trouxeram de seu primeiro nascimento e todos os homens a tem. A outra é espiritual e celestial: ela lhes é dada no segundo nascimento que se realiza pela palavra do Evangelho [3], na comunhão com o corpo de Cristo. Esta vida apenas os eleitos de Deus possuem. Assim Deus ordenou para a manutenção da vida corporal e terrestre, pão comum, terrestre, que todos recebem como recebem a vida. Porém, a fim de manter a vida espiritual e celestial, que os crentes possuem, Ele lhes enviou um "pão vivo, que desceu do céu" (João 6:51) , isto é, Jesus Cristo [4]. Ele alimenta e mantém a vida espiritual dos crentes [5] quando é comido, quer dizer: aceito espiritualmente e recebido pela fé [6].
A fim de nos figurar este pão espiritual e celestial, Cristo ordenou um pão terrestre e visível como sacramento de seu corpo e o vinho como sacramento de seu sangue [7]. Com eles nos assegura: tão certo como recebemos o sacramento e o temos em nossas mãos e o comemos e bebemos com nossa boca, para manter nossa vida, tão certo recebemos em nossa alma pela fé [8] - que é a mão e a boca da nossa alma -, o verdadeiro corpo e o verdadeiro sangue de Cristo, nosso único Salvador, para manter nossa vida espiritual.
Agora, há certeza absoluta de que Jesus Cristo não nos ordenou seus sacramentos a toa. Então, Ele realiza em nós tudo o que nos apresenta por estes santos sinais, embora de maneira além da nossa compreensão, como também a ação do Espírito Santo é oculta e incompreensível [9].
Entretanto, não nos enganamos, dizendo que, o que comemos e bebemos, é o próprio corpo natural e o próprio sangue de Cristo. Porém, a forma pela qual os tomamos não é pela boca, mas, espiritual, pela fé. Desta maneira, Jesus Cristo permanece sentado a direita de Deus, seu Pai, no céu [10] e, contudo, Ele se comunica a nós pela fé. Nesta ceia festiva e espiritual, Cristo nos faz participar de si mesmo com todas as suas riquezas e dons e deixa-nos usufruir tanto de si mesmo como dos méritos de seu sofrimento e morte [11]. Ele alimenta, fortalece e consola nossa pobre alma desolada pelo comer de seu corpo, e a reanima e renova pelo beber de seu sangue.
Depois, embora os sacramentos estejam unidos com a realidade da qual são um sinal, nem todos recebem ambos [12]. O ímpio recebe, sim, o sacramento, para sua condenação, mas não a verdade do sacramento, como Judas e Simão, o Mago: ambos receberam o sacramento, mas não a Cristo que por este é figurado [13]. Porque somente os crentes participam dEle [14].
Finalmente, recebemos na congregação do povo de Deus [15] este santo sacramento com humildade e reverência. Assim comemoramos juntos, com ações de graça, a morte de Cristo, nosso Salvador, e fazemos confissão da nossa fé e da religião cristã [16]. Por isto, ninguém deve participar da ceia antes de ter-se examinado a si mesmo, da maneira certa, para, enquanto comer e beber, não comer e beber juízo para si (1ª Coríntios 11:28,29). Em resumo, somos movidos, pelo uso deste santo sacramento, a um ardente amor para com Deus e nosso próximo.
Por esta razão rejeitamos como profanação dos sacramentos todos os acréscimos e abomináveis invenções que o homem introduziu neles e misturou com eles. E declaramos que se deve contentar com a ordenação que Cristo e seus apóstolos nos ensinaram e falar sobre os sacramentos conforme eles falaram.

1 - Mt 26:26-28; Mc 14:22-24; Lc 22:19,20; 1Co 11:23-26. 2 - Jo 3:5,6.
3 - Jo 5:25. 4 - Jo 6:48-51. 5 - Jo 6:63; Jo 10:10b. 6 - Jo 6:40,47.
7 - Jo 6:55; 1Co 10:16. 8 - Ef 3:17. 9 - Jo 3:8.10 - Mc 16:19; At 3:21.
11 - Rm 8:32; 1Co 10:3,4. 12 - 1Co 2:14. 13 - Lc 22:21,22; At 8:13,21.
14 - Jo 3:36. 15 - At 2:42; At 20:7. 16 - At 2:46; 1Co 11:26.

ARTIGO 36 - O OFÍCIO DAS AUTORIDADES CIVIS
Cremos que nosso bom Deus, por causa da perversidade do gênero humano, constituiu reis, governos e autoridades [1]. Ele quer que o mundo seja governado por leis e códigos [2], para que a indisciplina dos homens seja contida e tudo ocorra entre eles em boa ordem [3]. Para este fim Ele forneceu às autoridades a espada para castigar os maus e proteger os bons (Romanos 13:4). Seu ofício não é apenas cuidar da ordem pública e zelar por ela, mas também proteger o santo ministério da igreja a fim de * promover o reino de Jesus Cristo e a pregação da Palavra do Evangelho em todo lugar [4], para que Deus seja honrado e servido por todos, como Ele ordena na sua Palavra. Depois, cada um, em qualquer posição que esteja, tem a obrigação de submeter-se às autoridades, pagar impostos, render-lhes honra e respeito, obedecer-lhes [5] em tudo o que não contraria a Palavra de Deus [6], e orar em favor delas para que Deus as guie em todos os seus caminhos, "para que vivamos vida tranqüila e mansa com toda piedade e respeito" (lTimóteo 2:2).
Neste assunto rejeitamos os anabatistas e outros revolucionários e em geral todos os que se opõem às autoridades e aos magistrados, e querem derrubar a ordem judicial [7], introduzindo a comunhão de bens, e que abalam os bons costumes que Deus estabeleceu entre as pessoas.

1 Pv 8:15; Dn 2:21; Jo 19:11; Rm 13:1. 2 Êx 18:20. 3 Dt 1:16; Dt 16:19;  
Jz 21:25; Sl 82; Jr 21:12; Jr 22:3; 1Pe 2:13,14. 4 Sl 2; Rm 13:4a; 1Tm 2:1-4. 5 Mt 17:27; Mt 22:21; Rm 13:7; Tt 3:1; 1Pe 2:17. 6 At 4:19; At 5:29.
7 2Pe 2:10; Jd :8.
* Originalmente o texto incluía aqui as seguintes palavras: 
"...impedir e exterminar toda idolatria e falso culto a Deus, destruir o reino do anticristo e ...".

ARTIGO 37 - O JUÍZO FINAL
Finalmente, cremos conforme a palavra de Deus que, quando chegar o momento determinado pelo Senhor [1] - o qual todas as criaturas desconhecem -, e o número dos eleitos estiver completo [2], nosso Senhor Jesus Cristo virá do céu, corporal e visivelmente [3], assim como subiu ao céu (Atos 1:11), com grande glória e majestade [4]. Ele se manifestará Juiz sobre vivos e mortos [5], enquanto porá em fogo e chamas este velho mundo para purificá-lo [6].
Naquele momento comparecerão perante este grande Juiz, pessoalmente, todas as pessoas que viveram neste mundo [7]: homens, mulheres e crianças, citados pela voz do arcanjo e pelo som da trombeta divina (1Tessalonicenses 4:16). Porque todos os mortos ressuscitarão da terra [8] e as almas serão reunidas aos seus próprios corpos em que viveram. E a respeito daqueles que ainda estiverem vivos: eles não morrerão como os outros, mas serão transformados num só momento. De corruptíveis se tornarão incorruptíveis [9]. Então, se abrirão os livros e os mortos serão julgados (Apocalipse 20:12), segundo o que tiverem feito neste mundo, seja o bem ou o mal [10] (2Coríntios 5:10). Sim, "de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta" (Mateus 12:36), mesmo que o mundo a considere apenas brincadeira e passatempo. Assim será trazido à luz diante de todos o que os homens praticaram às escondidas, inclusive sua hipocrisia.
Portanto, pensar neste juízo e realmente horrível e pavoroso para os homens maus e ímpios [11], mas muito desejável e consolador para os justos e eleitos. A salvação destes será totalmente completada e eles receberão os frutos de seu penoso labor [12]. Sua inocência será reconhecida por todos e eles presenciarão a vingança terrível de Deus contra os ímpios, que os tiranizaram, oprimiram e atormentaram neste mundo [13]. Os ímpios serão levados a reconhecer sua culpa pelo testemunho da própria consciência. Eles se tornarão imortais, mas somente para serem atormentados no "fogo eterno [14], preparado para o diabo e seus anjos " [15] (Mateus 25:41).
Os crentes e eleitos, porém, serão coroados com glória e honra. O Filho de Deus confessará seus nomes diante de Deus, seu Pai (Mateus 10:32), e seus anjos eleitos [16] e Deus "lhes enxugará dos olhos toda lagrima" [17] (Apocalipse 21:4). 
Assim ficará manifesto que a causa deles, que agora por muitos juízes e autoridades está sendo condenada como herética e ímpia, é a causa do Filho de Deus. E, como recompensa gratuita, o Senhor os fará possuir a glória que jamais poderia surgir no coração de um homem [18]. Por isso, esperamos este grande dia com grande anseio para usufruirmos plenamente das promessas de Deus em Jesus Cristo, nosso Senhor.

1 Mt 24:36; Mt 25:13; 1Ts 5:1,2. 2 Hb 11. 39,40; Ap 6:11. 3 Ap 1:7. 
4 Mt 24:30; Mt 25: 31. 5 Mt 25:31-46; 2Tm 4:1; 1Pe 4:5. 6 2Pe 3:10-13. 
7 Dt 7:9-11; Ap 20:12,13. 8 Dn 12: 2; Jo 5:28,29. 9 1Co 15:51,52; 
Fp 3:20,21. 10 Hb 9:27; Ap 22:12. 11 Mt 11:22; Mt 23: 33; Rm 2:5,6;
Hb 10:27; 2Pe 2:9; Jd :15; Ap 14:7a. 12 Lc 14:14; 2Ts 1:3-10; 1Jo 4:17. 
13 Ap 15:4; Ap 18:20. 14 Mt 13:41,42; Mc 9:48; Lc 16:23-28; Ap 21:8. 
15 Ap 20:10. 16 Ap 3:5. 17 Is 25:8; Ap 7:17. 18 Dn 12: 3; Mt 5:12;
Mt 13:43; 1Co 2:9; Ap 21:9-22:5.




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